Aulas: os bons alunos também têm problemas

Quando as notas são boas, os pais sossegam. E no entanto, por trás de um melhor aluno pode estar uma criança em stress permanente.

O problema é quando o Melhor Aluno se transforma no Perfeccionista, aquele que aparece branco à porta da sala antes do teste de inglês a murmurar: “Não sei nada. Amanhã há teste e não sei nada.” Ao contrário do que possa parecer, dizer: “És parvo, tens sempre tão boas notas, vai correr tudo bem” não ajuda em nada o Perfeccionista. É como dizer a um bebé de 2 anos que não há lobo nenhum escondido debaixo da cama quando ele sabe perfeitamente que lá está um.

O que pode fazer: pegar o touro pelos cornos, quer dizer, enfrentar o problema de frente. Geralmente os perfeccionistas são raparigas. De que é que ela tem medo? De não se lembrar das coisas?

  • Se possível, faça uma revisão da matéria com ela, mas curta e com calma, para não deitar mais achas na fogueira. Lembre-lhe que o teste não é a medida do seu valor, e que gostará dela de qualquer maneira, com boas ou más notas

  • Ensine-lhe a respirar fundo e a olhar à roda no dia do teste: não é só ela que está nervosa. Conte-lhe histórias de si própria, dos seus próprios dias de escola (mas sem entrar em sermões do tipo: “Eu nunca ficava nesse estado, graças a Deus”).

  • E sem a afastar do estudo (os perfeccionistas costumam ficar nervosíssimos quando não têm tempo para acabar decentemente um trabalho de casa…) tente mostrar-lhe que há outras coisas na vida: tire-a de casa, leve-a à praia mesmo de Inverno, compre-lhe um animal, ensine-lhe tricot, leia-lhe livros divertidos, faça-lhe uma massagem antes de adormecer.

Claro que o stress dos testes não afecta apenas os bons alunos, mas também, e principalmente, os que se sentem inseguros. Algumas pessoas chegam a esquecer-se de tudo o que estudaram, a ver hieróglifos em vez de números, ou a entrar completamente em transe em frente da folha.

Alguns psicólogos afirmam que a ansiedade pré-teste é uma fobia social, que corresponde ao medo de ser criticado ou humilhado em público. Claro que, na maioria das vezes, acontece quando se está muito inseguro e a matéria está toda colada com cuspo…

Solução? Lamentamos informar que pôr o livro de inglês debaixo da almofada não costuma ajudar, embora possa acalmar os mais dados ao misticismo. A única solução é mesmo ajudá-lo a fazer um esquema de estudo com antecedência, para que ele não ande sempre com aquela sensação de corda bamba. É preciso começar a impor uma rotina de estudo, mas não esqueça as recompensas, porque um trágico (como aliás qualquer pessoa) reage sempre melhor a estímulos positivos do que a castigos. Fale com a professora, se necessário dê-lhe o apoio de um explicador (que pode mesmo dar apenas algumas lições esporádicas, quando for preciso, só para não derrapar) e comece desde o princípio a treinar-lhe a autoestima, a segurança e os phrasal verbs.

E quando ele não larga a consola?

Um exemplo muito comum a vários pais: para equações não há cabeça, mas para o computador está sempre pronto… O que se percebe, e não é preciso ter 11 anos e ser um taradinho do rato: tudo o que é obrigatório tem sempre muito pouco encanto, comparado com qualquer coisa que não nos exija muito esforço e nos dê prazer.

Solução: não proíba o computador, porque é a maneira de ele relaxar. Toda a gente tem a sua. Alguns relaxam a ver a telenovela, outros a ler a ‘Caras’ e outros com jogos de consola. Dê-lhe um prazo e depois acompnhe-o nos trabalhos de casa, porque geralmente este é do tipo de ficar de olhos em alvo pairando por cima do caderno de História sem ler uma única linha. Com alguns, pode ajudar aproveitar o computador como uma ferramenta de estudo, incentivá-lo a pesquisar alguns sites (como o http://www.infopedia.portoeditora.pt/) e a trocar impressões com outros grupos, e comprar-lhe CD-Roms educativos de computador. Tudo isto pode ser uma boa ajuda para quem se mexa bem em informática, mas não deve substituir o estudo tradicional, se possível longe do computador ou pelo menos com o ecran apagado.

