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Foto: Divulgação/Springfield

A adolescência é a idade dos namoros, das saídas, das respostas parvas, das minissaias… É preciso entrar em pânico ou estamos a fazer um bom trabalho? Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica e diretora da clínica ‘Crescer’, respondeu a várias perguntas e explicou por que é que, neste caso, todas as mães deviam ser… mães adolescentes.


A ADOLESCÊNCIA É MESMO UMA FASE COMPLICADA?
“Nem sempre”, defende Maria de Jesus Candeias. “A adolescência é um processo normal, com vários desafios que os jovens precisam de correr, mas não é necessariamente um período perturbado.”

O MUNDO ESTÁ MESMO MAIS PERIGOSO?
“Acho que há dois lados: a liberdade dos jovens aumentou o acesso a muitos perigos, mas também noto que há uma grande dramatização da realidade. Há coisas que passam como se fossem realidade mas são apenas situações pontuais. Portanto, temos de ter os cuidados básicos, mas sem exagerar.”

13 ANOS É DEMASIADO NOVO PARA SAIR À NOITE?
“É. Os pais têm de manter a autoridade até ao limite, e os jovens só são responsáveis por si próprios aos 18 anos. Sei que há muitos jovens a sair com 13 anos, mas para mim é impensável deixar alguém sair antes dos 16. Os pais têm de ter consciência de que estes limites não são impostos por acaso: uma criança com 13 anos ainda não se sabe defender. E os pais têm de perceber que são responsáveis pelos filhos, mesmos que eles protestem. Claro que os adolescentes também protestam mais quando sentem que há margem para isso… Portanto, os pais devem ir estabelecendo metas progressivas de conquista de liberdade e confiança.” 

DEVO IR BUSCÁ-LO À DISCOTECA?
“Nas primeiras vezes. Os pais devem assegurar-se de que eles voltam em segurança para casa. Têm de saber como vão, com quem vão, como voltam. Conhecer os amigos é muito importante. É normal que os jovens não gostem que os pais os vão buscar, por isso nas primeiras saídas pode-se combinar com eles algum lugar de encontro, por exemplo. Porque eles dizem que não gostam, mas também se sentem protegidos. Depois gradualmente pode-se deixá-los vir pelos seus próprios meios, se se vir que merecem confiança e cumprem os horários de entrada.” 

DEVEM TER MESADA?
“Acho que sim. A mesada é muito importante no sentido da responsabilização e de ensinar a criança e depois o adolescente a fazer a sua gestão e a tornar-se autónomo, mas a quantia deve variar em função da idade, das possibilidades da família e daquilo que o adolescente precisa de gastar por mês. Dizer ‘dou-lhe 20 euros porque sim’, é irrealista e não vai ensiná-lo a gerir nada. Claro que dar-lhe dinheiro a mais que lhe permita comprar tudo o que quer também não vai ensiná-lo a poupar, a fazer escolhas, a perceber que para ter algumas coisas não pode ter outras.”

COMO NÃO PERDER O CONTROLO DAS VIDAS DELES?
“Mas a ideia é mesmo essa: os filhos não são pertença dos pais… Os filhos têm uma vida própria, uma luta própria, objetivos próprios, não estão cá para fazerem o que nós queremos que eles façam, e isto muitas vezes é confundido com pôr em causa a autoridade dos pais. Muitos pais vivem isto como uma afronta, quando se trata apenas de os filhos terem opiniões diferentes. Ou então, os pais veem como uma traição: agora gostam mais dos amigos do que dos pais… Isto gera muitos mal-entendidos. Mas um jovem que discute com os pais e luta pela sua autonomia é um jovem saudável.”

