Jovens usam mais

Afinal, o que é que faz um bom professor? É a pergunta da revista americana ‘The Atlantic’, que analisa a preocupação de Obama com a arte de ensinar, e afirma: “Os pais sempre se preocuparam com a escola onde punham os filhos. Mas a escola não interessa tanto quanto o adulto que está à frente das crianças.”

Lembrando os adultos que durante anos estiveram à minha frente, a minha única exigência era: que explicassem bem. Ah, e que não fossem desaparafusados. Mas será que a nova geração tem as mesmas básicas aspirações em relação aos seus ‘líderes’? Nada melhor que perguntar à nova geração. Liguei à minha sobrinha mais velha, de 14 anos, um modelo de virtudes académicas, e pus-lhe a questão: o que é para ti um bom professor? Querem saber a resposta? Pois: um que explique bem…

Pelos vistos, as coisas não mudaram assim tanto. Mas ela não se ficou por aí: “Um bom professor é um que explique as coisas em vez de se limitar a ler do livro, mas que ao mesmo tempo não dá tudo ao contrário. Conta coisas divertidas de vez em quando, é culto, sabe do que fala.” Já agora, como é um mau? “Um mau dá sermões sem sentido em vez de dar aula, irrita-se por nada, não se importa connosco, e é monótono.” Pois… E já que estamos nisto, como é que se atura um mau professor? “Não lhe dando muito atenção. Pensa-se noutras coisas, chama-se nomes na cabeça… Para agradecermos a um bom professor, esforçamo-nos ao máximo para tirar boas notas, somos simpáticos, estamos com atenção, e quando ele sugere alguma coisa, participamos.”

Calados e… inspirados

Procuro outra aluna, a Beatriz, com apenas 12 anos. “Pensa nas boas professoras que tiveste. Como eram?” A resposta vem de chofre: “Eram caladas.” Ó diabo. É a minha vez de ficar, bem, calada. Achei que ouvi mal. “Eram caladas?” repito. Ela explica: “Eram reservadas. Eram amigas mas não demasiado amigas. Eram simpáticas, mas não exageradamente. Eram tudo nas quantidades certas. Explicavam bem. Eram exigentes. Eu gosto que sejam exigentes comigo, se me tiverem explicado bem as coisas.”

Também há quem não goste de calados. “A maior qualidade de um professor, para mim, é inspirar-me”, afirma Gonçalo, de 15 anos. “É dar-me a confiança de que preciso para chegar mais longe e superar-me a mim próprio. Sem dúvida, para mim é essa a maior qualidade de um professor: inspirar-me. E a mais rara, também, pelo menos segundo a minha experiência. Porque só com vontade de aprender é que vamos longe. A vontade de aprender é a chave de todo o ensino.”

Pois, nota-se que é atleta…

Papel de embrulho e muito trabalho

Pronto, tirámos a prova dos 9: decididamente, agora como há 20 anos, um bom professor tem definitivamente de explicar bem. Mas também tem de ser outras coisas. E para me elucidar ainda mais, nada melhor do que ir ter com um ex-Professor do Ano.

Alexandre Costa, 45 anos, recebeu há dois anos o Prémio Nacional de Professores, atribuído pelo Ministério da Educação. Professor de Físico-Química desde 1989, garante dedicação total aos seus alunos da Escola Secundária de Loulé. Mestre em astronomia e astrofísica, parece ser 10 pessoas ao mesmo tempo: ele faz desenvolvimento de projectos eTwinning (um projecto da União Europeia que cria redes de colaboração entre as escolas), divulgação científica na área da astronomia, e variadíssimos projectos na sua área. Os computadores portáteis e o quadro interativo fazem parte regular as suas aulas, mas não é isso, que, segundo ele, define um bom professor.

“Um bom professor é um professor que prepara as aulas, tentando que os conteúdos sejam vocacionados para os interesses dos alunos”. Lembram-se do ‘explica bem’? “Obviamente, que os conteúdos têm que ser dados, vamos é envolvê-los em papel atraente. Costumo fazer esta analogia: o meu filho não gosta de ovo. De nenhuma maneira: nem estrelado nem cozido nem escalfado. Mas ele tem de comer o ovo. Então, descobrimos que ele gostava do ovo na açorda. E é assim que ele come o ovo. Com os conteúdos é a mesma coisa: tenho de arranjar alguma maneira de eles os aprenderem, seja de que maneira for.” Ser um bom professor continua a implicar… pois: muito muito muito trabalho. “É muito tempo que se gasta a preparar as aulas”, confirma Alexandre Costa.

Líder, sabedor e exigente

Pronto: ‘calado’ é que parece que ele não é. “Outra característica do bom professor é a capacidade de liderar um grupo de alunos que passa por impor uma determinada disciplina nas aulas, imposta mas também aceite: a disciplina faz naturalmente parte do compromisso entre o aluno e o professor.”, nota Alexandre.  “Mas como trabalhamos com bastante ritmo, eles nem têm tempo para ‘inventar’” (ri).

Também tem de saber do que fala: “É importante que o professor domine cientificamente as matérias, porque os alunos lembram-se de imensas perguntas difíceis e o professor deve estar preparado para responder. É preciso que os alunos sintam que o professor está seguro. Quando não sentem, é logo um foco para a indisciplina. E quanto maior é o nosso domínio, maior a capacidade de simplificar as coisas. Além disso, o bom professor está sempre a aprender.”

