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Getty Images/iStockphoto

A sociedade valoriza os extrovertidos. Não há como negar, basta atentar nas montras das livrarias cheias de livros prontos para nos ajudarem a fazer amigos e ser populares, ou ligar a televisão e ver os ídolos do momento, invariavelmente comunicativos e dinâmicos. Ser bem sucedido é quase sempre sinónimo de personalidade extrovertida, saber falar em público,

ter muitos amigos e uma agenda sempre preenchida… E no entanto metade das pessoas não é naturalmente assim. Estima-se que 30 a 50 por cento da população seja composta por introvertidos que apreciam e precisam de tempo sozinhos para recarregar baterias, não gostam de ambientes com muitos estímulos e tendem sempre a refletir antes de falar e agir.

São eles provavelmente os principais compradores dos livros que ensinam a combater a ansiedade social e a desenvolver competências de comunicação. Em pequenos, terão ouvido muitas vezes incentivos para deixarem de ser ‘bichos do mato’, alguns terão sido levados pelos pais ao psicólogo, e outros até inscritos em aulas de teatro na esperança de ficarem mais desinibidos. Num mundo que valoriza sobretudo os extrovertidos, ser introvertido é uma limitação que importa ultrapassar. Mas fará sentido ser assim? O livro de Susan Cain, ‘Silêncio – o Poder dos Introvertidos num Mundo que não Para de Falar’ (Temas e Debates), veio lançar a polémica. 

Não confundir com timidez
Pedimos à psicóloga Ana Paula Trindade para nos ajudar a destrinçar as diferenças entre introvertidos e extrovertidos e percebemos que são sobretudo características ligadas à forma como obtemos energia. Surpreendente? Ela explica: “A energia vital de uma pessoa introvertida é mais internalizada, isto quer dizer que ela se motiva mais a partir dos seus próprios pensamentos, emoções e perceções, ao contrário do que acontece com os extrovertidos, que se alimentam de estímulos vindos de fora, sobretudo da interação com outras pessoas.” Estar em ambientes com muita gente é o exemplo clássico de algo que deixa os extrovertidos com mais energia e cansa os introvertidos.

Mas, por natureza, o introvertido, se não for forçado ou não passar do seu limite, também tira bastante prazer do convívio. É falso dizer que estes não gostam de estar rodeados de pessoas. “É importante perceber que a introversão não é uma doença nem um defeito, apenas um traço da personalidade”, enfatiza. Já a timidez, tantas vezes confundida com a introversão, não é uma característica própria mas um sintoma de insegurança que pode ser mais ou menos patológico. “A timidez implica sempre um sentimento de ansiedade,está ligada ao medo da rejeição e ao receio do julgamento alheio. O tímido tem medo de fazer figuras ridículas, está preocupado com a imagem que transmite, é uma questão de autoestima, não de personalidade. Claro que todos temos um pouco destes medos, a diferença é que o tímido patológico evita as situações, deixa de fazer coisas que gostaria por medo do que os outros vão pensar. Quando há culpa, medo e ansiedade e quando o nosso quotidiano começa a ser prejudicado, então temos uma doença”, explica.

Tanto os introvertidos como os extrovertidos podem sofrer de timidez. “Os primeiros podem ter sido criticados pela sua maneira de ser a ponto de criarem ansiedade em situações sociais, mas os segundos sofrem mais. “É um horror, imagine-se precisar da interação com os outros, do barulho e da energia e ter muito medo disso…” Resumindo: a timidez é uma questão ligada à autoestima e pode tratar-se; a introversão é um tipo de personalidade e não requer tratamento ou mudança alguma. “Quando muito, um introvertido pode aprender a aceitar a sua forma de ser e a lidar melhor com isso, a arranjar estratégias para sobreviver numa sociedade que valoriza os extrovertidos. Numa festa, poder dizer ‘olha, não leves a mal, a festa está ótima, mas para mim já chega e vou descansar’, e isso implica muita aceitação de si. Não é preciso evitar situações sociais, mas sim ir nos seus termos, para não se cansar dos grupos e do barulho e não esgotar a energia. O convívio não lhe causa medo, não fica ansioso, mas sim cansado.” Por natureza, sente-se mais vivo e capaz em ambientes mais calmos.

