Sim, eu sei que não é fácil.
Para as mulheres e homens que passam ou passaram na primeira pessoa por esta realidade, não é fácil. Para os filhos que presenciaram e sentiram, independentemente da fase de desenvolvimento em que se encontravam, esta realidade, não é fácil. Para os pais, tios, primos, amigos e as demais pessoas significativas que rodeiam e/ou rodearam pessoalmente estas personagens principais, não é, igualmente, de todo, fácil.
Não é fácil, mas é necessário.
Não é fácil porque parece que sentimos que nos estão a tocar, e por vezes a invadir, feridas muito profundas. Muitas delas, ainda não saradas. Feridas que derivaram da sensação de penetrante ansiedade, irritabilidade e/ou tristeza que assolou inúmeros momentos que se expectavam de grande felicidade e leveza e se tornaram em momentos densos – pequenos pesadelos – que preferimos maioritariamente esconder. Dos quais pretendemos fugir, ou ultrapassar o mais rapidamente possível, para viver, finalmente, os tais momentos ímpetos de doces e confortáveis sensações associadas à tal maternidade e paternidade, esperada por nós, e por todos, ao longo de tantos meses, e por vezes, anos.
E atenção, que fugir, tentar ultrapassar, não falar, esconder ou até mesmo fingir que não aconteceu, ou não está a acontecer, é de alguma forma, condenável. Não estou aqui para julgar. Estou simplesmente a escrever, para tentar sensibilizar todas as personagens que já fizeram parte do enredo do filme denominado por Depressão Pós-Parto, para a partilha. Estou simplesmente a escrever, porque acredito que falar sobre Depressão Pós-Parto, seja quem passou na primeira ou na segunda pessoa, seja quem viu de longe, ou nunca viu, seja muito melhor do que ficar calado. Se pensarmos bem, é exatamente por andarmos calados durante tantos anos (e continuarmos) que temas como este, temas como a Depressão Pós-Parto, ainda são motivo de ligação a sentimentos de culpa, vergonha e autojulgamento por parte de muitos homens, mulheres e respetivas famílias que passam ou já passaram por situações como esta.
Ficarmos calados perante esta realidade, é o mesmo que gritar silenciosamente uma dor que não passará por si só. Para mim, é o mesmo que sermos cúmplices das passagens que farão parte da nossa história como consequência da vivência desta realidade, desta patologia que é, e que precisa de acompanhamento especializado. Deste universo de informação que estudo, interpreto e falo todos os dias, acreditando que desta forma, outros se juntarão a mim para falar também sobre o tema. Falar, para também aliviar o que for possível dessa realidade que se instala, muitas vezes de fininho sem nos apercebermos, e outras de forma tão abrupta, nas pessoas que com ela lidam ou já lidaram. Deste apelo que é, a Depressão Pós-Parto.
Por isso, eu desafio-vos a falar, ou pelo menos, a refletirem sobre o tema e compreenderem se vos faz algum sentido.E então, vamos falar sobre Depressão Pós-Parto?
Ana Vale, autora do blog Mulher Filha Mãe