Regra geral, não é coisa que nos agrade muito: pensar sobre a vida. Mas estes três livros fazem-no muito bem, cada qual à sua maneira. Que fazemos agora, que não sabemos o que fazer? Através da imaginação, cada um se põe várias hipóteses: e se eu me vingasse das pessoas que me fizeram mal? E se eu passasse a viver apenas nos meus sonhos? E se eu me deixasse morrer em vez de continuar neste mundo tão complicado?
E depois, cada um tomará a sua decisão: e nós com eles.
Austrália, anos 50. Tilly aprendeu a arte de modista em França, mas um dia regressa à pequena cidade onde nasceu – e de onde foi expulsa. Primeiro fica apenas para tratar da mãe, depois fica de vez. E enquanto vai conquistando as mulheres da cidade com o seu enorme talento para tecidos e agulhas, planeia também a sua vingança.
Pronto, esta é a ‘história’, mas o livro tem pouco a ver com o que se imagina. O que quer que se imagine, é mais ‘gótico’, mais profundo, mais divertido e mais chocante. Tudo misturado, em ‘A Modista’ (Rosalie Ham, Ed. Presença, €16,50)
Em ‘A Vida Aqui e Agora’ (Cynthia Swanson, Bertrand, €17,70) avançamos para Denver, anos 60, onde Kitty gere uma livraria. Um ano depois, uma outra mulher, Katharyn, é casada, tem filhos maravilhosos, uma bela casa e muitos amigos. Problema: esta mulher só existe nos sonhos de Kitty. Outro problema: estes sonhos tornam-se cada vez mais reais. Mas será que podemos viver ‘em sonhos’? Imaginativo e bem escrito, podemos lê-lo apenas como uma fantasia, ou como uma metáfora daquilo que queremos: de que são feitos os sonhos? Podemos ter a vida perfeita? Podemos ter aquilo com que sempre sonhamos ou isso é, enfim, só um sonho?
As muitas admiradoras de Sándor Márai já sabem o que esperar: sai-se sempre com a sensação de que se está mais velha e mais sábia. Em ‘A Irmã’ (Ed. D. Quixote, €15,90), um pianista passa a noite num albergue, em pleno inverno, em plena guerra, onde se dá um suicídio. Depois dessa noite que o faz pensar naquilo que quer da vida, acaba por ser internado num hospital, muito doente, onde é tratado por freiras. Aqui está mais um livro que não é o que se espera: a estada entre a vida e a morte é o pretexto para uma reflexão sobre a guerra, (bastante a propósito, nos tempos que correm), o sofrimento, o amor, e a morte – e sobre a bela irmã Cherubina, que lhe dá banho. Viver ou morrer: pode ser uma questão de escolha?