“Mantenham a coluna flexível e a mente aberta.” Estou numa aula de Antigravity no Holmes Place Quinta da Fonte, com o próprio criador da modalidade, Christopher Harrison. Temos uma espécie de redes (os ‘hammocks’) à frente. É com estes ‘trapézios’ de tecido que se fazem vários exercícios, desde inversões até exercícios de ioga, ballet ou pilates. Aliás, também lhe chamam ioga aérea, mas é mais do que isso. Claro que não é para quem gosta de andar aos pulos a queimar calorias, mas para quem gosta de ‘centrar’ o corpo, aprender a usar os músculos, endireitar a coluna, libertar pressões, aprender a respirar.
“Não se assustem, mesmo os principiantes conseguem fazer a inversão”, garante Christopher. Uma inversão é um exercício em que ficamos penduradas de cabeça para baixo, seguras pelas pernas. Hmm. Não me assusto, mas só me abalanço a atirar-me toda para trás quando vejo que ninguém morreu. Agora estou pendurada e vejo tudo ao contrário. Boa.
“Catarina, ainda te vou ver a fazer um ‘vampiro’”. Não sei o que é, mas não me parece nada bem. Ok, é oficial: estou assustada. Bem, já que aqui estou, não posso dar parte de fraca e deixar ficar mal a classe. Então, lá vai o ‘vampiro’: meto-me toda na rede. Puxo um bocado de pano para cima dos pés. Dou a volta para trás. Estendo as pernas: estou a voar! Sou uma vampira!
É difícil? Não, é muito fácil. Aliás, é bastante mais fácil do que parece, e toda a gente na aula consegue fazer os movimentos todos.
É tão fácil que no dia seguinte nem acreditamos que nos dói as costas e os braços e os tornozelos. Ou seja, apesar do sossego, treinámos a sério.
Unir o corpo e o espírito
O inventor do Antigravity, Christopher Harrison, cresceu em Utah e era o filho que nenhuma mãe deseja ter: “Passava o tempo a saltar em cima da cama. Quando eu dizia que queria voar, a minha mãe, em vez de me pôr de castigo, respondia: “Está bem. Mas então tens de praticar”. Aos 17 anos, já era campeão de trampolim. Depois percebeu que havia grandes produções da Broadway que precisavam de acrobatas. Testou todos os limites. Aos 23 anos já tinha feito 8 operações aos joelhos. Estudou pilates, ioga e anatomia para voltar ao palco. Quando estava no Brasil, descobriu um recinto com redes. Começou a testar o que podia fazer com elas. Aperfeiçoou os ‘hammocks’ ao longo do tempo, e começou a perceber que podiam ser usados com muitas vantagens. “Uma simples ‘rede’ vai unir o corpo e o espírito. Você trabalha todo o dia sentada ao computador? Quando olhamos para um ecrã, corpo e espírito separam-se, e perdemos o contacto com a nossa voz interior.” O antigravity ajuda a restabelecer essa ligação: “As pessoas pensam que isto é circo. Mas a ausência de gravidade é benéfica: o cérebro é oxigenado, o corpo fica distendido, as hormonas da felicidade são ativadas.” Hoje, já montou a sua companhia, Antigravity Performance Company, coreografou os Olímpicos de Inverno, participou na Tomada de Posse de Obama, treinou Mariah Carey e Madonna. Mas diz que o que lhe dá mais prazer é mudar a vida dos outros