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Podemos dizer, sem exagero, que o nosso corpo é como é, e funciona como funciona, graças em grande parte ao colagénio, que participa na formação dos tecidos, ossos, músculos, ligamentos, cartilagens e pele. “É a proteína estruturada mais abundante do corpo humano, uma família com 26 tipos diferentes”, diz a cirurgiã plástica Sofia Santareno, da The Dr Pure Clinic. “Os tipos I, II, III, IV e V são os que estão em maior proporção no nosso corpo e, dentro destes, o I é o que está em maior concentração na pele, mas também existe noutros tecidos, como os ligamentos. O tipo II é mais para as articulações, o tipo III para os vasos, aos quais dá elasticidade, e o colagénio do tipo IV está, por exemplo, no olho e no ouvido. Na derme há, na juventude, 60 a 80% de colagénio de tipo I e 15 a 20% de tipo II.”
O seu papel é dar estrutura aos tecidos, “faz parte do que chamamos tecido conjuntivo, que tem vários componentes dos quais o colagénio é o mais importante”.

Na pele, ele é simultaneamente os andaimes e o colchão, porque dá estrutura de suporte e densidade. Nascemos ricos em colagénio, mas com o passar dos anos vamos ficando mais pobres nesta proteína. As ‘fábricas’ que a produzem vão ficando menos eficazes, sintetizando menos colagénio e de pior qualidade, e as enzimas que o reciclam, as metaloproteinases, também perdem capacidade. Resultado: “A partir dos 30 anos perdemos cerca de 1% do peso bruto de colagénio tipo I por ano. Este fenómeno acontece na pele e noutros sítios. Falamos em osteopenia e osteoporose e também em sarcopenia, que é o enfraquecimento muscular com o envelhecimento, mas na prática esse enfraquecimento muscular e ósseo também acontece por faltar o colagénio que vamos perdendo com a idade.”

Quando o colagénio se vai

Secura, falta de hidratação, falta de elasticidade, rídulas e flacidez são os sinais visíveis na pele da perda desta proteína. “Isso acontece porque, enquanto até aos 30 anos temos uma proporção de cerca de 3-4 vezes mais de colagénio I em relação aos outros colagénios que também existem na pele, como os tipos III ou IV, com o envelhecimento, à medida que as metaloproteinases vão tendo mais dificuldade em reciclar o colagénio danificado em colagénio de tipo I, esta proporção inverte-se e acabamos por chegar a ter mesmo 3-4 vezes mais do tipo III em relação ao do tipo I. Deixamos de conseguir reciclá-lo num formato, digamos, mais ‘nobre’”, explica Sofia Santareno. “E isto acontece também quando temos cicatrizes. Há cicatrizes a que chamamos bonitas, que têm um colagénio mais organizado, mais estruturado, mais do tipo I, enquanto as cicatrizes mais ‘feinhas’, que acontecem por um trauma, uma queimadura, uma lesão em que houve uma infeção, já têm um colagénio mais desorganizado e não tanto do tipo I. Eu digo que o tipo I é a primeira categoria, a primeira classe.”

Soluções da medicina estética

“A melhor forma de prevenir os sinais de envelhecimento da pele são os bancos de colagénio”, diz a cirurgiã plástica. “Com estes procedimentos, que são minimamente invasivos, estimulamos a reposição de colagénio, através de uma agressão controlada que pode ser física ou química. O corpo interpreta como: ‘houve aqui uma agressão e eu vou ter de fazer uma cicatriz, logo terei de construir mais colagénio…’ No fundo, motivamos a pele a produzir mais colagénio em densidade e qualidade. Para isso, temos que recordá-la daquele que é um dos mecanismos primários de sobrevivência: a capacidade de cicatrizar para evitar uma infeção. Ainda que a produção seja rápida com 80% a ocorrer aos 2 meses, a remodelação, isto é, a reorganização do colagénio ocorre no espaço médio de 18 meses. E isto acontece em qualquer fenómeno de cicatrização do corpo humano”, explica Sofia Santareno. Os bancos de colagénio podem ser feitos nas várias camadas da pele. “É o que chamo um ‘sistema de sanduíche’. Em cima, podemos estimular o colagénio através do microagulhamento associado à radiofrequência ou ao plasma rico em plaquetas ou fatores de crescimento. Os peelings químicos ou o ressurfacing com laser também ajudam, com a agressão a estimular não só a produção, mas também o aperto do colagénio. Depois, vamos à camada do meio, onde colocamos um banco de colagénio injetável, como por exemplo o ácido poli-L láctico ou hidroxapatite cálcica ou até alguns tipos de ácido hialurónico.” Ainda nesta camada intermédia podem ser colocados fios de polidoxona, uma fibra biodegradável e absorvível que reposiciona as fibras e estimula a produção de colagénio. “São uns fios fininhos muito parecidos com as suturas que usamos em Cirurgia Plástica, que são aplicados apenas com recurso a creme anestésico, e permitem criar uma malha estruturada que sustenta a estrutura do rosto ou corpo. Na camada mais profunda, a melhor forma de produzir um banco de colagénio é com recurso à energia, como por exemplo os ultrassons microfocalizados, que conseguem fazer uns pontinhos de coagulação e apertar mais as estruturas, um conhecido lift não cirúrgico. Alguns lasers também permitem este efeito.” Estes procedimentos podem ser todos realizados no mesmo dia, mas geralmente são espaçados no tempo e alternados.