Quando ele não levanta vôo…

Como dizia alguém, imagine que vai todos os dias para um avião, carregado de malas pesadas, que se senta e aperta o cinto e fica ali o dia todo a ouvir as instruções de segurança sem levantar nem aterrar, sem ir a lado nenhum… É assim que se sentem muitos adolescentes. Aos seis anos quase toda a gente gosta de andar na escola porque tudo aquilo é novidade e o prazer da descoberta é diário. Aos 11, há quem já esteja desenganado da vida. Mas não gostar da escola continua a ser terível.

Também há o aluno ‘nem 8 nem 80’. Há quem não se preocupe: afinal, se ele não é um génio, também não tira negativas. É aquilo: anda ali nos 3 (ou nos 13, conforme a idade) e isso basta-lhe. Aqui o importante não é desatar a dizer-lhe coisas como “Se não tens cuidado ainda acabas arrumador de carros como o filho da D. Drusila”, mas investigar por que é que ele não se esforça mais um bocadinho. A escola pode ser chata? Pois pode, mas todos nós passámos por isso… Se ele não tem a sorte de ter professores dedicados e imaginativos, olhe, ensine-lhe que isso é uma lição de vida: nem sempre as coisas correm como nós queremos, e há testes que temos mesmo que fazer, mesmo que não nos apeteça nada. Conte-lhe histórias dos seus próprios professores. Isto mostra-lhes que não estão sozinhos, que os pais já passaram por isso e que os compreendem.

Pode ajudar fazer com ele um plano de vida, dar algum objectivo aquele deserto todo: para que é que ele está a estudar? O que é que quer estar a fazer daqui a 10 anos? Claro, se ele disser ‘sei lá’, ou ‘no circo a andar de trapézio’, ou ‘mas eu quero mesmo é ser baterista’ a coisa pode ficar complicada, mas mesmo assim não desista. Mostre-lhe o mundo, leve-o ao sítio onde trabalha e tente que tenha contacto com outras profissões, na prática e não de maneira mística. Conhece algum biólogo, advogado, electrotécnico, nutricionista, desenhador? Apresente-lhe as pessoas, deixe-o investigar e investigue com ele, vá direccionando sem impor nada, segundo os gostos dele. A família inteira é médica mas ele decidiu ser baterista? Olhe, acontece aos melhores. E mesmo os bateristas têm de saber alguma coisa de biologia para serem bateristas cultos, interessantes e dizerem coisas acertadas nas entrevistas.

Entretanto, interesse-se pela vida dele, dentro e fora da escola. Especialmente fora. E para animar o seu Desanimado, leve-o ao cinema, a jogar futebol ou simplesmente ao café da esquina. E não deixe que ele esqueça as datas dos testes.

Não deixe que percam o pé

“Ai onde é que eu pus o meu livro de História… Alguém viu os apontamentos de inglês? Esqueci-me outra vez de fazer os trabalhos de casa… Ah o teste de matemática era hoje?” Ter em casa um desarrumado em último grau, um desarrumado-mental, pode ser enervante. Mas nem pense em ir lá arrumar as coisas por ele, nem exigir que tenha os livros e os cadernos muito arrumadinhos. Pode tentar um mapa grande para ele pendurar na parede e marcar as datas dos testes, mas um desarrumado que se preze, mesmo que as tenha lá muito bem sublinhadinhas a rosa-choque e cor de laranja psicadélico, nunca se vai lembrar de lá ir verificá-las.

O melhor a fazer é, já que não pode vencê-lo, juntar-se a ele, quer dizer, verificar o que é que, dentro daquele caos, funciona melhor. Há desarrumados que sabem muito bem onde têm tudo. Se ele tem boas notas, deixe-o trabalhar da maneira que quiser, mesmo que isso lhe faça os nervos em compota de morango. Se ele se arrisca a perder o pé, dê-lhe algum apoio de perto, estabeleça uma rotina de estudo, e, mais importante que tudo, desligue a televisão pelo menos enquanto ele faz os trabalhos.

