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“Sim, se calhar sou um bocado ‘helicóptero”, admite rindo Joana Almeida, mãe do Eduardo, com 14 anos. “Sei tudo da vida dele, faço os trabalhos com ele e de noite não durmo até ele chegar. Mas sinceramente, isso parece-me o meu dever de mãe, não acho nada de anormal. Além disso, cabeça no ar como ele é, se eu não andasse em cima dele para fazer os trabalhos, só tirava negas.”

A maioria das mães concordaria com Joana – e no entanto, os psicólogos dizem que faz falta mais autonomia na vida das crianças. Paradoxalmente, num tempo em que os pais passam cada vez menos tempo com os filhos, o controlo e a obsessão pela vida deles tende a aumentar. Na adolescência, quando eles precisam de espaço para voar, os céus da sua vida são cada vez mais patrulhados pelos ‘helicópteros’ paternos.
 

“Ser demasiado controlador muitas vezes é perpetuar o padrão que se teve”, nota a psicóloga Clara Soares. “Além disso, ser controlador permanece ainda hoje a marca de uma boa mãe. Durante muito tempo, os homens delegaram nas mulheres a educação dos filhos. E muitas vezes as mulheres pensavam, ‘Tenho que cumprir esta missão perante o meu marido como deve ser’. Isto pode soar anacrónico mas é uma posição que ainda existe. Portanto, ser uma boa esposa é ser uma boa educadora, e ser uma boa educadora é ‘andar em cima’.”


É atenção ou controlo?

 

Então mas um filho precisa de atenção, certo? E não nos estão sempre a dizer que os pais de hoje dão pouca orientação aos filhos? “Há uma diferença entre perguntar como foi o dia na escola e andar em cima deles. Em saber o que se passa e controlar”, explica Clara. Além disso, como toda a gente sabe, quanto mais controladores os pais, mais segredos têm os filhos…

Mas quanto menos tempo se passa com os filhos, mais a tendência para os ‘invadir’ aumenta. Quando é que atenção se transforma em invasão? “Quando os pais dão atenção aos filhos de forma compensatória com excesso de presentes, de comunicação verbal, de perguntas, quando interferem na vida deles, quando querem saber quem são os miúdos nos chats mais do que o necessário, quando entram no quarto deles para ver o que estão a fazer, os pais fazem-no com a melhor das intenções mas podem estar a vampirizar o espaço dos filhos. Principalmente porque hoje em dia já só se tem um filho, e portanto ele acaba por se tornar no foco único do pai e da mãe.”

Acima de tudo, os filhos devem ter a possibilidade de viver com descontracção. Mas hoje em dia, essa descontracção parece extraordinariamente difícil de atingir. “Num pai controlador, o facto da criança cair faz com que ela nunca mais volte a andar. Para ela, o fardo de ter de acalmar o pai ou a mãe faz com que prefira nunca mais andar. Portanto, os filhos devem ter a possibilidade de errar na adolescência, porque mais tarde a resistência ao fracasso é menor.”

Quer dizer: a tolerância à dor e à frustração – fundamental para os tempos que correm – tem de ser aprendida na adolescência. E para aprender isso, a criança tem de ter a possibilidade de cair. Pode ajudá-la na subida, mas ela tem de subir sozinha.


Estamos a viver através dos filhos?

 

A partir de quando é que essa ‘ajuda na subida’ se transforma em puxar o carro por eles? “Deve-se criar as condições para as crianças terem um bom desempenho escolar, mas só isso”, defende Clara Soares. Problema: não se deve cobrar este desempenho, que é muito frequente nos pais. “Só te dou a consola se tiveres esta nota”, isto não é a educação ideal, porque no dia em que os pais não tiverem dinheiro para presentes os miúdos vão vê-los como pais maus porque eles cumpriram e os pais não lhes deram, e para eles amar é sinónimo de se dar coisas.”


Mas depois os pais dizem, como a Joana: “Se eu não andasse em cima dele, só tirava negativas!”

“Quando alguém diz isso, seria bom fazer a pergunta: Se eu não andasse em cima dele, o que é que eu estaria a fazer? Não ele, mas eu!”, nota Clara. “As pessoas não podem viver a sua vida através dos filhos, porque esse tipo de padrão acaba sempre mal. Os filhos querem autonomizar-se e não conseguem, e a mãe acaba a tratar da vida deles até serem adultos.”

Conversa em vez de controlo

Há questões de segurança que assustam mais os pais: as pessoas que podem estar a falar com os filhos na internet sem que os pais saibam, é um dos fantasmas. “Temos de admitir que os miúdos têm muito mais literacia tecnológica com nós, mas os pais podem passar essa pasta sem abdicarem dos seus valores”, defende Clara.


Quanto a ler diários ou vasculhar mochilas, está fora de questão: “Isso é uma perturbação da personalidade. Tão simples como isso. Outra coisa é que, por exemplo, os pais tenham uma password para aceder ao computador dos filhos. Os limites devem ser postos na altura, não é achar que a criança vai ser espiada e violada e exposta a pedófilos, porque isso vai criar nela uma ansiedade inútil e acaba por provocar aquilo a que se chama uma profecia realizada, porque depois a criança vai sentir que tudo pode acontecer-lhe. Claro que às vezes digo à minha filha – Tens novas fotografias no teu Hi5? – Isto é uma espécie de etiqueta parental na relação com os adolescentes que deve ser respeitada.”


Muitas vezes, os pais preocupam-se… ao lado. “Por exemplo: os adolescentes começam a beber cada vez mais cedo. Isso é muito preocupante. Mas eu vejo mais pais obcecados com as notas e a escola…”

Promova a independência

Ou seja, saiba o que se passa mas sem ansiedade. “Não podemos projectar nos filhos os nosso medos. Quando se faz isto a um filho, está-se a criar condições para que ele nos cobre isto mais tarde, da pior maneira possível.”

Criar filhos dependentes pode resultar em futuros mais negros do que imaginamos: “Muitas vezes, este tipo de parentalidade resulta em relações sufocantes entre pais e filhos. Em adultos, os rapazes podem cair na situação clássica da namorada que o obriga a escolher entre ela e a mãe e ele escolhe a mãe, porque nunca cortou o cordão. No caso das filhas, a coisa pode ser ainda mais complicada, porque vivem em constante rivalidade com as mães. São tipicamente aquelas mulheres que vão atrair homens irresponsáveis ou que não se conseguem vincular, e que portanto, a nível inconsciente, não são ameaçadores da funcionalidade em que elas vivem.”

Claro que estas coisas não são matemáticas, há muitos adolescentes que resistem a tudo, até a maus pais, e o grupo de amigos também tem imensa importância. Quantas vezes não vemos pais irresponsáveis com filhos absolutamente responsáveis? “Mas esses são os resistentes”, nota Clara. “Não podemos contar com isso: temos que lhes dar um espaço seguro mas descontraído onde eles possam crescer sem medos inúteis.

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