IMG_4838.JPG

Parece um lugar-comum ouvirmos dizer que ‘a felicidade depende de nós’. Apesar da nossa razão compreender a lógica desta premissa, a questão é sempre: de certeza que não é assim tão fácil. Vitor Rodrigues, psicólogo, acredita que essa meta está ao alcance de todos nós. E demonstra-o no seu novo livro, ‘Constrói a Tua Felicidade’, da Esfera dos Livros.

1 – Diz que a depressão é um inverno interior. Podemos aprender a controlar o nosso estado do tempo?

Sem dúvida. Há guarda-chuvas e capas quentinhas (técnicas paliativas que ajudam a diminuir a ansiedade, ganhar perspectiva e distanciamento, minorar o sofrimento), mas também há meios de mudar o modo como estamos face à vida. A Psicoterapia pode ajudar mas o desporto, a meditação, a alimentação ou o que fazemos com o tempo livre também contribuem muito para reencontrarmos energia, bem-estar, foco mental ou optimismo. Muitas coisas ajudam a deixar entrar o sol, recuperar o calor…

 2  – Como se cultiva a felicidade?

Essa é a “pergunta de um milhão de dólares”, como diriam algumas pessoas mais capitalistas. Para mim, a felicidade depende da expressão e expansão de quem somos e do que temos de melhor enquanto potencial. Pertence à família da famosa auto-realização, vista como expressão do que o nosso corpo pode e gosta de fazer, do que as nossas emoções gostam de sentir e são capazes de vivenciar, do que a nossa mente pode realizar (sobretudo na esfera do trabalho mental) e do que o nosso lado espiritual pode sentir (refiro-me sobretudo ao que dá sentido para a vida). Do mesmo modo que a depressão nos limita e “encolhe” em nós mesmos (por exemplo fazendo-nos entrar em isolamento, recusar o movimento, ficar na cama, etc.), o lado feliz da vida implica crescer com o que somos realmente. Ora para crescer ajuda muito saber para onde. Tal como as plantas crescem para o Sol, é muito importante escolhermos o que há-de atrair-nos. Ajuda muito se forem valores e causas maiores: valores como Justiça, Amor, Compaixão, Liberdade,  Beleza, e causas como a própria Humanidade, a busca do divino, a Ciência, a Sabedoria. A depressão está cheia de emoções aversivas que implicam “encolher e evitar”, como tristeza, culpa, ansiedade; a felicidade implica sobretudo atracções – não é por acaso que a associamos tão facilmente ao Amor, não só pessoal mas, também, impessoal, e também próprio, e também apreciador das coisas, do mundo e dos outros…

 3 – E como se educa uma criança para a felicidade?

Bem… um dos aspectos fundamentais implica deixá-la crescer e apoiar o crescimento. De quem? Da criança que ela é. Importa aceitá-la e dar-lhe presença, respeitando-a e à sua individualidade e ajudando-a a expressar o seu potencial. Importa ajudá-la a fazer explorações, a aceitar errar sem qualquer dramatismo, tendo a ousadia de aprender e experimentar. Voltemos a uma analogia vegetal: uma planta saudável é a que é bem regada (com afecto, para uma criança, bem como alimento para o corpo e para o espírito) e a quem é consentido que cresça para o seu sol (importa ajudar a criança a encontrar o seu oriente, ou seja, o que a atrai e faz desabrochar). Os bons pais amam os filhos, respeitam-nos, fazem-lhes sentir que são gente e alguém repara neles e sabe apreciá-los. Procuram fornecer-lhes um ambiente estimulante, com experiências relacionais, mentais ou espirituais diversificadas. Fazem-lhes sentir que estão lá para elas mas também fornecem alguma “estrutura”, ajudando-as a aprender a regular o comportamento. Refiro-me, muito mais que a castigos, a consciencializações. Do mesmo modo, mais que punir os erros, procuram recompensar – ou pelo menos realçar, o que já é recompensador – os progressos e os comportamentos positivos.

 4 – Portugal e a nossa crise favorecem a depressão?

Portugal e a crise favorecem muito a depressão. Os ambientes de crise económica e desemprego contribuem facilmente para o desalento, sentimentos de impotência e de não conseguirmos exercer o nosso potencial, fazer o melhor que podemos com o que somos. O nosso país, por outro lado, ainda parece ter, algo imbuída na cultura, a tradição da inveja e de nos sentirmos roubados quando alguém vai mais longe que nós, sabe mais ou é mais feliz.

 

5 – Podemos ser felizes mesmo se a vida não nos corre pelo melhor?

