A música sempre fez parte da vida de Beatriz Pessoa. Da infância, lembra-se de estar sempre a cantarolar, de fazer parte de muitas performances e de brincar aos ‘Ídolos’ na escola.
A partir dos 12 ou 13 anos, começou a ter interesse em aprender canções em inglês. Todos os dias, quando chegava a casa, cantava temas de vários artistas em loop até que a mãe decidiu inscrevê-la numa escola de música. A partir daí, o hobby começou a tornar-se algo mais sério e apostou na sua formação. Beatriz passou pelo Hot Clube de Portugal, frequentou a Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e esteve um semestre em Paris, no âmbito do programa Erasmus, a absorver a multiculturalidade da capital francesa.
Agora, aos 22 anos, é considerada uma das jovens promessas da música nacional. Aliás, fez parte da coletânea Novos Talentos Fnac 2017. Já se apresentou na Casa da Música, nos festivais MED e F e no EDPCOOLJAZZ, onde teve a honra de abrir para Jamie Cullum, entre outros eventos.
Encontrámo-nos com a cantora em Lisboa para falar sobre música, a identidade enquanto artista, a descoberta da sua voz em português no novo EP ‘Feminina’ e, por fim, o balanço que faz da participação no Festival da Canção 2018.
Como te defines enquanto artista?
Ainda não descobri, mas acho que a melhor forma que tenho de fazê-lo é mencionar artistas que admiro, cujo patamar espero atingir um dia como, por exemplo, Björk, Lianne La Havas, Lauren Mvula, Elis Regina, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante. São todos muito diferentes, mas seguem uma coisa que eu considero importante: contam histórias através de melodias interessantes e de letras bonitas. E se há coisa que eu quero que me defina enquanto artista é essa questão da história e de uma linha melódica que acompanha a letra de uma forma bonita.
Consegues expressar por palavras aquilo que a música significa para ti?
É tudo. É onde eu estou mais à vontade. É o que sinto que sei fazer melhor e o que tem mais a ver comigo. É a melhor forma que tenho de expressar-me. Sou mais honesta e mais genuína quando canto. Aliás, é quando me sinto mais confortável porque sou mais eu.
Depois do EP ‘Insects’ (2016), preparas-te para lançar outro, ‘Feminina’, em março. Porquê EPs e não álbuns?
Eu gosto de fazer as coisas passo a passo. Não me lancei logo para um álbum porque sou muito nova e isto foi tudo muito rápido. Comecei a compor e, de repente, tive logo uma banda, um concerto e uma agência que quis apoiar-me. Portanto gosto de fazer as coisas devagar para ser sempre uma coisa genuína, sincera e que eu consigo defender.
Quais são as principais diferenças entre os dois trabalhos?
‘Insects’ é mais intimista e ligado ao meu estudo do jazz, que é um estilo que eu admiro imenso, do qual vou gostar sempre e que vai sempre fazer parte do meu percurso. ‘Feminina’, por sua vez, está mais perto da sonoridade que eu quero ter enquanto artista. Acho que é mais eclético, tem mais do que eu sou e desses estilos que eu vou agrupando num só, e que espero um dia tornar meus. Outra grande diferença é que neste novo EP exploro a língua portuguesa.
É mais difícil compor em português?
Acho que sim porque é a minha língua e acaba por ser mais pessoal, o que dificulta a tarefa de ‘entrar em personagem’. Eu gosto muito de contar histórias e de ser um bocadinho atriz dentro das minhas músicas, e isso, para mim, é mais fácil de fazer em inglês. Mas é tudo uma questão de treino. A partir do momento em que começas a escrever em português, também há outras coisas que saem melhor, como a facilidade de agrupar palavras, porque é uma língua na qual estou mais confortável. Sinto que, de certa forma, o que eu digo vai mais de encontro ao que eu sinto porque é a mesma linha de discurso.
Há alguma apresentação em palco que te tenha marcado particularmente?
O primeiro grande concerto que eu dei foi no verão de 2017, no EDPCOOLJAZZ, especialmente porque abri para um artista que eu admiro imenso, o Jamie Cullum. Foi um concerto e um momento muito importante para mim. Nunca tinha cantado para tanta gente e, além disso, aliviou-me imenso saber que a diferença de tamanho do palco não foi uma coisa que me assustou ou que me tenha deixado fragilizada.
Passando para outro palco, aual foi a sensação de teres sido escolhida pela Mallu Magalhões para interpretar ‘Eu Te Amo’ no Festival da Canção 2018?
Fiquei super entusiasmada com o convite. Nem queria acreditar. Foi mesmo incrível trabalhar com a Mallu. Ela integrou-me em todo o processo de criação da música e foi sempre foi muito aberta nisso, tal como a Jessica [Pina]. Os dias em estúdio foram super divertidos, portanto esse período foi todo muito feliz, doce e de partilha musical. Acho que era esse o objetivo do festival e, falando por mim, acho que foi mais que concretizado.
A tua participação ficou marcada por uma contagem errada dos televotos, que acabou por custar-te um lugar no concurso. Qual é o balanço que fazes agora da tua passagem pelo Festival da Canção?
Sim! Nós as três queríamos fazer música umas com as outras, conhecer outros artistas e estar com pessoas do meio. Claro que foi chato e grave da parte da RTP, mas já passou e não é algo que me atormente. O Festival da Canção é uma apresentação da música que é feita em Portugal e tenho todo o orgulho da minha participação, e defendo a nossa música com todas as forças. Acho que a Mallu é uma compositora incrível e a letra estava muito bonita. Dei o meu melhor e foi ótimo ter lá estado.
O que gostarias que as pessoas soubessem sobre ti?
Se há uma coisa a saber sobre mim, enquanto pessoa e artista, é que eu tenho mesmo muito interesse em saber o que os outros pensam da minha música e, para mim, é sempre uma questão de partilha – quer seja com outros músicos, com o público, com amigos ou com a minha família. Quando escrevo uma música, telefono logo a alguém, canto-a, envio a letra e preciso de feedback. Não se prende com uma questão de insegurança, mas sim de sentir que aquilo que eu escrevi conseguiu chegar a outro lado. Em palco é a mesma coisa. Apesar de, às vezes, a distância entre mim e o público ser muita, tento sempre criar um ambiente mais intimista e essa relação de proximidade.