A convite da Soltrópico, passámos 8 dias na ilha Maurícia – mesmo em frente de Madagáscar, no outro lado do mundo – e verificámos que, por uma vez, as fotografias não mentem. Sim, o mar é assim azul, as piscinas são assim fantásticas, a areia é assim branca, num local de boa convivência entre raças e religiões.
Dia 1 – Aterramos no aeroporto e somos recebidos com grinaldas de flores amarelas. A flor chama-se alamanda (fico a considerá-lo como hipótese de nome para a minha primeira filha) e é usada em várias cerimónias. É a flor que se oferece aos deuses, por exemplo.
Primeiras impressões: pronto, está calor. Muito.
O nosso primeiro hotel é o simpático Coin de Mire, mesmo em frente ao rochedo com o mesmo nome. Primeira conclusão do dia: as fotografias que se vê nos catálogos não têm fotoshop. O mar é mesmo daquela cor. As piscinas são mesmo assim. As praias também. Geralmente não dá para grandes braçadas porque temos pé até Nova Iorque e costuma haver corais no fundo, mas que é daquela cor, é daquela cor. A temperatura não se vê, mas garantimos que é quente. Ou seja, quando se entra não temos aquele choque anafiláctico de algumas praias lusitanas.
Dia 2 – Visitamos um dos mais emblemáticos símbolos da ilha, o enorme Jardim Botânico Sir Seewoosagur. Dantes chamava-se Jardim das Toranjas (que foram plantadas em 1710, para combater a malária), mas foi rebaptizado em honra do primeiro primeiro-ministro do país. Também vemos nenúfares gigantes (podem ter 2 metros) que dariam para colocar um bebé, a árvore que dá o ylang-ylang (eu pensava que já nascia em frascos a dizer Chanel), e palmeiras como nomes como Lady Gaga, Bob Marley ou Crocodilo (devido às suas ‘cabeleiras’).
Visitamos o Sugar World, o grande museu do açúcar. O açúcar é o emblema da ilha, a seguir ao pássaro Dodo e a correr o mesmo risco de extinção.
O pássaro Dodô é o símbolo das Maurícias mas está extinto desde o tempo dos colonos holandeses, no século XVIII. Os portugueses chamaram-lhe cyrne (cisne), o que mostra, ou uma grande boa vontade ou um grande sentido de humor, porque o Dodô era mais um pato grande. Ao contrário do que se diz, o seu nome não vem do português ‘dodo’ (doido) mas do holandês ‘dodaars’ (rabo gordo). E também é mito que o tenham comido até à extinção, até porque a carne era bastante dura. Como não voava, não conseguia encontrar comida, os predadores comiam os ovos e os ciclones fizeram o resto. Quando os franceses chegaram em 1721 já não havia nenhum Dodô para amostra. Mas a sua memória permanece até hoje.
Quanto ao açúcar: no século 19 havia 400 engenhos, hoje restam quatro fábricas. E marca toda a sua história. Quando os – adivinhem lá – portugueses cá chegaram, não havia nada excepto dodôs e areia. Não tendo nada com que nos entreter, nunca mais voltámos (enfim, até agora). Em 1528, vieram os holandeses (a ilha chama-se Maurícia em homenagem ao militar holandês Maurício de Orange-Nassau) e plantaram cana de açúcar, mas em 1710 os holandeses foram-se todos embora. Em 1721, quando chegaram os franceses, a terra continuava deserta.
Os franceses retomaram a plantação de açúcar e a sua influência foi tão forte que ainda hoje a linga dominante é o francês (embora o inglês seja a língua oficial) a par com o crioulo. Os ingleses recapturaram a ilha em 1810, mas tiveram um percalço: com a abolição da escravatura, não havia quem trabalhasse nas plantações. É então que chegam levas de emigração sucessiva de indianos e chineses. Ainda hoje, a cultura indiana é a que tem mais expressão no país, principalmente na gastronomia e na religião. O próprio presidente – que por acaso é uma presidenta – é hindu.
Dia 3 – Passeio de catamaran até a S. Gabriel – uma praia paradisíaca no meio do nada. Nota: Levem protector solar. A sério. Fator 50, 100, 890, mesmo que sejam morenas. Fala-vos uma escaldada que só pôs factor 30.
Hotel de hoje: esqueçam tudo o que sabem sobre entradas espectaculares: no Ravenala Attitude o hotel abre-se em arco sobre as piscinas e a praia, lá em baixo. Ah, e os quartos foram ‘eleitos’ como os melhores da viagem: o meu é gigante, mobilado apenas com uma cama king-size, um tapete de ráfia, um coto de ávore e uma cadeira de baloiço de bambu. Tenho visões até hoje da minha cadeira de baloiço em bambu.
Dia 4 – Quando me conseguiram arrancar à cadeira de baloiço (foi uma separação traumática) vamos a Port Louis, passando por templos indianos típicos. As Maurícias são um exemplo para o resto do mundo: aqui convivem todas as raças e religiões sem qualquer tipo de choque ou confronto. As próprias crianças têm férias em alturas diferentes conforme estejam numa escola inglesa ou francesa, e os noticiários na televisão são numa língua diferente a cada hora. Aliás, há uns tempos o governo quis restringir os muitos feriados anuais a dois por religião. Resultado: toda a gente festeja tudo.