Gosto de realçar que, numa distinção mística e esotérica (para quem queira pensar nisso), felicidade é assunto da nossa personalidade temporária, alegria interior é apanágio duradouro da alma e bem-aventurança é assunto do espírito eterno. Mesmo sem tais metafísicas, todos nós podemos sentir alegria interior mesmo quando estamos “debaixo de fogo” se sentirmos que a nossa vida tem sentido e está a ter sentido e se sentirmos que tudo faz parte do nosso crescimento enquanto seres humanos. Um desportista, por exemplo, pode atravessar momentos difíceis, de grande esforço, onde testa os seus limites, mas sentindo-se interiormente bem com isso. Para quem considera que toda a vida é uma aprendizagem e que o fundamental é a expansão da consciência, tudo pode ensinar e tudo pode amadurecer a consciência: bom e mau, agradável e desagradável.

6 – Quem anda a sabotar a nossa felicidade?

Eu diria que os principais sabotadores somos nós mesmos quando aceitamos correr atrás de objectos de consumo acreditando que eles podem trazer-nos felicidade e multiplicando desejos pelas mais variadas coisas quando os desejos não satisfeitos tendem a deixar insatisfação e infelicidade. Mais vale perseguir coisas mais duradouras e associadas à felicidade, como desenvolver a nossa capacidade de amar, a nossa consciência e capacidade de apreciar a vida. No entanto, se quisermos sabotar a felicidade de alguém a partir do exterior, basta justamente induzir-lhe ideias disparatadas, como a de que a felicidade está associada a coisas em lugar de ser um estado de paz interior e fluxo de energia em acordo com a nossa consciência e crescimento. Ou criar condições que impeçam as pessoas de se realizarem como seres humanos.

 7 – Estamos sempre à espera do que há de pior nos outros, somos muito críticos, mas isso não tende a melhorá-los, pois não?

Socialmente aprendemos muito uns com os outros por sermos espelhos. Ora aí temos um problema: em vez de espelharmos tudo, tendemos a espelhar os outros em acordo com o que vemos e escolhemos ver neles. Podemos ajudá-los a conhecerem-se no seu melhor ou no seu pior. Além disso, quando juntamos a expectativa de que eles façam o pior… estamos a produzir um “efeito Pigmalião” negativo. Se me dizem repetitivamente que sou mau, não presto, ou esperam que me comporte como um criminoso, o simples bom senso mostra logo que isso não me ajuda a ser um bom cidadão… 

8 – Como podemos lutar contra más experiências ou recordações?

Aí há dois aspectos: lutar contra as más experiências em si, gerindo-as, retirando-lhes o “veneno” – ou seja, o poder traumático – e cultivar boas experiências/recordações. Procurar pequenas experiências novas e positivas. Normalmente as más recordações são fortes e conseguir superá-las implica, por um lado, dar-lhes novas interpretações e, por outro, modificá-las ou tomar distância face a elas. Isso consegue-se, por exemplo, observando-as do modo mais neutro possível mas também, além disso, transformando-as. Um modo de conseguir a transformação das imagens consiste mesmo em “revisitar” cenas modificando-as intencionalmente, imaginando-as a desenvolverem-se de outro modo. Isso diminui-lhes o poder se se imporem na nossa mente.    

 

9 – Quando a nossa personalidade não nos admite a felicidade, é possível mudar quem somos?

A investigação actual tem demonstrado que mesmo o nosso cérebro (que não é forçosamente o mesmo que a nossa mente) é neuroplástico e pode mudar seja ao nível da estrutura ou da funcionalidade. Novos neurónios podem surgir, “antigos” neurónios podem ocupar-se de novas tarefas. Não sendo fácil mudar a personalidade, isso é viável, todavia. Demora tempo mas consegue-se, um pouco do mesmo modo que um, ou uma, pessoa com um físico flácido e obeso pode, com empenho desportivo e dieta adequada, convertê-lo num físico tonificado, elegante e eficaz. No plano da mente, é possível igualmente mudar muitas coisas com treino adequado – e/ou, claro, com intervenções terapêuticas apropriadas, que nos ajudam a mudar ideias e perspectivas acerca de nós e do mundo ou a modificar “programações” que o passado nos deixou.

 

10 – Diz que muitas vezes as pessoas não se empenham lá muito no seu próprio processo terapêutico. É porque têm medo ou porque o autoconhecimento dá trabalho? Ou por outra coisa qualquer?

 

Pode ser um misto de muitas coisas. Algumas pessoas, estando deprimidas, têm que vencer a inércia, o desalento, a falta de esperança que as levam a “nem tentarem”. Isso não é fácil mas pode ser encorajado pela obtenção de alívio e melhoria em sessões psicoterapêuticas bem-sucedidas. Além disso, claro, algumas pessoas esperam milagres fáceis ou têm alguma dificuldade em aceitar que melhoras profundas possam implicar algum trabalho e empenho em vez de somente terem o “trabalho” de tomar medicamentos. O autoconhecimento, bem como remexer em algumas feridas para finalmente desinfectá-las e cicatrizá-las profundamente, também tem algum carácter assustador. No entanto, é absolutamente necessário. Autoconhecimento e desenvolvimento de boas possibilidades de autogestão emocional e comportamental…

 

