É fácil reconhecer um choninhas: é o que não a olha nos olhos quando fala consigo e que lhe diz frases feitas umas atrás das outras. Há vários tipos dentro da categoria choninhas, mas os mais conhecidos são:

O choninhas-base

Antes de mais, temos de definir o que é um choninhas. A definição básica de choninhas é: tipo completamente desinteressante. Estranhamente, há várias maneiras de se ser completamente desinteressante, e é preciso aprender a distingui-los para definir a melhor arma de defesa. É que o maior erro é pensar que um choninhas, lá porque é completamente desinteressante, não tem perigo. Um choninhas pode ser fatal precisamente porque achamos que não temos de nos defender deles. O choninhas é um ‘sniper’ em potencial. Um choninhas enfurecido pode revelar-se um Bin Laden em violência destrutiva e vingança cega.

O choninhas engravatado

Ao contrário de outros engravatados, o choninhas gosta genuinamente de andar engravatado. Quanto mais igual ao rebanho se sentir, melhor. O maior fantasma do choninhas é ser um inadaptado, e a gravata dá-lhe a sensação de que pertence a um mundo honesto, prestigiante e seguro. O choninhas é o rei dos tabus, inclusive os linguísticos: não diz comer, diz ‘ingerir’, não diz morrer, diz ‘falecer’, não diz cego, diz ‘invisual’. Foge de discussões sobre assuntos quentes, como política ou os direitos dos homossexuais. Tem uma completa ausência de abismos, ou então não dá por eles. Também tem uma completa ausência de sentido de humor: a gente diz-lhe uma piada, ele pestaneja e ofende-se ‘é incrível que digas uma coisa dessas’.

O choninhas intelectual

Importante: não confundir com os espertos que se mascaram de burros para se protegerem, tipo ‘nerds’. É duro ser esperto num mundo de burros, aliás já houve propostas de criação do ‘Movimento para a Libertação dos Espertos’ (MOLE) mas o choninhas intelectual não é necessariamente esperto. O choninhas com opinião farta-se de escrever para os jornais a protestar contra a falta de valores actual. Como não tem nenhum sentido de humor, muito daquilo que se escreve passa-lhe ao lado, e passa a vida a ofender-se com os temas das crónicas de opinião. É o rei dos lugares-comuns: farta-se de dizer coisas como ‘ o pior do Natal é este terrível consumismo’, ‘não há amor como o primeiro’, ‘as crianças são o melhor do mundo’, ou ‘os políticos são todos iguais’. E também diz dele mesmo que quer ser ‘igual a si próprio’.

O choninhas engraçadinho

É o que acha que tem imensa graça e não tem graça nenhuma. Leva tudo pela rama e confunde cúpula com cópula. Não se importa nada com os seus próprios dislates, o que é uma benção, pelo menos há alguém que vive feliz neste mundo.

O choninhas lá do trabalho

O seu lema: Não fazer ondas e não dar bandeira. Diluir-se no ambiente o mais possível. É perito em técnicas de camuflagem que lhe permitam passar despercebido, seguindo as regras da selva: quem é visível arrisca-se a ser abatido mais depressa. Ao contrário do que se poderia pensar, os choninhas são os maiores candidatos a chefes e são muitas vezes promovidos. Como não fazem ondas, não dão uma sensação de perigo e os chefes máximos acham que eles são facilmente controláveis. Têm razão, porque os choninhas costumam adorar a cadeira do poder. Não se defendem dos choninhas ambiciosos que manipulam por trás e quando se dá por isso, já os choninhas estão sentadinhos lá no alto.

O choninhas lá da escola

O choninhas geralmente não é popular. Há várias razões para isto: primeiro porque ser popular dá trabalho e os choninhas geralmente são preguiçosos. Depois porque um popular é uma pessoa exposta, e isso vai contra todas as regras do choninhas, que é perito na invisibilidade. Depois, porque a maioria das pessoas se afasta instintivamente do choninhas, ninguém sabe porquê, talvez porque quando se é uma boa alma e se sorri para um choninhas, ele nunca mais nos larga. Um choninhas tem uma imensa predisposição para tornar-se Melga. Está sempre apaixonado pela chefe de turma ou pela bomba loira, porque ambas lhe dão sensação de poder.

O pretendente choninhas

Passa a vida a queixar-se de que não tem sorte com as mulheres, o que é um mistério apenas para ele. As razões são várias: um choninhas não tem poder (pelo menos aparente). Não tem carisma. Não se impõe. Geralmente tem um ar preguiçoso. É chato. Curvadinho. Deprimido. Pouco simpático. Não sabe ouvir os outros. Não põe os pés num ginásio. Não sabe o que é sofrer. Nem correr. Não se esforça. Não oferece nada de novo. Não tem iniciativa. Não tem conversa. Não gosta verdadeiramente das outras pessoas. Não gosta verdadeiramente de mulheres, mas não é  ‘gay’ porque também não gosta verdadeiramente de homens. Não gosta verdadeiramente de nada. Anda sempre preocupado e sempre de orelhitas viradas para outro lado. Não apela às emoções. Não olha nos olhos. Enfim, só ele é que acha que é um bom partido.

