iStock_13832972_SMALL.jpg

Milos Jokic

*Artigo originalmente publicado em 2016

Imagine que vai na rua. Ou está em casa no sofá a ver a telenovela. Ou que vai ao volante para o trabalho. De repente, o coração dispara, tem tonturas e um terrível medo de morrer, uma angústia inexplicável e incapacitante. O mais estranho: sabe que algo de horrível vai acontecer, mas não há nenhuma razão lógica para isso. Não vem ninguém atrás de si, não está a ter um AVC, nem sequer estava a pensar em nada particularmente ameaçador. Ou seja: um ataque de pânico é uma reação natural do corpo a um perigo… que não existe.
Há quem diga que a ansiedade a que está sujeita a nova geração está a potenciar este pânico. Segundo um estudo da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal é um dos países da Europa com maior percentagem de doenças do foro da ansiedade: 16% das pessoas são afetadas, principalmente os mais jovens.

MEDO REAL, PERIGO IRREAL

Decidimos bater à porta de uma especialista para saber, afinal, como podemos defender-nos deste medo exacerbado. E há uma forma diferente de o fazer, graças à hipnoterapia. Maria João Dias é hipnoterapeuta e ajuda inúmeras pessoas a superar problemas psicológicos como ansiedade extrema, ataques de pânico ou depressões, e afirma que cada experiência é única: “As pessoas sentem estes ‘ataques’ de forma diferente, mas referem sempre um medo paralisante e uma sensação de angústia inexplicável, só semelhante ao medo da morte.
É muito assustador para quem o sente.”
E a mim, pode acontecer? Quem é que tem mais probabilidades de ter um ataque de pânico? Se eu for mais ansiosa corro mais riscos? “Sim, de maneira geral, as pessoas mais ansiosas têm mais propensão a ataques de pânico do que uma pessoa mais tranquila. Geralmente são pessoas já com algum tipo de fobia, que não gostam de andar de elevador ou de avião, ou de passar por túneis.”
Combater estes medos passa por saber de onde vêm: porque o perigo existiu, em qualquer momento que não aquele. “A minha abordagem é que tudo tem uma razão de ser”, explica Maria João Dias. “Se alguém se queixa de ataques de pânico é porque já viveu uma situação em que sentiu um medo muito semelhante àquele que agora sente, embora possa não se recordar desse evento. É como se as pessoas fossem juntando situações de medo até haver um detonador em que tudo explode.”
Portanto, estas situações advêm mesmo de uma situação de medo real. “Imagine que aquela pessoa ficou fechada dentro de um armário quando era pequenina. Esta situação de pânico foi real naquele momento para aquela criança. E estas memórias de medo repetem-se mais tarde.”
Normalmente, a primeira vez que o medo vem à tona está de alguma maneira relacionado com a situação de origem, mas depois tende a repetir-se aleatoriamente, em situações que aparentemente não se justificam, ou em alturas de mais ansiedade. “Pode ter medo de voar e sabe que, se entrar num avião, isso vai acontecer, mas pode noutra altura estar em casa a falar com o marido e os filhos e ter um ataque.”
A certa altura, a pessoa já tem pânico dos ataques de pânico? “Claro que sim. É precisamente isso que temos de resolver. Em hipnoterapia, os ataques de pânico são uma coisa relativamente simples de tratar, em duas ou quatro sessões consegue-se ir à origem do problema. Mas depois temos de tratar o medo dos próprios ataques.”

