Porque é que os homens não choram?

Mais do que chorar, a mulher não tem vergonha de o mostrar. E usa esta sua expressividade para descarregar raivas, frustrações e angústias. Também o faz quando não cabe em si de felicidade. Mas na sua discreta sabedoria, as mulheres sabem que podem também utilizar esta característica com um trunfo para conquistar a atenção de alguém, a compaixão dos outros e até levar a água ao seu moinho.



Um homem não chora?

Se pensa que as mulheres são mais choronas do que os homens, engana-se. Elas apenas o demonstram mais, sem se importar de esconder dos outros. Em segredo, e sozinhos, não sabemos se os homens não deitam mágoas cá para fora e não vão às lágrimas quando se sentem muito tristes ou quando o coração extravasa de felicidade. Cientificamente, nunca foi conduzido um estudo que levasse a essa conclusão. "Em termos empíricos há essa percepção, de que a mulher chora mais. Ou, pelo menos, chora de uma forma mais aberta, sem vergonha, nas situações em que se sente naturalmente predisposta para chorar. O homem não", justifica Ana Paula Nunes, psicóloga. O homem reserva-se o direito de chorar às escondidas, porque lhe foi dito que ‘homem não chora’. "E ele não chora. Com todos os problemas que isso acarreta, no entanto, chorar é saudável", continua Ana Paula Nunes.

Tudo isto está profundamente ligado às diferenças entre o homem e a mulher. A mulher é educada a expressar sentimentos, o homem a ocultá-los. E isso reflecte-se no comportamento dos dois sexos. "O choro faz parte do comportamento e este é perfeitamente controlado pelos fenómenos culturais e sociais. Não é porque as mulheres são mais sensíveis e os homens menos", explica.

Se não há estudos que possam concluir que as mulheres são mais choronas, há situações específicas em que elas choram, senão mais, pelo menos muito. Causa? A hormona prolatina que, no pós-parto, é responsável pela produção de leite. "Parece que a influência desta hormona faz a mulher chorar mais porque a torna mais sensível a todos os pormenores e ao meio envolvente", justifica Ana Paula Nunes.

E, se a sociedade aceita que uma mulher ponha cá para fora tudo o que lhe vai na alma, com o homem não se passa o mesmo, arriscando mesmo a ser catalogado com alguns nomes menos bonitos. Mas em determinados momentos, até dos homens se exige um choro desalmado. Toda a gente cobra lágrimas nos velórios, nos funerais, nas situações trágicas. Porque isso desperta nos outros sentimentos de compaixão, solidariedade e humanidade. "Nessas situações até os homens devem chorar, porque os outros pensam: ‘ele está a sofrer’. Há esta dicotomia nas exigências em relação ao homem. Não deve chorar, mas em determinadas circunstâncias da vida, espera-se que ele chore", diz Ana Paula Nunes.

Mas se chorar implica sempre uma emoção, nem sempre implica um sentimento. As crianças, os maiores chorões, só choram porque não falam – excepto quando esbarram numa porta -, ou seja, chorar é para elas uma forma de comunicação. A primeira do ser humano, verdade seja dita. E resulta…

Mas também se chora porque se está programado para tal. "Só o ser humano tem capacidade para chorar e está preparado anatomicamente para o fazer." – explica Ana Paula Nunes – "Temos canais lacrimais, glândulas lacrimais e um nariz proeminente. Quando choramos, impedimos que as bactérias se instalem. É como se fosse uma lavagem, um arrastamento de tudo o que é inalado."

Em termos sociais, se existem tantas culturas para tantas outras sociedades, uma coisa todas elas têm em comum: chorar. Porque toda a gente chora, independentemente do credo, da idade, da raça e… do sexo.



Razões do choro

Todos nós deixamo-nos levar pela emoção e choramos. Mas os motivos podem ser os mais variados. Porque se chorar é universal, é também um acto individual. Se exceptuarmos as carpideiras – mulheres pagas para chorar em funerais -, ninguém se junta para chorar. E depois há o momento. Aqueles em que nos sentimos mais frágeis emocionalmente e choramos pelo motivo mais banal.