Mais no portal

Mais Notícias

Há novas imagens do casamento de Dânia Neto com Luís Matos Cunha

Há novas imagens do casamento de Dânia Neto com Luís Matos Cunha

Hisense Laser Cinema PL1SE em teste: Um cinema na sala

Hisense Laser Cinema PL1SE em teste: Um cinema na sala

Bioblitz: A festa que celebra a biodiversidade do Parque de Serralves

Bioblitz: A festa que celebra a biodiversidade do Parque de Serralves

Portugal visto pelos estrangeiros

Portugal visto pelos estrangeiros

As melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot no Eco Rally Portugal

As melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot no Eco Rally Portugal

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

LG lança novos modelos de portáteis

LG lança novos modelos de portáteis

Desconvocada greve dos enfermeiros dos setores privado e social

Desconvocada greve dos enfermeiros dos setores privado e social

É o fim do mundo dos escritórios como o conhecemos, mas está tudo bem!

É o fim do mundo dos escritórios como o conhecemos, mas está tudo bem!

Lisboa através dos tempos na VISÃO História

Lisboa através dos tempos na VISÃO História

Montenegro diz que

Montenegro diz que "foi claríssimo" sobre descida do IRS

Reembolso do IRS: Só se recebe a partir de um valor e também só se paga a partir de outro

Reembolso do IRS: Só se recebe a partir de um valor e também só se paga a partir de outro

Rir é com ela!

Rir é com ela!

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

João Abel Manta, artista em revolução

João Abel Manta, artista em revolução

“Juntos temos mais impacto”: conversa com Paz Braga

“Juntos temos mais impacto”: conversa com Paz Braga

Cristina Ferreira vive momento inesquecível com João Monteiro no Brasil

Cristina Ferreira vive momento inesquecível com João Monteiro no Brasil

Há séculos que não se assistia a nada assim: biliões de cigarras vão emergir nos Estados Unidos este ano

Há séculos que não se assistia a nada assim: biliões de cigarras vão emergir nos Estados Unidos este ano

Os lugares desta História, com Isabel Stilwell: Elvas, capital do Império onde o sol nunca se põe

Os lugares desta História, com Isabel Stilwell: Elvas, capital do Império onde o sol nunca se põe

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

VISÃO Se7e: Celebrar Abril, em casa e na rua

VISÃO Se7e: Celebrar Abril, em casa e na rua

DS E-Tense Performance: Serão assim os superdesportivos do futuro?

DS E-Tense Performance: Serão assim os superdesportivos do futuro?

ULS precisam de meios para contratar psicólogos face à

ULS precisam de meios para contratar psicólogos face à "enorme carência"

25 de Abril contado em livros

25 de Abril contado em livros

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

No primeiro dia de visita aos Países Baixos, Letizia surpreende com ombros nus e saia prateada

No primeiro dia de visita aos Países Baixos, Letizia surpreende com ombros nus e saia prateada

50 anos do 25 de Abril: 14 livros com vista para a liberdade

50 anos do 25 de Abril: 14 livros com vista para a liberdade

Eugenie, a princesa britânica que passa parte do ano na Costa Alentejana

Eugenie, a princesa britânica que passa parte do ano na Costa Alentejana

Em “Cacau”: Regina espanca Filó e deixa-a desfigurada

Em “Cacau”: Regina espanca Filó e deixa-a desfigurada

Bougain: Um ano a reavivar a História em Cascais

Bougain: Um ano a reavivar a História em Cascais

Recorde alguns dos melhores 'looks' de Anya Taylor-Joy

Recorde alguns dos melhores 'looks' de Anya Taylor-Joy

JL 1396

JL 1396

Tuberculose nas crianças: As recomendações da DGS para um diagnóstico atempado

Tuberculose nas crianças: As recomendações da DGS para um diagnóstico atempado

No tempo em que havia Censura

No tempo em que havia Censura

Fed e BCE em direções opostas?

Fed e BCE em direções opostas?

IRS: Falta muito para receber o seu reembolso? Saiba como ler o estado da sua declaração

IRS: Falta muito para receber o seu reembolso? Saiba como ler o estado da sua declaração

Os nomes estranhos das fobias ainda mais estranhas

Os nomes estranhos das fobias ainda mais estranhas

Tesla introduz Model Y Long Range Tração traseira em Portugal

Tesla introduz Model Y Long Range Tração traseira em Portugal

Caras Decoração: escolhas conscientes para uma casa mais sustentável

Caras Decoração: escolhas conscientes para uma casa mais sustentável

No Porto, interiores com identidade clássica e conforto intemporal

No Porto, interiores com identidade clássica e conforto intemporal

Philippe e Mathilde da Bélgica oferecem jantar de gala aos grão-duques Henri e Maria Teresa do Luxemburgo

Philippe e Mathilde da Bélgica oferecem jantar de gala aos grão-duques Henri e Maria Teresa do Luxemburgo

TSMC vai cobrar mais pelos chips fabricados fora de Taiwan

TSMC vai cobrar mais pelos chips fabricados fora de Taiwan

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites