Apesar do céu cinzento de Amesterdão, o edifício sede da Rituals é luminoso, com paredes brancas e madeiras clarinhas. Somo recebidos pelo não menos iluminado Raymond Cloosterman, numa sala de reuniões com grandes janelões para o rio Amstel. Aqui entre nós, o fundador e presidente da empresa foi chamado pela Vanity Fair americana a versão holandesa do James Bond. E pelo que li sobre ele durante o voo, tem algum espírito de 007, considerando que na sua ‘bucket list’ (o que fazer antes de morrer) encontramos “fazer esqui puxado por um helicóptero”.
À boa maneira nórdica – não há tempo a perder em grandes almoçaradas – aqui come-se e conversa-se ao mesmo tempo. E é entre uma ou outra dentada de uma sanduiche de peru fumado, e com cuidado para não ficar com um sorriso de pão de sementes, que pergunto a Raymond sobre a melhor e a mais difícil decisão que teve de tomar desde que lançou o negócio, em 2000. “A melhor foi a de continuar em frente, mesmo depois de cinco anos de investimento sem retorno. A mais difícil foi a de sair do mercado brasileiro, onde a marca não teve o sucesso esperado”, diz ao mesmo tempo que decide a salada que levará para o seu almoço. Hoje, retorno financeiro e sucesso não faltam à Rituals, que conseguiu provar que no mundo da cosmética é possível ter uma experiência de luxo a um preço mais acessível – em janeiro deste ano foi mesmo considerada pela Rotterdam School of Management a empresa holandesa com crescimento mais rápido e até ao final deste ano contará com 650 lojas próprias em todo o mundo.
Seguimos viagem e chegamos ao que parece uma antiga escola e que agora é, segundo me dizem, uma das discotecas da moda em Amesterdão. ‘Express Your Soul Pop Up Gallery’ é o que se lê numa tela em exposição. Sabemos que estamos ali para conhecer a Nova Edição Limitada de Verão da Rituals, essa a principal razão da nossa viagem àquela cidade holandesa.
À nossa espera estão duas mulheres com uma energia tão positiva como a da marca que ali estão a representar. Uma é Niki Schilling, diretora de inovação, e é graças a ela que, no fim, regresso a Lisboa em paz com a necessidade de exfoliar o corpo uma vez por semana e disposta a abdicar de 10 minutos dos meus dias frenéticos para saudar o sol (é também Niki, instrutora credenciada de ioga Anusara, que nos dará uma aula no dia seguinte, no topo da chamada Torre A’dam, com uma vista fantástica sobre a cidade.
Passou pelo marketing de multinacionais como a Adidas, Nike e Heineken, até que uma crise pessoal a obrigou a abrandar o ritmo e a fazer um intervalo na carreira. Durante um ano viajou pelo mundo inteiro, a fazer ioga, surf e a ter ‘formação’ com curandeiros e life coaches, da África do Sul a Bali. Há pouco mais de um ano, encontrou a sua alma gémea profissional, a Rituals, e digo alma gémea porque, agora conhecendo melhor as duas, percebo que partilham da mesma filosofia, que é retirar prazer das coisas mais simples da vida. (“Adoro Portugal, fui com uma amiga e ela já não voltou à Holanda comigo, ficou a viver em Aljezur”, conta com entusiasmo”.)
E não é por acaso que naquela tarde chuvosa, em Amesterdão, Niki se faz acompanhar de outra mulher visivelmente de bem com a vida. Claudia Walde, mais conhecida por MadC, é a street artist feminina mais famosa do mundo. (E claro que conhece o nosso Vhils, a quem tece os mais sinceros elogios, como artista mas também como pessoa: “A fama não lhe subiu à cabeça”, diz-nos em conversa). Foi convidada para ‘expressar a alma’ desta nova coleção da Rituals: é ela que assina a ‘imagem’ das embalagens. “A nova edição limitada de verão tem como tema ‘Express Your Soul’ [expresse a sua alma]. Um tema que se adequa ao meu estilo de vida”, conta MadC, “expressar o meu verdadeiro eu tornou-se a minha paixão. A vida é uma obra de arte e os rituais diários são as cores que compõem a pintura que é as nossas vidas. A filosofia da Rituals é que a felicidade pode ser encontrada nas coisas mais simples, um slogan em que revejo perfeitamente a arte que crio nas paredes das ruas, porque o que faço é tentar abrir os olhos às pessoas e permitir que elas encontrem prazer numa coisa tão simples como andar na rua.”
Claudia Walde encontrou na arte uma forma de expressar os sentimentos menos positivos quando, durante a infância, foi obrigada a deixar os campos da Etiópia para regressar à mais rígida Alemanha. Pegou pela primeira vez numa lata de tinta na adolescência e foi com os rapazes e na rua – não numa escola de arte – que se iniciou no graffiti. Mas sente-se privilegiada por ser mulher: “Tenho liberdade para fazer muito mais, como usar o cor-de-rosa sem restrições”, brinca.
A tarde acaba com um convite aos jornalistas para se expressarem. À nossa espera umas telas minúsculas e inúmeras latas de tinta. Aqui está o resultado. Será que me devo preocupar? O melhor é mesmo aderir ao ioga, está visto.
Obrigada Niki….