Quantas vezes é que o seu filho já lhe pediu moedas para comprar pastilhas, gelados, ou implorou o último modelo da Playstation e um telemóvel de terceira geração? As crianças de hoje estão cada vez mais exigentes e nem sempre têm a noção de que o dinheiro custa a ganhar e de que precisamos dele para um sem–número de outras necessidades. Eles sabem que o dinheiro é importante, mas daí a conseguirem distinguir a sua verdadeira importância vai uma grande diferença.

UMA QUESTÃO DE REGRAS

Afinal, a partir de que idade é que devemos educar as crianças para que tenham noção de que o dinheiro não cai do céu? Segundo Ana Paula Nunes, psicóloga clínica na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa e professora de Psicologia do Desenvolvimento e Bioética, ‘a educação financeira da criança deve ser iniciada na idade pré-escolar, sem que essa educação corresponda à atribuição de mesada ou semanada’. A tarefa não é fácil, pois muitos pais vão dando dinheiro aos filhos sem estipularem regras concretas ou sem lhes incutirem a noção de que não basta pedir para logo de seguida gastar e voltar a pedir. Fazem-no para evitar chatices, a birra no supermercado e a vergonha que apanham quando eles se deitam no chão aos gritos. e quando isso acontece as crianças facilmente se apercebem desse poder, utilizando-o vezes sem conta. Quando se tenta evitá-lo, já é tarde de mais. Muitas vezes caímos no erro de lhes satisfazer as vontades porque sabemos que isso as deixa felizes, mas ao realizar-lhes todos os desejos sem as contestar estamos também a abrir a porta para que fiquem mimadas e caprichosas. A melhor solução? Tentar incutir-lhes responsabilidades e controlo, para que percebam desde cedo as vantagens em poupar para conseguirem comprar aquele jogo que tanto querem. Como explica Ana Paula Nunes, ‘é importante que a criança compreenda que a aquisição de objectos está directamente relacionada com a troca de um bem, que é o dinheiro, e que esse bem vem da prestação de um serviço, que é o trabalho dos pais’.

ENSINE-O A MERECER O QUE RECEBE

Comece por explicar-lhe que nem sempre lhe pode comprar tudo aquilo que ele deseja, o que resultará melhor se lhe der exemplos concretos. Explique-lhe que não lhe pode dar a casa da Barbie ou o último boneco do Action Man porque é caro e que aquele não é o melhor momento. ‘É importante ajudar a criança a lidar com o dinheiro, pois esta educação irá ajudá-la mais tarde a saber ganhá-lo e a ter prazer em fazê-lo,’ explica Ana Paula Nunes. A partir dos três anos de idade eles já conseguem ter noção do que é barato e do que é caro. Se lhes der exemplos práticos, assimilarão melhor.


Não responda com respostas evasivas ou de imposição de autoridade. Diga-lhe a razão por que naquele momento não lho pode comprar ou negoceie com ele e diga-lhe que para o ganhar terá de o merecer.


Sugira-lhe pequenas tarefas, as quais terão como prémio uma pequena quantia. Coisas simples, como ajudar a carregar os sacos do supermercado quando regressam das compras, ajudar a lavar o carro juntamente com o pai, podem ser premiadas. Como refere Ana Paula, ‘poderá eventualmente haver uma remuneração financeira se a criança é solicitada para efectuar alguma actividade extraordinária que não faça parte do quotidiano da vida doméstica’. Isto fará com que eles se sintam responsáveis e percebam que o dinheiro não cai do céu, que têm de o ganhar.


Evite pagar os pequenos trabalhos em casa, porque isso dará origem a maus hábitos. Segundo a psicóloga, ‘atribuir uma remuneração por arrumar o quarto, tomar banho sozinho ou fazer correctamente os trabalhos de casa é errado, pois estamos a perverter a responsabilidade destas tarefas.’ Participar nas tarefas de casa faz parte de um acto de participação em família; nunca o negoceie em troca de favores.


Ensine-a a gerir o saldo do telemóvel. As novas tecnologias mudaram a percepção das crianças encararem o mundo, e mandar SMS à colega da escola é hoje tão comum como passar recadinhos em pedaços de papel há uns anos. Ana Paula Nunes aconselha: ‘Os pais devem frustrar as exigências das crianças sempre que estas ultrapassarem os limites anteriormente impostos. Isto é realmente educar e garantir que as crianças se desenvolvam em equilíbrio com as regras, de forma a transformarem-se em adultos responsáveis.’

