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Por que temos recordações de uma vida inteira e outras de apenas horas?

A memória é uma máquina tão bem oleada que nos permite arquivar informação apenas durante o período de tempo em que precisamos dela ou guardar as experiências emocionais mais intensas durante toda a vida. Os estudiosos classificam assim os diferentes tipos:

Memória declarativa: é feita de acontecimentos que podem ser traduzidos por palavras e que divide-se em:

Memória de curto prazo ou de trabalho – É uma espécie de caderno de apontamentos do nosso cérebro, que nos permite fazer todas as tarefas diárias, seja assentar um número de telefone ou responder a uma pergunta. Aqui, as informações têm um carácter mais instável, qualquer distracção e deitamos tudo a perder. Tal como a memória RAM de um computador, tem um espaço mais limitado. Segundo o psicólogo George Miller, só absorvemos bem sete elementos de cada vez, como os algarismos de um número de telefone.

Memória de longo prazo – Pode durar meses, anos ou a vida inteira. É aqui que encaixam experiências como aprender uma língua nova, memórias de infância e as novas informações que lhe chegam diariamente e que a memória de curto prazo passa a informações permanentes.

Memória de procedimentos: aquilo que sabemos fazer, as nossas aptidões, como andar de bicicleta ou cozinhar. São as mais difíceis de perder.

Por que temos sensações de déjà vu?

Esta expressão francesa significa ‘já visto’ e acontece a todos. Corresponde àquela estranha sensação de que já se viveu (ou sonhou) com aquele preciso momento, com aquela frase dita por aquela pessoa… mas, no fundo, sabemos que nada daquilo se passou ainda. São experiências curtas: duram entre dez e 30 segundos. Mas serão uma premonição? Os cientistas dizem que não. O médico Robert Efron explicou-o em 1963 com a teoria da visão atrasada ou do duplo processamento. O lobo temporal do hemisfério esquerdo do cérebro é responsável por receber novas informações. Efron descobriu que esse centro recebe informações duplicadas: uma chega ali directamente e outra passa primeiro pelo hemisfério direito, com um atraso normal de milionésimos de segundo. Se esse atraso for um pouco maior, confunde o cérebro, levando-nos a pensar que se trata de uma memória passada, porque o hemisfério esquerdo já o registou.

Alan Brown, investigador da Duke University, nos EUA, explica-o com a sua teoria da atenção dividida. É como se estivéssemos a falar ao telemóvel: captamos de forma subliminar aquilo que nos rodeia, sem prestarmos verdadeira atenção. Quando estamos focados e nos deparamos com as mesmas imagens ou palavras, elas parecem-nos familiares, mesmo quando não deveriam ser.

Algumas lesões no córtex temporal podem desencadear déjà vu crónico, como se os ‘interruptores’ de memórias estivessem encravados e nunca desligassem, criando falsas recordações permanentes.

Por que temos esquecimentos?

Tendemos a pensar no esquecimento como uma falha, quando se trata de um processo normal nas funções da memória. Segundo ‘The Memory Experience’, um artigo online publicado pela BBC sobre o estudo da memória, se excluirmos doenças como o Alzheimer, uma pancada que provoque traumatismo ou um AVC, o esquecimento acontece porque as memórias se vão enfraquecendo naturalmente com o tempo e as conexões formadas entre os neurónios se desgastam, sobretudo se não forem usadas. Outra explicação propõe que esquecemos porque outras informações, novas ou antigas, actualizam ou entram em contradição com as que memorizámos previamente. Então, o cérebro descarta-se delas. O nosso espaço de memória é limitado, tal como num computador, e o esquecimento funciona como uma espécie de filtro que nos impede de ficarmos sobrelotados de informação inútil.

Esquecimentos frequentes – não saber onde pus as chaves do carro – podem ser os primeiros sintomas de doença de Alzheimer?

As perdas de memória dos doentes de Alzheimer – ou de qualquer outro tipo de demência – são permanentes. Esquecer-se onde pôs as chaves do carro ou a mala não significa que esteja a caminhar para a senilidade, mas que lhe faltou concentração no momento de memorizar. A informação não foi bem guardada de início. Se não visualizar o local onde estacionou – no quinto lugar da quarta fila ou entre as duas árvores e frente à padaria – e repetir mentalmente a fórmula, vai ser mais difícil encontrar o carro quando regressar. Stresse e depressão podem originar falta de concentração que, felizmente, e ao contrário da perda de memória, é reversível.

Por que não conseguimos lembrar-nos de nomes que estão ‘debaixo da língua’?

