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*artigo publicado originalmente na revista ACTIVA de agosto de 2018

Janet Jackson teve o primeiro filho com 50 anos. Brigitte Nielsen (ex de Stallone) teve o quinto com 54. Embora não seja absolutamente impossível que uma mulher dessa idade engravide naturalmente, o mais provável é que tenham feito fertilização in vitro, com um embrião congelado ou doado por outra mulher.
Essa é a maior dificuldade dos nossos tempos: andamos a ter filhos, especialmente o primeiro, cada vez mais tarde. Não é fácil uma pessoa de 25 anos sustentar-se a si própria, quanto mais a um filho… E se a Janet e a Brigitte esperaram até aos 50, porque é que eu não posso?
Fizemos esta pergunta a Daniela Sobral, médica especialista em medicina reprodutiva e responsável pela chegada ao mundo de muitos ‘bebés da ciência’. Afinal, porque é que havemos de engravidar aos 30 quando ganhamos mal ou não encontrámos o homem da nossa vida? “As mulheres têm aquela ideia de que se chegarem aos 40 anos sem conseguirem engravidar fazem uma fertilização in vitro e o assunto resolve-se”, explica Daniela Sobral. “Mas isto é uma falsa ideia. Com uma FIV conseguimos ultrapassar muitos problemas – o fator masculino ou problemas de trompas, por exemplo – mas não o fator idade.”
E não se animem com as estrelas fantasticamente férteis: “Isto também dá uma falsa segurança às mulheres”, explica Daniela Sobral. “Há de facto mulheres férteis até mais tarde e não podemos garantir que essas gravidezes sejam por doação de óvulos. Mas a maioria é assim que acontece.”

Tente ser mãe até aos 35

O problema com as gravidezes mais tardias é este: cada mulher quando nasce já tem todos os óvulos que vai ‘gastar’ na sua vida fértil. Para além destes óvulos começarem a rarear com o tempo, a natureza está muito bem feita e recruta primeiro os melhores. E os que vão ficando nos ovários são os óvulos com mais problemas genéticos. Por isso é que quanto mais tarde se engravida, mais probabilidade há de ter uma gravidez com problemas.
“Felizmente que a natureza funciona muito bem e faz um ‘controlo de qualidade’, portanto a maioria dessas gravidezes ‘com defeito’ nem sequer chega a ir para a frente”, explica Daniela Sobral. “O embrião pára de evoluir numa fase tão inicial que a mulher nem se apercebe. Portanto, a gravidez é a ponta do icebergue: para baixo ficam as subclínicas, as que dão positivo mas depois rapidamente negativo, as gravidezes que não evoluem numa fase inicial (abortos), e só no pico é que as gravidezes evoluem.”
Então, se uma rapariga chega aos 30 e vê que não há probabilidade de engravidar nos tempos mais próximos, despede-se do sonho de ser mãe e vai para tia? Não: previne-se. Ou seja: pode fazer um congelamento de ovócitos. “Isto não é uma garantia de que depois possa engravidar, mas é uma possibilidade de poder ser mãe mais tarde com o seu material genético”, adianta Daniela Sobral. “Hoje em dia, já conseguimos que uma mulher de 80 anos fique grávida, não com os seus óvulos mas com o seu útero. Mas uma coisa é o que é tecnicamente possível, e outra é aquilo que, em termos de riscos, vale a pena fazer. Ser mãe depois dos 50 implica enormes riscos para a mulher e para o bebé. Não é eticamente indicado, nem sequer permitido em Portugal.”

