
Maio de 68: as influências na moda 50 anos depois
O movimento francês tornou-se um símbolo de uma época em que a renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem.
30 de Maio de 2018

JACQUES MARIE
Em maio de 1968, os jovens franceses foram às ruas para protestar. Provocaram a maior greve da Europa e a renúncia do presidente. E no meio das barricadas, da violência policial e do governo conservador, estavam as mulheres. O movimento pela liberdade sexual e a igualdade no mercado de trabalho crescia e inspirava cada vez mais a luta por um espaço na sociedade. Mudanças que se refletem também na moda, mesmo 50 anos depois dos protestos.
Uma das peças que mais representa a libertação feminina da década de 60 é a minissaia. A autoria da sua criação é dividida entre a estilista britânica Mary Quant e o estilista francês André Courrèges, mas não há dúvidas de que a tendência veio das ruas. As peças de roupa que exibiam o corpo representavam a libertação sexual, impulsionada também pelo lançamento das pílulas anticoncecionais no início da década. Já os looks masculinizados também ficaram em alta, com as calças compridas e os fatos, uma forma de evidenciar a luta pela igualdade entre homens e mulheres. A moda como expressão política ganhou força com o movimento 'prêt-a-porter' (pronto a vestir) nos anos 70. A ideia era criar peças a pensar no conforto, comodidade e liberdade das mulheres.
As inspirações do maio de 68
Para comemorar o 50º aniversário das manifestações, a marca francesa Sonia Rykiel inspirou-se nos movimentos de 68 para uma nova criação: a Pavé Parisien, uma pequena mala para usar cruzada, feita em diferentes tons coloridos para o verão. A designer foi uma das participantes do movimento prêt-a-porter na década de 70.

A mala Pavé Parisien em vermelho
D.R.
A nova campanha pré-outono da Gucci também seguiu o embalo das manifestações. Com o nome de Gucci dans les rues (Gucci nas ruas), as modelos aparecem nas ruas de Paris a protestar, a participar em reuniões e barricadas, e a fazer obras de arte. Segundo a marca, o objetivo é “capturar o espírito do despertar dos estudantes de Paris em maio de 68”.

Imagens da campanha da Gucci
Reprodução/Instagram
No início do ano a Dior apresentou uma coleção de inverno 2018 que também segue a inspiração nos movimentos de maio de 68. Entre as peças destacam-se botas divertidas, vestidos curtos, patchwork e estampas em xadrez.

Imagens da campanha da Dior
Reprodução/Instagram
Das ruas para as passarelas
O clima de protestos tem sido visto com mais frequência nas passarelas nos últimos anos. Desde que Maria Grazia Chiuri assumiu a diretoria criativa da Dior, a marca faz das suas coleções uma forma de empoderar mulheres. A estilista é a primeira mulher no comando da marca e já tinha mostrado seu lado ativista em outras ocasiões. Há alguns anos lançou as T-shirts com a famosa frase da feminista africana Chimamanda Adichie: 'We should all be feminists' (todos devemos ser feministas).
Apesar de não se declarar feminista e de ter feito declarações polémicas em que criticava as mulheres, Coco Chanel contribuiu para a libertação feminina na moda - foi uma das entusiastas das calças femininas, por exemplo, e, a nível pessoal, não se casou, gostava de cavalgar e foi dona do próprio negócio numa época em que as mulheres eram socialmente reprimidas.
Em 2014, Karl Lagarfeld, o diretor criativo da Chanel, recriou o movimento de 1968 na passarela, para o desfile da coleção primavera-verão 2015. Refez as ruas de Paris e levou personalidades do mundo da moda, como Cara Delevigne e Gisele Bundchen, para o centro das atenções. Com cartazes com dizeres como 'Free Freedom' (liberdade livre) e 'Woman’s rights are more than alright' (diretos das mulheres são mais que certos) e a carregar megafones, as modelos protestaram. Depois do desfile, o estilista responsável pela coleção disse que a mãe era uma feminista. “Quando era pequeno, ela dizia-me: 'os homens não são muito importantes. Quando não se é muito feia, pode-se ter um filho com qualquer um”.