Mas o que leva as mulheres a chorar? Muitas e variadas razões. O sofrimento nas crianças, a ansiedade, a tristeza, a solidão, a raiva, o mau trato dos animais, a morte de pessoas queridas, a felicidade e a saudade. Mas também há aquelas a que não se consegue fugir, como um filme inesquecível ou um livro, uma declaração de amor, um ‘sim’ comovido no casamento de uma amiga, o nascimento de uma criança. Há também quem se comova com o olhar tristonho do ET, que não consegue voltar para casa. Ou com um homem que chora. Mas o chorar não está sempre ligado a emoções negativas. Porque também se chora de felicidade, de alegria, de vitória. E as lágrimas também caiem, quando o riso é descontrolado, apesar de este ser um fenómeno puramente fisiológico. "Quando se ri muito, os olhos ficam cerrados e este abrir e fechar dos olhos provoca um estímulo nas glândulas lacrimais", explica Ana Paula.

Os homens choram porque… não sabemos. Porque além de se pensar que eles não choram, eles próprios têm dificuldade em admitir que o fazem. Mas quando falam sobre isso, descobrimos que choram pelo mesmo que nós. Por tristeza ou alegria. Por injustiça ou amor. Por saudade e morte. Pelo nascimento de um filho. Mas não só. Alguns dos motivos que os fazem chorar desalmadamente, a nós não nos causam muita comoção. Como a vitória do seu clube no campeonato de futebol…



Chorar é bom

Apesar do choro ser saudável – excepto se estiver ligado a uma depressão -, para muitas culturas, chorar é sinal de fraqueza. E, na hora errada, pode mesmo ser fatal. No meio profissional, se uma mulher chora, porque sente que está a falhar, isso pode fazer com que perca o respeito dos outros. "Há contextos para se chorar, uns são valorizados, outros são ridicularizados e outros hipervalorizados, como numa situação de luto. O que se acha em relação ao choro, tem a ver com os contextos a ele associados", diz Ana Paula Nunes.

Por isso, se numa criança é normal o choro, a um adulto exige-se controlo. E é a maturidade que se adquire ao longo do crescimento, que nos permite avaliar as situações em que podemos chorar e aquelas em que é ridículo.

Mas com sentimentos negativos ou com a maior das alegrias, chorar é bom, saudável e recomenda-se. Equilibra o espírito e ajuda a aliviar a tensão.

"A seguir ao choro vem uma respiração mais forçada, com maior amplitude, que permite oxigenar o corpo. Para além de que pequenas toxinas são libertadas pelas lágrimas", explica Ana Paula Nunes. Então, chore à vontade e quando precisar.





O que os faz chorar?

Clara Pinto Correia, escritora e investigadora

"As saudades dos meus filhos. Lembrar-me dos olhos deles. Das vozes deles. E a memória do meu pai. E, às vezes, quando está uma luz muito linda e tudo parece absolutamente certo."



Ricardo Carriço, actor

"Depende muito do meu estado de espírito. Às vezes choro pelas coisas mais ridículas e outras por situações muito tristes. Posso chorar até pelas boas notícias e chorar a rir. Há coisas do passado que me fazem chorar quando as recordo. Geralmente são situações muito pessoais."



Sérgio Godinho, músico

"As crianças fazem-me chorar, para o bem e para o mal. A fome, é sempre má, mas numa criança é intolerável. Por outro lado, a ingenuidade das crianças, faz-me chorar pela ternura que provoca. As injustiças e os abusos que os homens praticam uns sobre os outros e a nossa impotência de não se poder fazer mais."



Mafalda Mendes de Almeida, produtora

"Sobretudo choro a rir, mas também choro por milagres que ainda acontecem como uma solidariedade inesperada ou com a generosidade. Choro ainda perante a impotência para acudir situações irremediáveis como miséria, doença e as consequências da guerra."

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