Hipnose sem segredos

Como é que eu recupero e ‘desmonto’ estas memórias de modo a que deixem de me fazer mal? “O que encontramos sempre são circunstâncias em que a pessoa teve muito medo, e o que há a fazer em seguida é retirar o medo associado a essas circunstâncias”, explica Maria João. “Pedimos à pessoa, por exemplo, para imaginar que retira essa criança do armário. E é possível fazer isto com todas as situações, não há nenhuma que não possa ser ‘destraumatizada’. No fundo, vamos suavizar essa situação. Pomos a criança a ver essa situação da perspetiva de um adulto, e assim retiramos o trauma a estas memórias.”
E sim, isto é feito sob hipnose, mas se já está a pensar que vão pô-la a cacarejar, acalme-se: a hipnoterapia não tem nada a ver com a hipnose de palco. Ninguém vai obrigá-la a fazer nada contra a sua vontade, ninguém vai dominá-la ou fazê-la confessar segredos de família. “A hipnose é um estado de relaxamento muito ligeiro, em que a pessoa está sempre consciente, está-nos a contar as suas experiências, mas como está relaxada tem a possibilidade de aceder muito mais facilmente a memórias que de outra maneira estariam guardadas no inconsciente. As pessoas acham que vou pô-las a dormir, mas não é isso que acontece: se não estivessem conscientes, não conseguiriam conversar comigo.
A pessoa não revela nada que não queira partilhar, e depois da sessão é óbvio que se lembra de tudo.”
Então, começamos a perceber por que é que agimos de determinada forma em certas situações. O facto de percebermos não é o suficiente para nos ajudar a ultrapassá-las, mas é o princípio para nos ajudar a libertar as emoções que ficaram lá presas. Ou seja, aquela menina fechada no armário ficou com um medo cristalizado que nunca exteriorizou a não ser nos momentos de pânico. E temos de a ajudar a libertar-se.

Tempo para sentir

Socorro! Quando um ataque está a acontecer, que posso fazer para acalmar? “Quando um paciente me telefona durante um episódio, o que eu faço é conversar com ele e acalmá-lo, tentando que a minha voz seja uma fonte de tranquilidade, lembrando que aquelas emoções são passageiras e que aquele medo tem um tempo diminuto”, explica Maria João Dias. A primeira coisa a ter em conta durante um ataque é isso mesmo: que é passageiro e dura pouco tempo. Mas muitas pessoas ficam mesmo perturbadas. “Até porque muitas vezes as pessoas com ataques de pânico são controladoras, e aqui sentem que estão a perder o controlo, o que se torna ainda mais assustador.”
E afinal, a culpa também é do mundo? Os ataques estão a aumentar porque estamos dominados pelo stresse? Sim e não. “Ao contrário do que se pensa muitas vezes, temos agora uma vida muito melhor”, nota a psicóloga e hipnoterapeuta. “É verdade que existe stresse, mas dantes não existia também? Os nossos avós tinham uma vida muito mais dura, mas estavam preocupados com a sobrevivência. Não acredito que muitos deles não tivessem ataques de pânico, mas não tinham tempo para estar doentes nem tristes nem com medo, nem ferramentas para lidar com isso. Neste momento, como estamos menos preocupados com a sobrevivência básica, podemos ‘sentir’ mais. Hoje, valorizamos mais a tristeza, sabemos como é importante dizer que estamos tristes, e ainda bem que isso acontece.”

ANSIEDADE NA PASSADEIRA VERMELHA

Os famosos também têm ataques de pânico, e não o escondem: Amanda Seyfried já disse que vai regularmente a um terapeuta para a ajudar a lidar com os seus ataques, de que sofre regularmente desde criança. Emma Stone também tinha ataques de pânico desde pequena, em que nem sequer conseguia sair de casa com medo que alguma coisa terrível lhe acontecesse. Oprah Winfrey estava num período de imenso trabalho quando a vida lhe fugiu ao controle, e teve de fazer um esforço consciente para aprender a acalmar-se e a respirar.
A pressão de Hollywood não ajuda, e as ‘estrelas’ admitem que por vezes se sentem demasiado ansiosas.

Palavras-chave

Mais no portal

Mais Notícias

João Abel Manta, artista em revolução

João Abel Manta, artista em revolução

RootedCON: Congresso de cibersegurança chega a Portugal em maio e promete trazer novidades

RootedCON: Congresso de cibersegurança chega a Portugal em maio e promete trazer novidades

Ao volante do novo Volvo EX30 numa pista de gelo

Ao volante do novo Volvo EX30 numa pista de gelo

Em “Cacau”: Cacau dá à luz em casa e troca juras de amor com Marco

Em “Cacau”: Cacau dá à luz em casa e troca juras de amor com Marco

ByteDance prefere fechar TikTok nos EUA do que vender rede social

ByteDance prefere fechar TikTok nos EUA do que vender rede social

Os nomes estranhos das fobias ainda mais estranhas

Os nomes estranhos das fobias ainda mais estranhas

Baga Friends lançam-se no espumante

Baga Friends lançam-se no espumante

Ensaio ao Renault Scenic E-Tech, o elétrico com autonomia superior a 600 km

Ensaio ao Renault Scenic E-Tech, o elétrico com autonomia superior a 600 km

Teranóstica: O que é e como pode ser útil no combate ao cancro?