À atenção dos extrovertidos
A introversão pode não ser uma doença, mas as críticas não deixam de ser corrosivas: ‘Não sejas assim’, ‘Tens de te dar mais com as pessoas’, ‘Porque é que não falas?’… O mundo está virado para a ação. Mas como lembra Susan Cain, sem os introvertidos e a sua solidão “o mundo ficaria privado da teoria da gravidade e da relatividade, não conheceria Chopin, Proust, Orwell, Harry Potter, e não teria acesso ao Google”, tudo criações de alguns introvertidos notáveis. Cain recolheu inúmeros estudos que demonstram como a circunspeção dos introvertidos os pode tornar pessoas mais criativas e eficazes. “Porque eles refletem, são capazes de ter ideias inovadoras, e porque sabem ouvir são capazes de tomar decisões mais ponderadas. Apesar disso, diz, não os valorizamos. As crianças que preferem trabalhar sozinhas são vistas com problemáticas, o estudante ideal é extrovertido, apesar de os introvertidos terem melhores notas. “Aparecem-me muitas crianças introvertidas a pensar que estão erradas. Tenho uma menina de 13 anos que quer ser popular e não aceita que é introvertida. Só que quando violentamos a nossa identidade isso acarreta um esforço enorme, então chega a casa irritada e agressiva. A criança deve ser aceite como é, mas muitas vezes são os  pais que pressionam os miúdos a terem muitas atividades, sobretudo quando são extrovertidos com filhos introvertidos. Qual o mal de ficar em casa a ver um filme ou a desenhar? Essas também são atividades criativas e podem dar muitos frutos”, lembra Ana Paula Trindade.

Descubra as diferenças

Há diferenças a nível neurológico entre o cérebro de um introvertido e o de um extrovertido que se refletem nas formas de abordar as situações. Podemos adaptar o nosso comportamento através do treino, tal como um esquerdino aprende a escrever com a mão direita, lembra Ana Paula Trindade, mas o ideal será seguirmos a nossa tendência, até porque contrariá-la tem custos em energia, autenticidade e até em saúde física.

– Os introvertidos são naturalmente ponderados  e os extrovertidos mais impulsivos.

– Os introvertidos pensam antes de fazer e de falar, já os extrovertidos abordam as tarefas mais rapidamente.

– Os extrovertidos preferem falar a ouvir, raramente ficam sem palavras e podem até deixar escapar inconfidências; os introvertidos são bons ouvintes, pensam mais do que falam e expressam-se melhor por escrito do que oralmente.

– Os extrovertidos sentem-se confortáveis com o conflito mas não com a solidão, os introvertidos apreciam a solidão e ficam desconfortáveis com o conflito, cansam-se com conversas superficiais mas apreciam conversas profundas.

– Os extrovertidos têm um grande grupo de amigos com relações mais superficiais, os introvertidos têm um grupo pequeno mas com relações mais profundas.

– Os introvertidos não gostam de ser interrompidos. Os extrovertidos pensam e falam ao mesmo tempo.

– O introvertido tem mais dificuldade em funcionar em grupo e em delegar tarefas, é mais perfeccionista por natureza. O extrovertido é um bom multitarefas, gosta de trabalhar em grupo…

Podíamos continuar, mas o importante é mesmo perceber que não há formas certas de ser. O segredo é usar bem os ‘poderes’ que nos foram dados e lembrarmo-nos que são um dom, diz Susan Cain: “Aos introvertidos são oferecidas as chaves de jardins privados repletos de riquezas. Possuir uma tal chave é cair como Alice na toca do coelho.” Nem por acaso, Lewis Carroll também era um  introvertido. Sem ele não teríamos ‘Alice no País das Maravilhas’.

Introvertidos confessam-se:

Frederico Almeida, 41, responsável de marketing e comunicação

“Ser introvertido é uma forma de estar. Acho que me dá capacidade de evasão e de reflexão e mais oportunidades para observar. Muitas vezes sou tido como arrogante ou distante, e sem dúvida que os introvertidos são menosprezados.   Nalgumas situações tento mudar e socializar, para não parecer ‘bicho do mato’, até porque sabermo-nos ‘vender’ pode fazer a diferença, numa entrevista de emprego, por exemplo.”

Pedro Alexandre, 37, administrador de sistemas

“Alguns dos maiores prazeres na minha vida são mais introspetivos ou solitários. Entre um bom livro ou uma conversa média (ou má), prefiro o bom livro. Ser introvertido permite-me pensar e divertir-me sem precisar de estímulos exteriores, e para mim uma vida sem reflexão não é uma vida que valha a pena ser vivida. Uma pessoa calada é facilmente tida como convencida, elitista, mal- educada, antis-social ou ‘freak’, tudo acusações que já ouvi. Estar sozinho é quase sempre visto como sinal de fracasso, já que, assume-se, ninguém assim estaria se a tal não fosse obrigado.”

 

Famosos Solitários:
Há uma imensa quantidade de génios famosos introvertidos: Newton, Einstein, Chopin, Darwin, Gandhi, Al Gore, Steven Spielberg, Woody Allen ou Bill Clinton são alguns exemplos. Os introvertidos podem gabar-se de haver pelo menos um estudo a mostrar que têm um QI tendencialmente mais elevado.

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