Quer engravidar? Não fume

Então, o primeiro e mais importante conselho para não ter dificuldade em engravidar é tentar ser mãe até aos 35 anos, ou, se não conseguir, congelar os seus óvulos. 
E à medida que a idade for avançando, menos tempo deve esperar até procurar uma consulta de infertilidade. “Se eu tenho 20 anos e estou a tentar engravidar, posso andar um ano a tentar e só mais tarde procurar ajuda. Uma mulher de 40 anos que não consiga engravidar deve fazer exames imediatamente.”
Mas, para lá da idade, há outras coisas que uma pessoa pode fazer para aumentar as suas hipóteses de engravidar: evitar o álcool e a cafeína, e acima de tudo não fumar: “O tabaco agrava imenso a qualidade dos espermatozoides, mesmo em termos de fragmentação de DNA. E uma mulher fumadora tem um envelhecimento de cerca de 10 anos dos ovários: uma mulher de 30 pode ter ovários equivalentes a uma de 40.”
Próximo conselho: ter um peso equilibrado. “A obesidade é muito prejudicial, quer no homem quer na mulher, mas hoje em dia também temos de alertar contra o baixo peso”, defende Daniela Sobral. “Há muitos casais que chegam aos 40 e começam a correr todos os dias e a fazer uma dieta muito restritiva. Isto, quer para a fertilidade feminina quer para a masculina, não é bom. Exercício e dieta equilibrados são excelentes, mas nada de excessos.”
O stresse pode ter influência em termos de ovulação ou a nível hormonal, mas a sua influência ainda não está provada. Claro que a estabilidade emocional é importantíssima para quem quer engravidar. “Às vezes sugiro apoio psicológico, principalmente nos casais que vão avançar para tratamento, porque tudo isto é muito stressante”, explica Daniela Sobral. “É um processo que muitas vezes cria supercasais, que se apoiam e saem mais fortes destes tratamentos. Um casal que engravida naturalmente nem se apercebe do milagre que é a gravidez.”

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A hormona que domina o mundo

Então, recapitulemos: para engravidar mais depressa devo, se possível, ser mãe antes dos 35, não fumar, não beber, não abusar dos cafés, fazer exercício e ter um peso equilibrado. E agora vamos contar-lhe a história da hormona que está a dominar o mundo. “Para engravidar, eu devo ter uma boa concentração de hormonas sexuais femininas”, explica a fisiologista do peso Teresa Branco. “Mas o meu organismo deve ter os estrogénios que ele próprio produz, não os que recebe de fora. Se receber estrogénios disruptivos, estes vão fazer com que eu tenha dificuldade em produzir os meus.” Os estrogénios disruptivos estão por todo o lado: nos produtos lácteos, na carne com hormonas, em alguns peixes de viveiro. Mas podemos dar luta: preferir produtos biológicos, escolher peixes de mar, não deixar garrafas de plástico ao sol (passam estrogénios para a água) e não aquecer plásticos em microondas.
Os homens devem seguir os mesmos conselhos, evitando os estrogénios disruptivos, que lhes podem fazer baixar o nível de testosterona, a hormona masculina. “Muitos homens têm níveis de testosterona muito baixos, mesmo os que não têm excesso de peso”, explica Teresa Branco. “À partida, um homem com excesso de peso tem mais estrogénios, que são produzidos pela massa gorda, o que os torna menos férteis. Mas há homens magros com níveis de testosterona baixos, porque, tal como as mulheres, vivem num ambiente sobrecarregado de estrogénios.”

A dieta da fertilidade

Então o que deveriam homens e mulheres comer para aumentar a sua capacidade reprodutiva? “Produtos como legumes e vegetais vão purificar o fígado, o órgão que vai fazer a eliminação dos estrogénios disruptivos”, explica Teresa Branco. “Se o meu fígado estiver menos sobrecarregado, fará de forma mais competente a sua função, portanto não o sobrecarregue com açúcar, álcool e gorduras saturadas.”
A glândula tiróide também tem um papel importantíssimo na gravidez, quando tem de fabricar até 50% mais hormonas, responsáveis por regular o metabolismo e a temperatura do corpo. Para a tiróide funcionar bem, deve tomar iodo: ou em suplementos ou em produtos do mar, como algas ou marisco. Também deve tomar zinco (encontra-se na carne, feijão, ovo) e magnésio (presente nos espinafres, nas sementes, no iogurte natural, na banana).
E o que devem comer os homens para ‘engravidarem’? “O ideal, para terem mais testosterona, seria comerem carnes magras – carne de vaca e frango, sem a parte gorda, de preferência biológicas, e alimentos com zinco e vitamina C, como quivis e cítricos em geral. E não devem esquecer a atividade física, tal como as mulheres.”

