Mário Cordeiro, um nome de referência na área da pediatra, foi convidado para guiar os mais pequenos na exposição interactiva “Sistemas de Vida”, no qual as crianças aprendem como funciona o corpo humano e onde se debate a importância das rotinas. A ACTIVA falou com o pediatra com o intuito de compreender a sua opinião sobre a relação das crianças com a anatomia e o ensino desta, tanto na escola, como em casa.
- Como foi receber o convite para ser embaixador da exposição interativa sobre o corpo humano, “Sistemas de Vida”?
Foi uma experiência muito positiva! No fundo, com alguma simplicidade, organização e sentido do que pode ser interessante para as crianças: contribuir para um aproximar da criança ao seu corpo, ao entendimento do que se passa consigo e como “funciona” – um grande primeiro passo para a promoção de medidas que defendam o corpo e, no fundo, promovam e preservem a saúde, numa atitude preventiva que pode levar a enormes ganhos em saúde, individual e coletivamente.
- A anatomia faz parte do programa curricular do 1º ciclo. Acha que o conteúdo da disciplina é a suficiente para que as crianças consigam perceber como funciona o corpo humano e quais os hábitos e cuidados a ter para estarem saudáveis?
Creio que sim. A maneira como a informação e o conhecimento são transmitidos pode variar de professor para professor – acho que as crianças gostam de curiosidades, de factos, de se entenderem, e se, para lá da mera descrição da anatomia e fisiologia, forem dados conhecimentos sobre alguns aspetos mais “engraçados”, as coisas ficarão melhor sedimentadas.
- Na sua opinião, quais são os pontos fortes e fracos na educação do corpo humano, lecionado através da disciplina de Estudo do Meio?
A disciplina está bem estruturada, mas claro que tudo depende do professor, de como interessa os alunos com exemplos práticos, para lá do ensino teórico e se as aulas são dinâmicas e entrecruzadas com a prática e o nível de compreensão das crianças, nesta idade ainda muito voltadas para o concreto e não para o abstrato.
- Partindo do pressuposto que acredita haver pontos negativos, pergunto-lhe: do ponto de vista didático, como poderão esses pontos fracos ser trabalhados e ultrapassados?
Temos de ligar a teoria à prática, usando a sabedoria e a experiência dos próprios alunos, com exemplos relacionados com coisas de que eles gostam. Posso falar de vetores, forças, velocidades e pontos A e B, ou dizer o mesmo falando de um livre que o Cristiano Ronaldo vai marcar a “x” metros da baliza e à velocidade “y”…
- Como vê o papel e o desempenho dos pais na construção de hábitos de vida saudáveis?
Fundamental. Infelizmente, muitos pais têm estilos de vida e hábitos que deixam muito a desejar, em termos de promoção da saúde e prevenção da doença. E muitos pais não sabem, eles próprios, como o corpo humano – físico e mental – funciona.
- O que falta ainda fazer para que as famílias e crianças percebam o impacto que a criação de hábitos e rotinas pode ter na sua vida futura?
Mais coisas deste tipo: os meios de comunicação falarem do assunto (sem ser apenas para contar desgraças) e interligar os conhecimentos teóricos à prática. Não interessa saber por saber, mas sim saber para agir. É este grande salto que, em muitos casos, ainda temos de dar no sistema de ensino/aprendizagem, mas envolvendo as crianças e, também, aproveitando os saberes e práticas que já têm.
- Até que ponto a escola tem também um papel a desempenhar a este nível?
Parece-me evidente que, estando as crianças tantas horas na escola e tendo professores titulares que são quase tutores, a escola seja um dos locais privilegiados para este ensino e aprendizagem, mas a família e o próprio ecossistema social são fundamentais.
- Que conselhos deixa aos pais sobre este tema?
Não pretendo ser conselheiro, até porque há muitas realidades e modos de fazer as coisas. Apenas sugiro que pais e filhos falem, conversem, estejam tempo útil juntos e aprendam uns com os outros. E relembro aos pais a enormíssima curiosidade científica que as crianças têm – é aproveitá-la, para, parafraseando António Gedeão, “o mundo poder pular e avançar, como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
A exposição pode ser vista no LoureShopping de 29 de abril a 28 de maio; no RioSul Shopping, de 1 a 30 de julho e no MadeiraShopping, de 1 a 30 de setembro