Como dizia a Beatriz, um bom professor também é exigente: “Se não exigir, não ensina nada”, confirma Alexandre. “O bom professor existe quando existem bons aprendentes, mas os bons aprendentes só existem se alguém lhes exigir que aprendam alguma coisa.”

Então e vamos lá a saber: qual foi o melhor professor que teve? Tive alguns bons professores. Recordo-me bastante bem de uma professora de biologia do 12º, uma senhora chamada Maria Amélia, que dominava perfeitamente todos os conteúdos e puxava bastante por nós.”

Do Holocausto à Pide

É raro haver quem não tenha uma Maria Amélia na sua vida, mas muitas vezes as pessoas mais gratas são… as mães dos alunos. Mãe de um rapaz de 17 anos que correu muitos professores e métodos de ensino, Teresa Portela responde imediatamente quando se lhe pergunta qual o melhor professor do filho: “O professor de português, um homem fantástico, absolutamente dedicado. Não fazia testes: dava-se ao trabalho de fazer trabalhos nas aulas e todas as semanas havia fichas. O João Pedro, meu filho, teve logo negativa, porque não estava habituado a trabalhar (ri). Certo dia, a propósito do Holocausto, pô-los a ver o filme da Anne Frank, foi uma choradeira entre as meninas…(ri) Tinha um trabalho doido. Mas o que é facto é que os alunos gostavam todos dele. Ele dava o que vinha no programa e o que não vinha, e tinha um blog com textos e tudo. Estimulava os miúdos para não se deixarem adormecer à sombra da bananeira.”

O oposto também havia, pois havia: “Lembro-me de um que tinha o seguinte método: todas as semanas os alunos votavam no mais mal comportado, e um era castigado! Era absolutamente pidesco! Entretanto, os miúdos, para se safarem, juntaram-se e às tantas a ‘vencedora’ foi a sossegadinha da turma, que não fazia mal a uma mosca, e que eles acharam que não ia ter problemas (ri). Coitadinha, deve ter sido a surpresa da vida dela!”

E qual é o papel de uma mãe nestes casos? “Ainda lhes disse, juntem-se e recusem-se a votar. Mas eles são muito desorganizados e não resultou. Sou a mãe mais calada das reuniões de pais, mas aí fiz um escândalo tal que a coisa acabou.”

Ser professora não é ser mãe

E quando se é ao mesmo tempo mãe e professora? Ana Cristina Fonseca, professora de biologia, é mãe de quatro crianças entre os três e os 12 anos. Como é estar dos lados da barricada? “Tanto eu como o meu marido somos pais atentos, mas penso que não me encaixo no tipo de mãe chata, não me intrometo no trabalho dos meus colegas, nem pensar, a não ser que haja alguma coisa que não esteja a correr bem.”

O que é para ela, enquanto mãe, um bom professor? “É exigente na medida em que estabelece objetivos e deve ser compreensivo. Às vezes achamos que as suas coisas são contraditórias, que um professor exigente não pode ser uma pessoa meiga, e para mim as duas coisas andam a par.”

Isso é um bocado o que é ser mãe, não é? “Claro. É o saber dizer não, e de vez em quando dar-lhes um elogio, que eles gostam tanto de ouvir.” Claro que uma das queixas, atualmente, é que os professores também têm de ser pais dos alunos… É mesmo verdade que os pais se demitem do papel de pais? “Muito. Obviamente que dentro do ensinar está a componente do educar, mas uma coisa é a educação que a escola pode e deve dar, outra completamente diferente é a educação dada na família. As pessoas estão a trabalhar e as crianças acabam por ser um empecilho. Em vez de professores, querem que sejamos pais, mães, psicólogos, é a escola que tem o fardo todo.”

O pior, quando não se gosta de um professor, é que a pessoa tem tendência para não gostar da disciplina. “O que eu aconselho é, não pensem nisso. Aprendam a separar as águas. E outras vezes, achamos que eles vão gostar de um professor e eles detestam. Por exemplo, a minha filha tinha uma professora que dava as aulas baseada em powerpoints e datashow, e ela detestava! Muitas vezes, as novas tecnologias são menos importantes que o contacto humano. Agora voltou a professora antiga, que fala com eles. Isso continua a ser o mais importante.”

Alguma vez elogiou o trabalho de um professor? “Não é preciso. Os miúdos encarregam-se disso. Quando gostam de um professor, dizem-lhe isso.”

É mais difícil ser professor hoje em dia?

“Antigamente, ir para a escola secundária era uma honra”, nota Alexandre Costa, o Professor do Ano. “Hoje, eles nem se apercebem do privilégio que têm. Eu mostro-lhes a honra que é estarem ali, mas a grande parte do trabalho é motivá-los para a aprendizagem. Por exemplo, quando dei teoria do som fui buscar as bandas musicais de que eles gostam, como os Evanescence. Temos de ter estratégias que há 20 anos não eram necessárias porque o aluno está mais disperso. Hoje têm menor capacidade de memorização, mas têm outros tipos de raciocínio. São é menos profundos. Ganha-se numas coisas, perde-se noutras, e o trabalho do professor é tentar harmonizar tudo de maneira a que eles sejam o mais completos possível, e tentar reeducá-los para o trabalho e para o mérito.”

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