O chefe choninhas

Quase nem se dá por ele, mas não deixe de fazer o seu trabalho como se ele não existisse. Não tente passar-lhe por cima ou confrontá-lo directamente: um chefe choninhas geralmente tem noção da sua choninhice e isso enerva-o, acha sempre que toda a gente está mortinha por passar-lhe a perna e sentar-se em vez dele na cadeira do poder, que era o que ele faria no lugar deles. Peça-lhe opinião muitas vezes, mesmo que pense ‘mas que bimbo!’ ou ‘mas como é que este homem veio aqui parar?’

Deixa a árdua tarefa de negociar horas de entrada, fiscalizar os trabalhos de casa e controlar o tempo de playstation à mulher. Aliás, deixa todas as tarefas, desde ir passear o cão a preencher o  à mulher. Depois queixa-se que ela anda a contar à família inteira que ele não sabe nem andar de metro. Serve-se da sua choninhice para ter alguns ‘affairs’ fora de prazo. Geralmente, acaba sempre por dar em ex-marido. Quando tem ele próprio de lidar minimamente com uma criança, deixa-a rapidamente com a avó.

O filho choninhas

Nem se dá por ele até fazer 15 anos, quando fica enfiado no quarto a ouvir os ‘Slipknot’, os ‘Canibal Corpse’ ou o Marylin Manson até às 3 da manhã. Depois anda a cair de sono o dia todo convencido que é muito homem e que ninguém o entende. Nas festas embebeda-se mais do que os outros para provar que qualquer Clark Kent pode ser Super-Homem, embora provavelmente nem nunca tenha visto o Super-Homem. Sonha provar o seu valor, mas como não faz ideia de quais são as suas qualidades é difícil provar o que quer que seja.

O namorado choninhas

Os choninhas costumam casar com dominatrixes porque odeiam dar ordens, pensar, decidir, organizar. Aliás, nunca é um choninhas a casar com ninguém, é sempre outra pessoa a casar com um choninhas, porque eles até para se apaixonarem são preguiçosos. Nunca se apaixonam verdadeiramente, porque a paixão requer a alma toda e o choninhas nunca dá tudo de tudo, tem medo que a qualquer momento possa vir a precisar da alma e ela já lá não estar. Querem alguém que se ocupe de tudo porque viveram com a mãe até aos 43 anos e não estão habituados a ter as rédeas na mão, embora sonhem várias vezes com o dia da libertação do jugo feminino. Geralmente, é sempre a namorada que se farta e que lhe dá com os pés. O choninhas nunca dá com os pés em ninguém porque tem pavor de ficar bandonado. Quando vão jantar fora, o choninhas fica horas sentadinho no carro à espera que a namorada decida onde é que vão jantar, depois fica horas à mesa sem pronunciar uma única palavra, a olhar para o casal da mesa ao lado, e no fim ainda insiste para pagarem a conta a meias. Nunca tem um gesto especial fora da pasmaceira, nunca traz flores, nunca a rapta para um fim-de-semana mistério, nunca a leva para ver o nascer do sol. Que haja alguém que queira genuinamente estar com o choninhas só prova o desespero das mulheres.

O amigo choninhas

Anda sempre em grupo e tem paixão pelo chefe do bando, que segue cegamente. Aliás, o chefe serve-se dos choninhas, a quem escraviza, e que adoram serem escravizados. Com amigos, chefes ou namoradas, o choninhas tem sempre uma relação baseada no poder. Ou é dominado ou então acha que a outra pessoa não tem pulso e despreza-a.

O falso choninhas

É a sonsa em gajo, que também existe. É um intriguista de primeira, que faz por trás aquilo que não tem coragem de fazer pela frente. Também pode ser bom: o tímido que, quando apanhado longe da mãe que o abafa, dos amigos que o escondem ou do amigo extrovertido que o tapa, solta a franga, e revela o macho que há em si. Tem ar de choninhas, gravata de choninhas, escoliose de choninhas, mas depois quando se consegue apanhá-lo a sós é o Woddy Allen. Ou enfim. Faz uma boa imitação.

E as choninhas?

Ao contrário dos choninhas, que repelem as mulheres, as choninhas atraem os homens (a não ser, pois, os choninhas…). Quase todos adoram aquele ar sonso (acham logo que, se são umas ladies na mesa, vão ser aquilo que vocês sabem na cama), adoram o olhito caído, e não distinguém um ar falsamente desprotegido de um ar verdadeiramente desprotegido, tal como não distinguem uma falsa loira de uma verdadeira loira, até porque a diferença entre a verdade e a mentira a eles não lhes interessa nada. O que lhes interessa é que uma choninhas não vai querer debater o PIB com eles, nem fazer cenas de faca e alguidar em pleno restaurante, nem rir-se muito alto à frente dos amigos. A verdadeira choninhas é um ser quase invisível, vestidinha como toda a gente, sentadinha a concordar com toda a gente e com opiniões como as de toda a gente. Ao contrário dos homens, geralmente é simpática, e por isso poem-na muitas vezes no atendimento ao público. Geralmente, também é roubada à força toda. A verdadeira choninhas deve ser a criatura mais mal paga do planeta. Mas aguentem que, mais dia menos dia, ela acorda e como dizia o Cesário Verde, ‘os povos humilhados, pela noite, para a vingança aguçam os punhais.’

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