Pois, os trabalhos. E quando se pergunta: “Então já fizeste os trabalhos?” e ele responde, demasiado imediatamente para ser verdade: “Já”? Más notícias: para quem não está habituado, criar o hábito de ‘despachar’ os trabalhos assim que se chega a casa pode ser um processo lento, e fazê-los compreender que o trabalho vem antes do prazer uma dolorosa lição de vida.

  • Habitue-os a fazer os trabalhos a uma hora fixa, mas a hora depende deles. Há crianças que preferem despachar logo tudo e outras que precisam de uns minutinhos para descontrair. Mas tente que se habituem a fazer os trabalhos antes do jantar, porque com sono já ninguém se concentra em nada.

  • Acompanhe a princípio, mas não faça os trabalhos por ele. Pode é estar perto e ensiná-lo a usar algumas ferramentas: dicionários, internet.

  • Se o seu aluado continua a mentir sobre os trabalhos, simplesmente páre de lhe perguntar se já fez os trabalhos. Em vez disso, pergunte como vai a escola, se tem tido dificuldades, se precisa de ajuda. Algumas crianças trabalham melhor sem o stress de um adulto sempre em cima. Fale com os professores para saber se os alunos não têm trabalhos a mais.

  • Passe mais tempo com ele, e fale de outras coisas que não a escola, ou ele passará a achar que os pais são aqueles chatos que só aparecem para lhe cobrar os trabalhos. E olhe, se ele tiver uma negativa, ensine-o a tirar daí as devidas consequências. Às vezes, é mesmo preciso aprender sozinho.

Filho de peixe não tem de saber nadar

Acima de tudo, não stresse, mesmo que não reconheça na sua criança o aluno que você foi ou que gostaria que ele fosse. Há quem, mal deixe as fraldas, já tenha de ser o melhor do infantário. Os pais stressam com tudo: ou porque ele ainda não sabe escrever o nome e os filhos dos amigos já lêem o ‘Harry Potter’ ou porque ele só teve um miserável ‘Bom’ no teste de português, ou… O discurso é sempre o mesmo: “Tens de te esforçar mais se queres entrar para economia como o teu pai.” Ele nem sequer está assim muito interessado em economia, preferia muito mais que o deixassem sossegado a tirar o que quer que fosse sem números ou a passear com os amigos… O pressionado precisa acima de tudo que os pais não façam depender o seu amor das notas que tira na escola e que não lhe imponham todos os seus sonhos por cumprir. Não admira que tenha geralmente más notas ou que, tendo boas notas, ande a cair pelos cantos com um ar de executivo de 50 anos. Aqui a solução é mesmo deixá-lo à solta, e dar-lhe atenção sem mencionar uma só vez a palavra escola. Ele perde-se? Deixe estar. Volta a encontar-se, mas isso tem ele de fazer sozinho.

Como ajudar os filhos

– Cultive um atitude optimista. Lembre-lhe aquilo em que ele é bom para o encorajar nos pontos mais fracos.

– Recompense e elogie os esforços mais do que os resultados.

– Estabeleça objectivos. Ninguém estuda no nada.

– Ajude-o a conhecer-se. Quais são os seus pontos fracos, e porquê? Como é que pode melhorar?

– Ajude-o a perceber que tudo tem solução e nada é uma fatalidade, que ter nega a matemática não é uma coisa imutável como ter os olhos azuis ou castanhos, e que o esforço e o optimismo conseguem tudo.

– Encoraje-o a pedir ajuda quando precisar. Assim evitará que se dê conta das dificuldades quando já é demasiado tarde.

– Dê-lhe mimo, verifique se ele descansa, se tem tempo para brincar e para espairecer, se não tem actividades extra a mais, se anda feliz, se tem interesses na vida.

– Esteja em contacto com os professores, saiba o que se passa na escola.

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