Port Louis, a capital, é também ela uma mistura de raças e cores. As pessoas vivem quase todas com menos de 200 euros (para um custo de vida equivalente ao nosso) e sobrevive-se em grande parte graças ao turismo, o principal ‘empregador’ do país: a seguir são a indústria de tecidos, a produção de açúcar e de rum. É tudo com muito sossego, devagar e devagarinho. Trânsito é pouco. Segundo Marie-Noelle, a nossa guia, há 15 anos houve um desastre de mota. Morreu um rapaz. Ainda hoje se fala nisso.
Dia 5 – Hoje fomos de ‘rumaria’. Não, não é um erro. Outra das grandes produções das Maurícias é o rum. Aqui há rum com tudo: sozinho, com coco, com café, com especiarias, com mel, com baunilha. ‘Highlights’ do dia, como se diria em bom português: visitar a ‘rumaria’ (local de produção de rum ) Chamarel, comer uma fruta que os locais chamam ‘maçã de água’ e é doce e cor de rosa como uma melancia, à beira da estrada. Visitar uma cascata com cem metros.
Hotel do dia: Chegar ao Sugar Beach Hotel é entrar na máquina do tempo e viajar às grandes plantações de açúcar (ou enfim, a uma telenovela de época). O hotel tem uma média de 1 casamento por dia, e percebe-se porquê: as lindíssimas escadarias brancas abrem para um enorme edifício a fazer lembrar as antigas casas coloniais, as piscinas enrolam-se em volta de palmeiras e repuxos, e seria o sonho de qualquer mulher casar aqui.
Dia 6 – Cá vamos nós de safari. Não se assustem: fomos ao Casela World of Adventures, uma reserva natural onde há leões, zebras, avestruzes. Os mais afoitos podem aqui pegar numa iguana, alimentar girafas, passear de kart, fazer festinhas a tartarugas gigantes.
Hotel do dia – Long Beach Resort, um super-moderno hotel de praia com uma piscina de um azul-escuro límpido a desaguar na areia, e onde nem sequer faltam os arco-íris (mais uma vez, não é provável que os vejam durante o verão). A não perder: esqueçam o pôr do sol na praia. Aqui o que é inesquecível é o nascer.
Dia 7 – Ora bem, terceira produção da ilha (ou não tivessem cá estado os ingleses): chá. Outra produção (enfim, não que lhe chamem assim): crocodilos, morcegos e (já vos falei nelas) tartarugas gigantes (mas só em cativeiro, não se assustem) no Parque La Vanille. O que aprendemos hoje: se correr para vocês um crocodilo, vocês fujam aos ziguezagues – é que os crocodilos só correm em linha recta. Uma tartaruga gigante pode viver até aos 150 anos. Sobre a chuva não aprendemos nada, mas Marie-Noelle diz que às vezes há ciclones, que são bastante benéficos porque limpam tudo (mais uma vez, é muito pouco provável que apanhem com um).
Hotel do dia – Um dos mais famosos hotéis do mundo, o nome do Trou aux Biches – Vale das Gazelas – vem de uma altura em que era ponto de encontro dos animais. Hoje foi todo reconstruído e é uma espécie de aldeia de luxo com bungalows maiores do que a minha casa, uma ‘infinity pool’, uma praia de catálogo e turistas que vem aqui casar (os chineses não podem casar fora do seu pais mas fingem que casam à mesma). Top dos tops: tomar duche no chuveiro exterior do quarto. E há quartos com piscina.
Episódio do dia: apanho um casal de noivos orientais em alta produção. Corro até á areia, e peço à noiva para tirar uma fotografia. Ela ri-se e põe-se logo em pose, a fazer um coraçãozinho com as mãos. Agradeço. ‘You are beautiful’. O noivo inclina-se: ‘Thank you’. É cultural: são os homens que agradecem os cumprimentos às mulheres…
Dia 8 – Tudo tem um fim, até o Paraíso. Mesmo assim ainda há tempo para visitar o Beachcomber Shandrani: um enorme hotel que abre directamente para a piscina e para a praia. Passeámos de barco uma última vez e vemos peixes de várias cores passarem sob o fundo transparente do barco.
PORQUE É QUE O MAR É ASSIM AZUL
O azul característico deste mar deve-se a dois pormenores: o fundo é baixo e de areia branca. A água é quente, o que leva a menos oxigénio, o que leva a menos plâncton. Quando a luz branca do sol – que é uma mistura de cores – mergulha na água, o leito baixo faz com que a luz seja reflectida com muito mais intensidade. A luz branca é ‘quebrada’: a luz vermelha é absorvida e a luz azul é refractada, e como não há o verde do plâncton, o azul brilha com mais ‘pureza’.
O que comer: A cozinha Maurícia é um reflexo das diferentes culturas da ilha: há pratos de influência indiana, francesa, muçulmana ou chinesa. O mais emblemático é o caril Maurício (geralmente com frango, feito sem leite de coco e com muitas especiarias),
Quando ir: De Novembro a Junho. Evite os meses de Dezembro a Maio, a época das chuvas.
Como ir: A Soltrópico tem pacotes especiais e preços que variam segundo a época, com voo pela Turkish Airlines: Lisboa-Istambul, Istambul-Maurícia.