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15 anos à espera

E o que acontece quando, mesmo depois de todos estes cuidados, não conseguimos engravidar? De acordo com a Associação Portuguesa de Fertilidade, existem pelo menos 300 mil casais inférteis em Portugal: o que não significa que sejam estéreis, mas apenas que, por várias razões, têm mais dificuldade em conceber.
Hoje, o Salvador tem 11 anos. A mãe, Sandra Moutinho, jornalista na agência Lusa, demorou 15 a engravidar. “Comecei a achar estranho não engravidar e a partir daí entrei no circuito de centro de saúde, consulta de fertilidade e todo esse processo, que acabou por ser feito no privado, já que no sector público não consegui sequer chegar a um tratamento, dada a enormidade da lista de espera.”
À sua experiência de luta por um bebé juntou a carreira de jornalista e escreveu dois livros sobre o seu percurso: “Tudo por um filho” e “Filhos da ciência”. Em ambos traça o retrato de um mundo de sofrimento mas também de esperança, onde os médicos se juntam aos pais para conseguirem aquilo que a natureza demora a dar. “Pensei várias vezes em desistir, porque há uma expectativa muito grande e muito constrangimento social à nossa volta”, lembra Sandra. “É um percurso muito incerto, desisti muitas vezes. Mas há sempre aquele momento em que voltamos ao sonho.”
Como é o nascimento de um ‘filho da ciência’ depois de toda esta luta? “É sempre vivido de forma hiperbolizada, tudo é excessivo, eu própria acho que sou uma mãe excessiva”, nota Sandra. “Mas esta superproteção torna-se inevitável depois do que passámos.”
Esta superproteção justifica-se precisamente pela ideia de ‘milagre’, de serem crianças preciosas. “Como não tenho outro filho, também não sei se seria uma mãe diferente noutras circunstâncias. Mas há de facto uma ansiedade acumulada durante anos que na altura do nascimento é muito difícil de gerir.”

Os ‘bebés da ciência’

O tratamento que criou o Salvador chama-se ‘microinjeção intracitoplasmática’, a ICSI, em que se retira um espermatozoide que se insere num óvulo depois transformado em embrião.
Como prevenção, já falámos no congelamento de óvulos: “Hoje já existem empresas que financiam o congelamento de óvulos, e isso é um negócio que está em expansão”, explica Sandra. “As empresas garantem que as mulheres que querem ter filhos, os possam ter mais tarde.”
Mas existem outras técnicas para engravidar: os tratamentos mais usados para tentar engravidar são a inseminação intra-uterina e a fecundação in vitro, técnicas que têm um êxito de 30 a 40%. Até há pouco, quem queria engravidar também podia recorrer a dadores de esperma e óvulos: mas quando o Tribunal Constitucional chumbou a gestação de substituição (‘barriga de aluguer’) e decretou o fim do anonimato dos dadores de embriões e gâmetas, a vida dos casais inférteis ficou ainda mais complicada. Esta decisão revolta Sandra Moutinho. “Lá fora existe recurso a dadores anónimos, agora cá, com o fim do anonimato, ninguém se oferece, como é óbvio. Foi uma forma macabra de acabar com um processo que há 20 anos corria bem. Diz-se que as pessoas não têm filhos, a natalidade é baixa, mas depois esta é uma área totalmente desprezada. Diz-se às mulheres: ‘Estás em lista de espera? Então adota’.
Para clarificar estas e outras questões, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução e a Associação Portuguesa de Fertilidade lançaram a petição ‘Pela Adopção de Medidas Legislativas para a PMA’, exigindo soluções que preencham o vazio legal deixado pelo acórdão. Resta saber se vai conseguir recuperar o tempo perdido.

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