A instalação da nova sede da empresa, na primeira linha da cidade, exige uma resposta arquitetónica singular, que dê corpo às linhas de força da própria marca EDP e se converta num ícone urbano, instantaneamente reconhecível e inequivocamente identificável. No edifício sede, concentra-se um complexo e exigente conjunto de requisitos, ao nível do planeamento urbano, da imagem da arquitetura, da sistematização construtiva, da otimização funcional, do controlo ambiental e do desempenho energético. Desde o primeiro instante, procura-se integrar estas preocupações numa única ideia de projeto, coerente e global. Sem a pretensão de encontrar uma solução definitiva, procura-se sobretudo apresentar uma estratégia que constitua já uma síntese daquelas abordagens, em simultâneo e em interdependência: o edifício é entendido como um sistema, ou como um sistema de sistemas.
Ancorado no desenho urbano de conjunto é, ao mesmo tempo, um edifício de exceção. Necessariamente integrado na envolvente imediata, ele não pode deixar de incorporar uma dimensão simbólica de nível nacional, confrontar-se com os mais notáveis edifícios da frente ribeirinha, projetar-se no comboio, na ponte e no rio. Adota a mesma cércea dos edifícios de exceção já existentes naquele troço do perfil da cidade, evitando fomentar qualquer tipo de disputa de protagonismo vertical. A essa escala, aliás, o facto mais relevante da proposta nem sequer é o edifício em si, mas sim o vazio nele contido: o espaço aprisionado no ar da cidade.
Sem prejuízo da sua clara unidade, o volume acima do solo proposto para o edifício pode ser lido como um grande embasamento térreo, sobre o qual assentam duas esbeltas torres. O embasamento descola do chão em dois cantos opostos, resolvendo dessa forma as entradas no lote: as automóveis que mergulham para os pisos de estacionamento; as pedonais que convergem numa grande praça central, parcialmente coberta e sombreada, que se encontra à cota térrea, para onde se voltam as entradas do edifício e algum comércio de restauração. Assim se evita desenhar uma porta do edifício; ou, talvez mais corretamente, se apresenta o edifício como uma grande porta, aberta à cidade.
Nas diferentes projeções da estrutura vertical, modela-se subtilmente um desenho, com um perfil variável desde o topo até à base; justapondo e fazendo variar estes elementos, obtém-se a sugestão de um relevo suave e contínuo, onde diferentes planos se insinuam de uma forma muito delicada. Este é ainda um desenho mutável, que varia a todo o instante, reagindo ao movimento das coisas em seu redor: do sol que sobe, roda e desce, uns dias mais e outros um pouco menos, e tão lenta quanto inexoravelmente vai depositando sobre as suas superfícies – e depois delas retirando – a luz, a penumbra e as sombras; e dos próprios observadores, que a encontram ora mais proeminente ora mais plana, consoante mudam os seus ângulos de visão, e a quem tanto parece completamente opaca e misteriosa, como totalmente transparente, revelando a vida pulsante no seu interior.
Assim, a fachada representa uma espécie de síntese do projeto, associando de forma muito particular conceitos às vezes tidos como antagónicos: função e forma, técnica e poética, regra e liberdade. Apresenta-se como um ícone, imagem identificável e inconfundível, como exige a estratégia empresarial; mas mais do que uma mera imagem, o alçado é concebido como um elemento tridimensional e é nas possibilidades abertas por essa profundidade que reside o seu principal fascínio: a sua permanente capacidade de surpreender.