Nas redes sociais toda a gente parece ser bonita, rica e feliz. Para pôr fim a esta ideia de perfeição, que na maior parte das vezes não corresponde à realidade, está a surgir um novo movimento entre as bloggers, que consiste em fazer descrições mais honestas nas fotografias. Essena O’Neill e Stina Sanders, com abordagens diferentes, resolveram marcar uma posição em relação às falsas perceções de realidade transmitidas aos seguidores.
Essena O’Neill construiu um império através das selfies, fotos de biquíni e como inspiração de fitness. Aos 18 anos, contava com 500 mil seguidores no Instagram, 200 mil no YouTube e 60 mil no Snapchat. No início de novembro, abandonou as três plataformas por estar revoltada com o engano por detrás das redes sociais.
A modelo apagou centenas de fotos no Instagram. As que sobraram sofreram alterações nas respetivas descrições, que passaram a ser fiéis à realidade.
“Não é a vida real. A única razão pela qual fui à praia nessa manhã foi para tirar fotos em biquíni porque a empresa me pagou, e também era bem-parecida segundo os padrões atuais da sociedade. Nasci e ganhei a lotaria genética”, lê-se numa das novas descrições.
Essena lançou um novo site, “Let’s Be Game Changers”, e um canal na plataforma Vimeo nos quais partilha a potencial toxicidade das redes sociais.
“Passava horas infindáveis por dia nas redes sociais”, lê-se no site. “Antes de me tornar bem conhecida, estudei-as de forma implacável. Os meus pais argumentavam que passava pelo menos 50 horas por dia no meu suposto passatempo… Devo grande parte do meu sucesso ao privilégio branco e à genética. Eu era magra, bronzeada, definida, loira, com um grande sorriso e um soutien push-up”, continuou.
A jovem australiana planeia usar as novas plataformas para promover o veganismo, a consciência ambiental, questões sociais e um estilo de vida consciente.
“Tenho uma variedade de entrevistas, projetos e funcionalidades que mal posso esperar para partilhar”, escreveu. “Quero criar um site com um senso de comunidade, colaboração e desejo de ajudar a mudança de ação; isto envolve fortemente indiviíduos a submeterem as próprias ideias e trabalhos inovadores, para todos partilharmos e aprendermos”, concluiu.
Na sequência das atitudes de Essena O’Neill, a inglesa Stina Sanders resolveu fazer uma experiência social. Desafiada pelo jornal “The Independent”, substituiu as selfies e fotos profissionais por imagens e descrições mais honestas. Durante uma semana, publicou imagens a descolorar pêlos faciais, antes de se submeter a uma irrigação do cólon e sem tomar banho, entre outras. Como resultado, perdeu milhares de seguidores.
“Durante a experiência perdi três mil seguidores e no fim tinha perdido cinco mil”, disse a modelo.”Fiquei chocada porque pensei que iam ser os likes a reduzir dramaticamente e não os seguidores”, continuou.
A modelo também notou uma mudança nas pessoas que gostavam das fotos.
“O interessante é que tinha mais likes de mulheres, quando antes era dividido, e todos os comentários eram maioritariamente de raparigas. Era evidente que me queriam contactar porque se identificavam de uma forma ou de outra”, continuou.
A experiência abriu os olhos de Stina para a influência, por vezes perigosa, destas plataformas.
“Faz parte da natureza humana compararmo-nos com os outros, mas é por este motivo que as redes sociais podem ser venenosas, especialmente para as jovens. Estou no mundo da moda e já vi as mais belas das mulheres com celulite e acne. Não me causa stress, mas preocupa-me que estas raparigas tenham objetivos pouco realistas porque os ídolos, que admiram, não são aquilo que aparentam”.
Sanders valoriza as reações positivas que obteve e acredita que “as redes sociais podem ser uma ferramenta ótima, especialmente quando utilizadas da forma certa”.
Essena O’Neill e Stina Sanders representam uma nova geração de bloggers e modelos famosas nas redes sociais. Conscientes das suas responsabilidades como inspiração para as gerações mais novas, pretendem usar a popularidade para promover uma imagem positiva e, acima de tudo, real.