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Milos Jokic

*Artigo originalmente publicado em 2016

Imagine que vai na rua. Ou está em casa no sofá a ver a telenovela. Ou que vai ao volante para o trabalho. De repente, o coração dispara, tem tonturas e um terrível medo de morrer, uma angústia inexplicável e incapacitante. O mais estranho: sabe que algo de horrível vai acontecer, mas não há nenhuma razão lógica para isso. Não vem ninguém atrás de si, não está a ter um AVC, nem sequer estava a pensar em nada particularmente ameaçador. Ou seja: um ataque de pânico é uma reação natural do corpo a um perigo… que não existe.
Há quem diga que a ansiedade a que está sujeita a nova geração está a potenciar este pânico. Segundo um estudo da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal é um dos países da Europa com maior percentagem de doenças do foro da ansiedade: 16% das pessoas são afetadas, principalmente os mais jovens.

MEDO REAL, PERIGO IRREAL

Decidimos bater à porta de uma especialista para saber, afinal, como podemos defender-nos deste medo exacerbado. E há uma forma diferente de o fazer, graças à hipnoterapia. Maria João Dias é hipnoterapeuta e ajuda inúmeras pessoas a superar problemas psicológicos como ansiedade extrema, ataques de pânico ou depressões, e afirma que cada experiência é única: “As pessoas sentem estes ‘ataques’ de forma diferente, mas referem sempre um medo paralisante e uma sensação de angústia inexplicável, só semelhante ao medo da morte.
É muito assustador para quem o sente.”
E a mim, pode acontecer? Quem é que tem mais probabilidades de ter um ataque de pânico? Se eu for mais ansiosa corro mais riscos? “Sim, de maneira geral, as pessoas mais ansiosas têm mais propensão a ataques de pânico do que uma pessoa mais tranquila. Geralmente são pessoas já com algum tipo de fobia, que não gostam de andar de elevador ou de avião, ou de passar por túneis.”
Combater estes medos passa por saber de onde vêm: porque o perigo existiu, em qualquer momento que não aquele. “A minha abordagem é que tudo tem uma razão de ser”, explica Maria João Dias. “Se alguém se queixa de ataques de pânico é porque já viveu uma situação em que sentiu um medo muito semelhante àquele que agora sente, embora possa não se recordar desse evento. É como se as pessoas fossem juntando situações de medo até haver um detonador em que tudo explode.”
Portanto, estas situações advêm mesmo de uma situação de medo real. “Imagine que aquela pessoa ficou fechada dentro de um armário quando era pequenina. Esta situação de pânico foi real naquele momento para aquela criança. E estas memórias de medo repetem-se mais tarde.”
Normalmente, a primeira vez que o medo vem à tona está de alguma maneira relacionado com a situação de origem, mas depois tende a repetir-se aleatoriamente, em situações que aparentemente não se justificam, ou em alturas de mais ansiedade. “Pode ter medo de voar e sabe que, se entrar num avião, isso vai acontecer, mas pode noutra altura estar em casa a falar com o marido e os filhos e ter um ataque.”
A certa altura, a pessoa já tem pânico dos ataques de pânico? “Claro que sim. É precisamente isso que temos de resolver. Em hipnoterapia, os ataques de pânico são uma coisa relativamente simples de tratar, em duas ou quatro sessões consegue-se ir à origem do problema. Mas depois temos de tratar o medo dos próprios ataques.”

Hipnose sem segredos

Como é que eu recupero e ‘desmonto’ estas memórias de modo a que deixem de me fazer mal? “O que encontramos sempre são circunstâncias em que a pessoa teve muito medo, e o que há a fazer em seguida é retirar o medo associado a essas circunstâncias”, explica Maria João. “Pedimos à pessoa, por exemplo, para imaginar que retira essa criança do armário. E é possível fazer isto com todas as situações, não há nenhuma que não possa ser ‘destraumatizada’. No fundo, vamos suavizar essa situação. Pomos a criança a ver essa situação da perspetiva de um adulto, e assim retiramos o trauma a estas memórias.”
E sim, isto é feito sob hipnose, mas se já está a pensar que vão pô-la a cacarejar, acalme-se: a hipnoterapia não tem nada a ver com a hipnose de palco. Ninguém vai obrigá-la a fazer nada contra a sua vontade, ninguém vai dominá-la ou fazê-la confessar segredos de família. “A hipnose é um estado de relaxamento muito ligeiro, em que a pessoa está sempre consciente, está-nos a contar as suas experiências, mas como está relaxada tem a possibilidade de aceder muito mais facilmente a memórias que de outra maneira estariam guardadas no inconsciente. As pessoas acham que vou pô-las a dormir, mas não é isso que acontece: se não estivessem conscientes, não conseguiriam conversar comigo.
A pessoa não revela nada que não queira partilhar, e depois da sessão é óbvio que se lembra de tudo.”
Então, começamos a perceber por que é que agimos de determinada forma em certas situações. O facto de percebermos não é o suficiente para nos ajudar a ultrapassá-las, mas é o princípio para nos ajudar a libertar as emoções que ficaram lá presas. Ou seja, aquela menina fechada no armário ficou com um medo cristalizado que nunca exteriorizou a não ser nos momentos de pânico. E temos de a ajudar a libertar-se.

Tempo para sentir

Socorro! Quando um ataque está a acontecer, que posso fazer para acalmar? “Quando um paciente me telefona durante um episódio, o que eu faço é conversar com ele e acalmá-lo, tentando que a minha voz seja uma fonte de tranquilidade, lembrando que aquelas emoções são passageiras e que aquele medo tem um tempo diminuto”, explica Maria João Dias. A primeira coisa a ter em conta durante um ataque é isso mesmo: que é passageiro e dura pouco tempo. Mas muitas pessoas ficam mesmo perturbadas. “Até porque muitas vezes as pessoas com ataques de pânico são controladoras, e aqui sentem que estão a perder o controlo, o que se torna ainda mais assustador.”
E afinal, a culpa também é do mundo? Os ataques estão a aumentar porque estamos dominados pelo stresse? Sim e não. “Ao contrário do que se pensa muitas vezes, temos agora uma vida muito melhor”, nota a psicóloga e hipnoterapeuta. “É verdade que existe stresse, mas dantes não existia também? Os nossos avós tinham uma vida muito mais dura, mas estavam preocupados com a sobrevivência. Não acredito que muitos deles não tivessem ataques de pânico, mas não tinham tempo para estar doentes nem tristes nem com medo, nem ferramentas para lidar com isso. Neste momento, como estamos menos preocupados com a sobrevivência básica, podemos ‘sentir’ mais. Hoje, valorizamos mais a tristeza, sabemos como é importante dizer que estamos tristes, e ainda bem que isso acontece.”

ANSIEDADE NA PASSADEIRA VERMELHA

Os famosos também têm ataques de pânico, e não o escondem: Amanda Seyfried já disse que vai regularmente a um terapeuta para a ajudar a lidar com os seus ataques, de que sofre regularmente desde criança. Emma Stone também tinha ataques de pânico desde pequena, em que nem sequer conseguia sair de casa com medo que alguma coisa terrível lhe acontecesse. Oprah Winfrey estava num período de imenso trabalho quando a vida lhe fugiu ao controle, e teve de fazer um esforço consciente para aprender a acalmar-se e a respirar.
A pressão de Hollywood não ajuda, e as ‘estrelas’ admitem que por vezes se sentem demasiado ansiosas.

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