O reforço dos suplementos

Constituídos por colagénio obtido a partir de tecidos conjuntivos de peixe e marisco, vaca, porco ou galinha (não existe colagénio vegano, aquele de que precisamos é uma proteína animal por definição), os suplementos orais de colagénio contêm esta proteína sob a forma hidrolisada: ou seja, fragmentada em péptidos para permitir a sua absorção e utilização nos sítios onde é necessário – nomeadamente onde foi realizado um banco de colagénio. Sofia Santareno preconiza que o ideal é “complementar os bancos de colagénio com um suplemento oral com colagénio hidrolisado de tipo I, idealmente contendo também outros ingredientes que estimulam a fixação de colagénio, como a vitamina C. A dose que recomendo é 7-10g por dia, podendo ir até aos 15g se a pessoa tem mais de 50 anos e já apresenta sinais de osteopenia.” A cirurgiã plástica recorda também a importância do estilo de vida para prevenir a degradação do colagénio, nomeadamente a nível da alimentação, reduzindo o consumo de açúcar que o destrói e aumentando a ingestão de antioxidantes, gelatinas e caldos de osso e galinha feitos em casa. “Sabemos, por diversos estudos, que o tabaco, o álcool e a exposição ao sol sem proteção adequada agridem a pele, geram um fenómeno de elastose e produzem rugas. A suplementação e as mudanças no estilo de vida devem ser o início e só depois disso podemos então ponderar fazer os bancos de colagénio locais, porque senão não vai tirar deles o maior partido.” E a partir de que idade se podem fazer os suplementos e bancos de colagénio? “A partir dos 30-35 anos a nossa pele produz menos e pior colagénio, as metaloproteinases já não dão resposta, portanto será essa a idade em que vamos ter de rever a alimentação e podemos suplementar com o colagénio oral hidrolisado e fazer um banco de colagénio. A prevenção do envelhecimento é todo um estilo de vida em que temos de evitar aquilo que nos degrada e potenciar o que vamos perdendo com a idade.”

E na cosmética?

“A molécula de colagénio é demasiado grande para penetrar quando aplicada na pele, por isso normalmente o que se utiliza são os hidrolisados de colagénio, que conseguem ter alguma penetração”, explica Joana Nobre, farmacêutica e especialista em dermocosmética. “Nos cosméticos, o colagénio funciona como hidratante porque é humectante e tem a capacidade de reter a água na pele. Aquela ideia que as pessoas têm de que por aplicarem na pele produtos com colagénio vão ter uma grande ação antirrugas não é propriamente verdade.” Mas a cosmética dispõe de ingredientes que podem ajudar a preservar o colagénio da pele, estimular a sua produção e reverter um pouco a sua degradação. “É o caso das vitaminas, como a vitamina C, a niacinamida, o retinol, alguns hidroxiácidos e alguns péptidos”, diz a cosmetologista. Também a vitamina E, o ácido ferúlico e a silimarina, pela sua ação fortemente antioxidante, podem ajudar a proteger o colagénio do stresse oxidativo que acelera a sua degradação. “E, claro, se quisermos falar de uma ação que não sendo direta é essencial, o protetor solar, por ter uma ação preventiva dos danos causados pelo sol, acaba por poupar muito o colagénio e todas as fibras da pele.”

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