Teranóstica: O que é e como pode ser útil no combate ao cancro?

Em Peniche, abre o Museu Nacional Resistência e Liberdade - para que a memória não se apague

Em Peniche, abre o Museu Nacional Resistência e Liberdade - para que a memória não se apague

Caras Decoração: escolhas conscientes para uma casa mais sustentável

Caras Decoração: escolhas conscientes para uma casa mais sustentável

Os

Os "looks" de Zendaya na promoção de "Challengers", em Nova Iorque

Conheça os ténis preferidos da Família Real espanhola produzidos por artesãs portuguesas

Conheça os ténis preferidos da Família Real espanhola produzidos por artesãs portuguesas

Equipe a casa no tom certo com aparelhos eficientes e sustentáveis

Equipe a casa no tom certo com aparelhos eficientes e sustentáveis

Ordem dos Médicos vai entregar a ministra

Ordem dos Médicos vai entregar a ministra "seis prioridades para próximos 60 dias"

Dânia Neto usou três vestidos no casamento: os segredos e as imagens

Dânia Neto usou três vestidos no casamento: os segredos e as imagens

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Microsoft anuncia Phi-3, modelos de linguagem mais pequenos e eficientes

Microsoft anuncia Phi-3, modelos de linguagem mais pequenos e eficientes

MAI apela à limpeza dos terrenos rurais

MAI apela à limpeza dos terrenos rurais

JL 1396

JL 1396

Azores Eco Rallye: elétricos ‘invadem’ as estradas de São Miguel este fim de semana

Azores Eco Rallye: elétricos ‘invadem’ as estradas de São Miguel este fim de semana

Luísa Beirão: “Há dez anos que faço programas de ‘detox’”

Luísa Beirão: “Há dez anos que faço programas de ‘detox’”

Vamos falar de castas?

Vamos falar de castas?

IRS: Falta muito para receber o seu reembolso? Saiba como ler o estado da sua declaração

IRS: Falta muito para receber o seu reembolso? Saiba como ler o estado da sua declaração

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

VISÃO Se7e: Os novos restaurantes de Lisboa e do Porto – e um museu para não esquecer

VISÃO Se7e: Os novos restaurantes de Lisboa e do Porto – e um museu para não esquecer

25 peças para receber a primavera em casa

25 peças para receber a primavera em casa

Fotógrafa Annie Leibovitz membro da   Academia Francesa das Belas Artes

Fotógrafa Annie Leibovitz membro da   Academia Francesa das Belas Artes

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Capitão Salgueiro Maia

Capitão Salgueiro Maia

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

Portugal: Cravos que trouxeram desenvolvimento

Portugal: Cravos que trouxeram desenvolvimento

Conheça as vencedoras dos Prémios Activa Mulheres Inspiradoras

Conheça as vencedoras dos Prémios Activa Mulheres Inspiradoras

Famosos na Avenida para celebrar o 25 de Abril

Famosos na Avenida para celebrar o 25 de Abril

A vingança de Catarina Miranda contra Daniela Ventura no “Big Brother”

A vingança de Catarina Miranda contra Daniela Ventura no “Big Brother”

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Ratos velhos, sistema imunológico novinho em folha. Investigadores descobrem como usar anticorpos para rejuvenescer resposta imunitária

Ratos velhos, sistema imunológico novinho em folha. Investigadores descobrem como usar anticorpos para rejuvenescer resposta imunitária

GNR apreende 42 quilos de meixão em ação de fiscalização rodoviária em Leiria

GNR apreende 42 quilos de meixão em ação de fiscalização rodoviária em Leiria

Depressão fria vinda da Gronelândia traz

Depressão fria vinda da Gronelândia traz "inverno" de novo a Portugal. O que esperar do tempo para os próximos dias

Rir é com ela!

Rir é com ela!

19 restaurantes abertos de fresco, em Lisboa e no Porto

19 restaurantes abertos de fresco, em Lisboa e no Porto

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Parcerias criativas, quando a arte chega à casa

Parcerias criativas, quando a arte chega à casa

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites