Os anos 50 foram os anos da glória da rádio tal como se fazia nessa altura. Antes da televisão, as famílias reuniam-se à volta do seu ‘transístor’ e ouviam de tudo, desde radionovelas aos seus cantores preferidos. E se hoje o público vota em muitos programas, fique a saber que não é moda de agora: nos ‘anos da rádio’ os ouvintes também votavam nos reis e rainhas do seu coração – só que tudo tinha muito mais glamour.
Maria de Lurdes Resende foi eleita ‘rainha’ três vezes: uma do espetáculo, em 1956, duas da rádio, em 1955 e 62. Mas ficou famosa por muito mais do que isso e o público adorava-a: para a história da música portuguesa ficaram canções como ‘Alcobaça’, ‘Não, Não e Não’, ‘Feia’, ou ‘Nostalgia’.
Maria de Lurdes Resende comeou a cantar em família, porque o pai era organista da Igreja de Santa Cruz, no Barreiro. Convidada para várias coletividades, acabou por se estrear como cantora na Emissora Nacional, em 1945, e foi apresentada por Artur Agostinho no Rádio Clube Português. Também há quem recorde os muito famosos ‘Serões para Trabalhadores’, promovidos pela Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, e onde Maria de Lurdes era presença assídua.
Com uma voz que cedo se destacou pela sua originalidade, a sua carreira está cheia de pontos altos:
Em 1950 foi a primeira artista portuguesa a atuar na televisão francesa, e atuou também no Brasil e em Génova, em Angola e Moçambique, na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Bélgica, África do Sul e Canadá, onde venceu o Festival Internacional de Toronto. Por cá, só lhe escapou o Festival da Canção, onde ficou em terceiro lugar em 1967.
A televisão também não faltou na sua vida e logo desde o primeiro momento: participou em programas experimentais da RTP, e mesmo na sessão inagural, fazendo parte do programa de variedades que fechou a primeira emissão de televisão em Portugal.
Várias vezes condecorada, foi distinguida em 1962 com o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa, recebeu em 1979 as insígnias da Ordem do Mérito e o grau de comendadora dessa mesma ordem, em 2019, no dia dos seus 92 anos. Mas isso nunca lhe retirou a humildade: manteve até ao fim a alegria, a força e a elegância da ‘rainha’ que sempre foi.
“Foi a voz de um tempo, a quem presto a minha homenagem, apresentando sentidos pêsames à família e amigos”, refere Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota de condolências que está pública no ‘site’ oficial da Presidência da República. Segundo o cantor João Braga, Maria de Lurdes foi “uma cantora inesquecível e um ser humano muito raro.”
Quem quiser prestar uma última homenagem, o velório terá lugar amanhã, Domingo, na Basílica da Estrela, a partir das 18 horas, e a missa decorrerá na segunda feira às 14 horas.
Morreu a rainha da rádio
Cantora e atriz, Maria de Lurdes Resende ‘reinou’ durante as décadas de 50 a 90 no coração dos portugueses. Morreu hoje, em sua casa, aos 95 anos.
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