NO POUPAR É QUE ESTÁ O GANHO

Incentive-a a poupar. Sempre que tiver oportunidade, coloque umas moedas no mealheiro ou vá contando com ele o dinheiro que já possui para que tenha noção do valor das moedas. ‘Ajudar a criança a poupar, é ajudá-la a adiar o prazer e a obter a gratificação mais tarde,’ afirma a psicóloga. Se ainda for bastante pequeno, dê-lhe exemplos práticos: com 1 euro pode comprar um gelado, com 5 euros pode comprar um livro de pintar…Dê-lhe dinheiro vivo. É normal que aos olhos de uma criança uma nota de 10 euros seja bem mais atractiva do que um cheque de 100 euros dado pelos avós no aniversário. Percebem melhor o seu poder. Mesmo que lhes diga: ‘É para tu, um dia, comprares um carro ou para quando fores para a Faculdade’, não é argumento suficiente para os convencer. A maioria das crianças apercebe-se de que os planos bancários dos pais implicam uma intenção punitiva: o seu objectivo não é só promover a poupança, mas muitas vezes restringir o consumo. Deixe-a gastar à sua vontade nos primeiros tempos (com o pouco que ela ganhou, claro). Para aprenderem a lidar com o dinheiro, as crianças têm de conviver com ele, mesmo que isso signifique cometer erros. ‘Gastar tudo ou poupar algum dinheiro pode ser a decisão entre ter várias coisas sem importância ou ter alguma coisa de que realmente se gosta e se desejou muito,’ revela a psicóloga Ana Paula Nunes.

Assim, a criança irá perceber que tem de tomar decisões e fazer escolhas, que não pode ter tudo.


Leve-a ao banco. É natural que lhes faça alguma confusão que o dinheiro não esteja à vista, mas levá-las à instituição bancária ajuda-as a entender o que é, para que serve e a que se destina. ‘Uma conta no banco só tem algum significado para a criança se ela já compreender e conceber abstracções, e isso só acontece no final da idade escolar’, revela a psicóloga.

PARA QUANDO A SEMANADA?

Muitos pais desesperam perante esta questão. ‘A atribuição de semanada deve iniciar-se a partir dos seis anos, pois é nesta idade que a criança começa a fazer a conversão numérica, no período das operações concretas’, aconselha Ana Paula Nunes.

Se o seu filho gastar tudo logo no primeiro dia, não ceda a pressões e não lhe vá encher os bolsos novamente. Terá de aprender que quanto mais gastar menos dinheiro terá para comprar as coisas que quer.

Se lhe ensinar que quando ele já perdeu interesse em algum objecto pode doá-lo a instituições de caridade, estará a contribuir para que o seu filho seja um adulto solidário e respeitado.

‘É importante que a criança saiba que não é necessário ser muito rico para ser feliz, e que não saber administrar os seus rendimentos pode ser desastroso. A forma como a criança aprende a lidar com o dinheiro irá ser um modelo, que se perpetuará pelo resto da vida,’ justifica a psicóloga Ana Paula Nunes.

Antes de estipular o valor da mesada ou semanada, tenha em consideração algumas despesas que poderão ficar a cargo dos pais, tais como a compra de material escolar, roupa, presentes de Natal ou de aniversário.

Se o pai ou a mãe ficarem encarregues da compra destes produtos, o valor da mesada deverá ser mais restrito… por isso não se esqueça de contar com estes ‘extras’ no valor final.

PAGAMENTOS COM CARTÃO

O SIGE (Sistema Integrado de Gestão Escolar) é um novíssimo cartão criado para auxiliar na gestão escolar, permitindo o pagamento de bens e serviços dentro da própria escola, registar entradas e saídas ou informar à distância encarregados de educação dos saldos do cartão. Pagar coisas tão simples como uma sanduíche no bar, as fotocópias na papelaria ou comer no refeitório são actos possíveis sem ter de se usar dinheiro vivo. Os encarregados de educação poderão ainda proceder a um carregamento de saldo do cartão ou receber o extracto das despesas. Esta inovadora forma de pagamento evita que as crianças andem com dinheiro e um maior controlo daquilo que compram, sendo menos uma dor de cabeça para os encarregados de educação.

OS PRIMEIROS TROCOS

Antes da atribuição da primeira semanada ou mesada, deixe que o seu filho entre em contacto com o dinheiro. Como as crianças são curiosas, é normal que queiram brincar às compras e façam perguntas sobre o que é o dinheiro e qual a sua importância. Vá apresentando o ‘maravilhoso’ mundo das finanças. caseiras.


Aos dois anos: Mostre-lhes moedas de diferentes tamanhos e cores, assim como notas.


Com mais de três anos: Quando fizer a lista do supermercado, chame-o e faça-a em conjunto com ele. Diferencie entre as coisas caras e as mais baratas, pois só com exemplos práticos eles assimilarão o preço das coisas. Poderá começar a dar-lhe uma pequena semanada para lhe incutir o sentido de responsabilidade.


A partir dos dez anos: Poderá começar a dar-lhe uma pequena mesada, mas lembre-se de que a educação financeira leva o seu tempo. Não se sinta frustrada se o seu filho não tiver habilidade financeira suficiente…

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