Qual é a capital do Egipto? Ups… Sabe a resposta, visualiza as ruas apertadas dos bazares, até tem a ideia de que começa com C… mas a frustração vence-a e não é capaz de dizer o nome. A psicóloga norte-americana Deborah Burke diz que ter um nome ‘debaixo da língua’ acontece porque há uma quebra na ligação entre o conceito e a pronunciação da palavra. Ou seja: sabemos a resposta, mas esquecemo-nos temporariamente de como a dizer. Demasiado simplista?

As nossas memórias não são elementos únicos e estanques. A cada conceito que formulamos corresponde uma palavra dita ou escrita, imagens ou ideias que lhe associamos. Alberto Oliverio, na obra ‘A Memória e os Seus Segredos’ [Editorial Presença], explica que este fenómeno acontece porque só conseguimos encontrar parte da informação necessária para produzir uma recordação completa. Quando, mais tarde, o nome aparece do nada, como por milagre, é porque, mesmo inconscientemente, o cérebro continuou a trabalhar na procura de uma resposta.

Todas as nossas recordações são verdadeiras?

Nem tudo o que nos ‘lembramos’ aconteceu mesmo. A investigadora norte-americana Elizabeth Loftus concluiu que somos vulneráveis ao que chama “memórias pós-evento”: factos, imagens ou sugestões feitas por outras pessoas, após o acontecimento que tornámos memória. Inconscientemente também as fixamos e, com o tempo, deixamos de perceber o que experimentámos mesmo e o que é palavra de outros. Para provar a sua teoria, Loftus pediu a um dos seus alunos que desse ao irmão de 14 anos, Chris, um parágrafo com quatro memórias de infância. Nos cinco dias seguintes, pedia-se a Chris que escrevesse mais pormenores sobre essas situações. Mas uma das histórias era falsa – um relato de quando se tinha perdido no centro comercial, aos cinco anos. Depois, pediram-lhe que classificasse, de um a 11, o grau de clareza com que se lembrava de cada um dos eventos: a história falsa foi escolhida como a segunda mais clara. Quando lhe deram a notícia de que uma das memórias era falsa e lhe pediram para adivinhar qual, escolheu uma das verdadeiras. O rapaz teve alguma dificuldade em aceitar que o episódio do centro comercial fora fabricado…

Como posso exercitar a memória?

Ela é como um músculo: tem de a treinar ou as informações enfraquecem. Eis algumas estratégias para o dia-a-dia.

Resolva palavras cruzadas e Sudoku:  um estudo do Trinity College de Dublin avança que estes jogos melhoram a memória e podem rejuvenescer o cérebro até 14 anos.

Mantenha um corpo são:  o mesmo Trinity College levou a cabo um programa de exercícios aeróbios para maiores de 70 anos e concluiu que também são benéficos às funções cerebrais. A prática de desporto estimula a oxigenação do sangue, irrigação do cérebro, mas também a produção de serotonina, substância com papel importante nas conexões entre neurónios. As áreas do cérebro responsáveis pela memória, atenção e tomada de decisões são as mais beneficiadas.

O ómega 3 é seu aliado: estes ácidos gordos essenciais facilitam a troca de informações entre neurónios, potenciando aprendizagem e memória. Encontra-os nos peixes gordos, como o salmão e a sardinha, e em suplementos.

Tenha passatempos interessantes: um estudo de 2002 feito com mais de 700 idosos norte-americanos sem sinais de senilidade concluiu que actividades diárias, como jogos de cartas, puzzles, visitar museus e ler, impede a degradação da memória e evita o aparecimento de doença de Alzheimer.

Melhore a concentração e atenção: Alberto Oliverio aconselha alguns exercícios simples:

1. De um livro ou revista com imagens, escolha dez e atribua-lhes um número. Seleccione cinco (não tem de ser por ordem) e, numa folha de papel, descreva o que viu em cada imagem. Depois, faça o mesmo com as cinco figuras restantes. Passado algumas horas, escreva aquilo que se lembra das dez imagens e compare com a primeira folha.

2. Leia cada uma das seguintes sucessões de números durante dois segundos. Levante os olhos do papel; pronuncie e escreva os números que memorizou, mas pela ordem contrária. Exemplo: se memorizou 374, escreva e diga 473. A maioria das pessoas dá cinco respostas certas; seis respostas certas indicam atenção e memória acima da média; menos de três  apontam “sérios problemas de memória”.

1 6 5

3 2 6 4

5 6 1 9

1 9 3 6 7

2 8 5 6 3

9 7 6 3 8 2

5 8 1 4 3 9

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