As portuguesas são fãs da pílula. É entre nós que existe uma das maiores taxas mundiais de utilização (65,9%, segundo dados de 2009) daquele que é o contracetivo mais popular e que já tem 55 anos de vida.
Mas este não é o único método que o seu médico pode receitar-lhe, apesar de grande parte das mulheres já entrarem no consultório do ginecologista ou do médico de família à procura dela. São muito menos as que procuram contracetivos de longa duração como os dispositivos intrauterino de cobre ou hormonal, com uma taxa de utilização de 8,8%, ou o implante hormonal. “Há barreiras à utilização por parte das utentes mas também dos profissionais de saúde, e não apenas em Portugal. A contraceção intrauterina, por exemplo, ainda tem muitos mitos associados a ela”, diz-nos Ana Rosa Costa, ginecologista obstetra e vice-presidente da Sociedade Portuguesa da Conceção.
Desfazer os mitos
“Muitos médicos e utentes achavam que o DIU poderia aumentar o risco de infertilidade, gravidez ectópica, infeções, doenças de transmissão sexual”, continua a ginecologista. “A nuliparidade (nunca ter tido filhos) era, até há alguns anos, uma das contraindicações para a sua colocação – achava-se que a mulher teria mais dificuldade e sentiria mais dor ao colocá-lo, pelo seu útero ser mais pequeno. Na experiência, não tenho verificado isso. Agora existe um DIU mais pequeno, reformulado e testado em jovens entre os 12 e os 18 anos e as adolescentes que nunca estiveram grávidas aderem bem a ele. Não têm maiores dificuldades de colocação nem elas referem ser mais doloroso.”
Em países como a Alemanha ou a Dinamarca são prescritos a mulheres jovens e sem filhos já há vários anos. Mas por cá continuamos a desaconselhá-lo à faixa etária em que podia ser mais eficaz, diz ainda a ginecologista. “A OMS aconselha-o às adolescentes porque são mais férteis e têm relações sexuais com mais frequência. E é sobretudo esta faixa etária que usa de forma mais incorreta e inconsistente os métodos que dependem da utilizadora – esquecem-se da pílula, não usam preservativo (ele deve ser indicado em associação com qualquer método porque é o único que protege das doenças sexualmente transmissíveis). Mas estamos sobretudo a indicar o DIU a mulheres que já tiveram filhos e que, por serem mais velhas, têm uma fertilidade mais baixa e mais maturidade na toma da pílula.” Ana Costa explica-nos melhor como funcionam estes métodos.
Dispositivos intra-uterinos
Existem os dispositivos de cobre (DIU) e os que são combinados com hormona (o chamado sistema intrauterino hormonal). Ambos são colocados diretamente no útero pelo ginecologista com a ajuda de um aplicador – e terão de ser retirados também por ele.
Enquanto o DIU de cobre pode estar no útero por um período até 10 anos, os dispositivos com hormonas, como o Mirena, têm uma validade que vai de 5 a 7 anos. Este último liberta continuamente pequenas quantidades da hormona progestagénio e torna a mucosa à entrada do útero mais espessa, para tornar mais difícil a penetração pelos espermatozoides. “Há um dispositivo mais recente, que dá para três anos. É mais pequeno e foi principalmente pensado para jovens e mulheres que nunca estiveram grávidas. Também tem uma dose de hormonas, mas inferior à do Mirena.”
Vantagens: Acaba-se o problema dos esquecimentos. A taxa de falha é de apenas 0,6% com o DIU de cobre e 0,2% com o hormonal – contra os 8% da pílula com uso habitual, que inclui esquecimentos e falhas (0,3% com uso perfeito). “A eficácia é muito elevada. Não há o problema dos vómitos e diarreia que a pílula comporta. Também têm efeito terapêutico – podem ser utilizados como tratamento em mulheres com hemorragias, riscos de anemia, risco de cancro do endométrio e até em mulheres que já fizeram laqueação.”
O que pode mudar: Não são raras as alterações no fluxo menstrual. “Um dispositivo de cobre normalmente aumenta o fluxo e a sua duração em cerca de dois dias. Se tinha irregularidades no ciclo, vai mantê-las – ele não tem hormonas, por isso continuará a ovular todos os meses. Com os dispositivos combinados com hormonas as mulheres podem deixar de menstruar entre 4 e 6 meses mas não precisam de estar preocupadas com esse facto.” Há quem deixe mesmo de menstruar durante todo o tempo em que tem o DIU. Algumas mulheres podem sentir dor pélvica e ter corrimento vaginal.
E se sai do sítio? “Pode acontecer, mas é raro – acontece apenas em 1% a 2% dos casos e a probabilidade é maior nas primeiras três menstruações. É mais comum nos dispositivos de cobre e em mulheres com fluxos muito aumentados. Como o útero é um músculo, quando contrai o dispositivo pode deslocar-se. Uma hemorragia mais abundante, sentir dores ou desconforto na atividade sexual podem ser sinal de que o DIU se deslocou. Mas se a mulher estiver a usar um dispositivo com dose hormonal, a eficácia contracetiva mantém-se mesmo que se desloque.”
Nas suas consultas de rotina de ginecologia, o médico vai certificar-se de que está tudo bem através de uma ecografia. Se não conseguir sentir os fios do DIU, não entre em pânico, não quer dizer que ele tenha saído do lugar, informe o seu médico.
Contraindicações: O DIU de cobre é obviamente desaconselhado a quem tenha alergias a este metal, bem como a mulheres com malformações uterinas e risco de anemia. O mesmo não acontece com o sistema com hormona, que é, no entanto, contraindicado a quem sofre de cancro de mama.
Quanto custa: Um DIU hormonal custa cerca de €100 mas com comparticipação fica em pouco mais de 30. Nas consultas de planeamento familiar do SNS, a colocação é grátis.
Implantes hormonais
“Coloca-se na face interna do braço não dominante, com anestesia local, e também tem uma duração de 3 anos e uma eficácia semelhante à laqueação de trompas (99,5%)”, explica a ginecologista. A inserção demora um ou dois minutos; depois até pode sentir o implante debaixo da pele, mas é improvável que outros o notem.
Este método só tem uma hormona (progestativo), e é de dosagem baixa. “Não tem contraindicações, nem mesmo em mulheres com antecedentes trombo-embólicos, que tenham tido um enfarte ou que tenham contraindicação para a pílula. Vai libertando continuamente uma dose diária para a corrente sanguínea, que é superior no primeiro ano e vai diminuindo ao longo do tempo.” Informe o médico que está a usar o implante, já que alguns medicamentos podem eventualmente interferir com ele.
A desvantagem: “Algumas vezes dá hemorragias irregulares e prolongadas que, apesar de não provocarem anemia, são uma das principais razões de descontinuação do método. Mas nestes casos podemos receitar uma pílula para regularizar o ciclo (os anti-inflamatórios podem reduzir as perdas de sangue). Mas também há mulheres que deixam de menstruar durante os três anos de duração.
Quanto custa: O preço ronda os €130 mas é comparticipado, ficando por cerca de €40.
E se eu quiser engravidar?
“Muitas mulheres têm medo de não conseguirem engravidar depois da colocação de contraceptivos de longa duração”, observa a ginecologista Ana Costa. “Qualquer dos métodos (DIU ou implante) tem a vantagem do retorno à fertilidade ser rápido. Há casos descritos de gravidezes
que ocorreram no primeiro mês depois do implante ser removido. E qualquer deles pode ser removido pelo médico em qualquer momento. Já na injeção hormonal trimestral, a Depoprovera, que é cada vez menos usada, o retorno à fertilidade pode demorar 12/15 meses.”