A meningite B é uma doença rara mas grave – em 2011 a sua incidência foi de 0,58 casos por cada 10 mil habitantes. Entre 5 e 14% dos casos podem ser fatais, alerta a Comissão de Vacinação da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP). Entre 11 e 19% sobrevivem com alguma sequela de saúde a longo prazo: problemas neurológicos, perda de audição, alterações cognitivas, cicatrizes cutâneas e até amputações. A maior parte dos casos ocorre nos meses de inverno e primavera. O grupo mais afetado é o das crianças até um ano, logo seguido das crianças até aos quatro.
A nova vacina
Em Portugal, a vacina contra o meningococo C está disponível desde 2002 no mercado livre e no Plano Nacional de Vacinação (PNV) desde 2006, o que levou à quase ausência de casos neste serogrupo. Depois disso, os casos do grupo B passaram a ser mais frequentes. Desde julho de 2014 está disponível uma vacina contra a meningite B, a 4CMenB (com o nome comercial Bexserol). A Sociedade Portuguesa de Pediatria considera-a segura e recomenda a sua toma. Desde então, muitos pediatras aconselham os pais a vacinarem as suas crianças. O facto de ser uma vacina cara – e98 por dose e podem ser necessárias entre duas e quatro, consoante a idade da criança (ver caixa na página seguinte) – e não contemplada no PNV, tem feito muitos pais pensar duas vezes.
Vacinar já ou esperar?
O pediatra Mário Cordeiro, autor de ‘O Grande Livro do Bebé’, ‘O Livro da Criança’ e ‘Educar com Amor’ (Esfera dos Livros), entre outros, diz-nos: “A vacina anti-meningococo B é provadamente eficaz e segura, caso contrário não teria sido autorizada pelas agências internacionais, europeias e pelo INFARMED. Esperar pode-se esperar, mas, que eu saiba, as vacinas não matam, as doenças sim. Enquanto se espera o meningococo não fica parado. Aliás, a ‘moda anti-vacina’, baseada em que ‘não são naturais’ ou que são uma conspiração das multinacionais é totalmente aberrante: milhões de vidas foram salvas devido às vacinas. Aliás, todos os que morreram e morrem por tuberculose ou sarampo ou meningites bacterianas gostariam de ter tido uma vacina que os salvasse.”
Hugo Rodrigues, pediatra e autor de ‘Pediatria para Todos’ (Verso de Capa) e do blog com o mesmo nome, também é a favor. “É verdade que o número de casos estabilizou desde 2007, mas a mortalidade e probabilidade de deixar sequelas é bastante elevada. Assim, apesar de não ser uma doença frequente, dada a sua gravidade é muito pouco confortável a decisão de esperar mais um pouco. É um pouco como a ‘roleta russa’: a probabilidade de acertarmos na bala é baixa, mas quando acontece pode correr muito mal.”
Quando dar?
Pode ser administrada a partir dos 2 meses. É dada na coxa dos bebés e no braço das crianças mais velhas, adolescentes e adultos. Eis as doses recomendadas:
2 a 5 meses • 3 doses + 1 reforço.
6 a 11 meses • 2 doses + 1 reforço.
12 a 23 meses • 2 doses + 1 reforço.
2 a 10 anos • 2 doses.
A partir dos 11 anos e adultos • 2 doses.
Durante quanto tempo garante imunização?
A SPP refere que a duração da imunidade não está ainda estabelecida. “A maioria das vacinas atuais, dado serem autênticos ‘topos de gama’ (daí o seu preço), conseguem imunização prolongada, provavelmente por toda a vida, com menos doses e dadas precocemente”, explica Mário Cordeiro. “A certeza ter-se-á com o tempo e já houve vacinas que precisaram de ajustamentos, mas por isso é que há monitorização e acompanhamento através de estudos serológicos.”
É preferível dar JÁ a vacina se a criança estiver no infantário?
O pediatra Hugo Rodrigues explica por que a decisão não deve ser apenas baseada nesse facto. “Muitas vezes, o meningococo é transmitido pelos adultos. Claro que se uma criança contactar com muitas outras, a probabilidade de apanhar a doença é mais elevada (o meningococo é a única bactéria causadora de meningite capaz de se tornar verdadeiramente epidémica), pelo que é um fator importante. Parece-me que a decisão deve ser independente desse facto, dada a gravidade da doença.”
Quais efeitos secundários? Pode ser combinada com outras vacinas?
A SPP confirma que esta vacina é “ligeiramente mais reactogénica quando administrada, em simultâneo, com outras vacinas do PNV e com a vacina pneumocócica conjugada.” Mário Cordeiro confirma que esta vacina provoca reações ligeiramente mais intensas do que outras imunizações. “Mas isso não serve para emitir qualquer juízo de valor no sentido de ser ‘boa’ ou ‘má’. Os efeitos são, essencialmente, um dia de febre baixa e/ou dor e ligeira inflamação local. Como isso significa sair do sorteio de uma das doenças infecciosas mais violentas e letais do Mundo Ocidental, acho que vale bem a pena!”
O que ainda não se sabe
O meningococo B tem uma grande variedade genética. Existe uma ferramenta que permite fazer uma estimativa da eficácia da vacina numa dada região, o Meningococcal Antigen Typing System, que calcula as estirpes dominantes de meningite e a possibilidade de serem mortas pelos anticorpos cuja produção é induzida pela vacina. A cobertura da 4CMenB estimada para a Europa é de 78%, variando de país para país – em Espanha, por exemplo, ela é de 69%, em Itália 87%. No entanto, “as estirpes portuguesas da doença não foram testadas, pelo que não é possível calcular com precisão a cobertura estimada para Portugal”, diz a SPP em comunicado. Mas ela é a única forma de proteção disponível contra a meningite B.