AS NOTAS DA MINHA FILHA BAIXARAM MUITO PORQUE ANDA DEMASIADO OCUPADA COM OS NAMORADOS. O QUE É QUE POSSO FAZER?
“Isso é absolutamente normal. Os pais stressam imenso quando as notas baixam, mas têm de perceber que é uma fase absolutamente natural e que o adolescente têm nessa altura mais com que se preocupar… Os pais não devem dramatizar, porque, se não se fizer um grande drama, há ali um ano ou dois em baixo mas depois as coisas normalizam. Se der demasiada importância à situação, isto pode resultar num problema difícil de resolver.”

VI A MINHA FILHA BEIJAR UM RAPAZ. DEVO CONTAR AO MEU MARIDO?
“Ainda temos muitos preconceitos em relação à sexualidade das raparigas. Se for um rapaz, achamos que faz muito bem e que já está um homenzinho, se é uma rapariga ficamos em pânico. Acho que não há mal nenhum em partilhar com o marido o desenvolvimento de um filho – mas se já se sabe que isso vai criar tensão, a própria mãe tem de gerir isso. Aliás, não há nada que possa fazer…”

É POSSÍVEL EDUCÁ-LOS PARA
RESISTIR AO BULLYING? 
“Educá-los para resistir é difícil, porque as vítimas de bullying têm características muito próprias ligadas à timidez, ao medo, à falta de autoestima, que as levam a estar nestas situações. 
Não se pode dizer-lhes ‘reajam’ ou ‘não tenham medo’ ou ‘não ligues’, porque é óbvio que a natureza deles não os autoriza a fazê-lo. Portanto, é importante estar atento ao comportamento deles, dizer-lhes que essas situações não acontecem só a eles, e alertá-los para pedirem ajuda se tiverem algum problema, porque o segredo e a vergonha impedem-nos muitas vezes de serem auxiliados.” 

SE EU LHE CONTAR OS ERROS QUE COMETI, ELE FARÁ O MESMO? 
“Ele fará o que precisar de fazer. As mães têm de fazer o luto da criança que os filhos foram e perceber que têm em mãos o fantástico desafio de transformar aquelas pessoas em adultos saudáveis. Mas para isso os jovens têm de viver a sua vida e cometer muitos erros. Os pais tentam muitas vezes poupar aos filhos erros que eles próprios fizeram, mas as coisas não funcionam assim. O filho terá de passar por tudo ele mesmo, tem de aprender a viver por conta própria, tem de aprender a pensar sozinho e ganhar um sentido de exigência próprio e interiorizado, sem estar a fazer alguma coisa porque outra pessoa acha que ele deve.”

COMO AFASTÁ-LOS DAS MÁS INFLUÊNCIAS?
“Geralmente, os jovens procuram os seus iguais. Portanto, eles procuram pessoas com as quais se identifiquem e se sintam bem. Ou eles próprios se sentem à margem na família e procuram alguém nas mesmas condições, ou vão escolher amigos com o mesmo tipo de valores. Os jovens procuram-se segundo uma atração pelo mesmo. Se um jovem for muito estruturado, procura pessoas igualmente sólidas. Se está menos estruturado ou tem curiosidade por outro tipo de comportamentos, irá procurar pessoas que depois podem potenciar situações menos saudáveis… Mas ele é que fará a sua escolha.”
 
A MINHA FILHA DE 15 ANOS TEIMA EM USAR SAIAS MESMO CURTAS. FAÇO O QUÊ?
“Nada. A adolescência passa por essa exibição do corpo e o assumir da sexualidade. Elas precisam de se sentir desejáveis e de mostrar que já não são crianças. Novamente, temos dificuldade em lidar com a sexualidade dos jovens, principalmente das raparigas. E novamente temos de as respeitar e recordar a adolescente que fomos. O problema dos adultos é que muitas vezes se esquecem da sua própria experiência de juventude…  Ora os filhos têm de passar pelos mesmos processos, embora os tempos sejam outros. E os pais deviam recordar essa experiência para poderem ser, olhe, pais adolescentes.” (risos)

A PREVENÇÃO FUNCIONA, OU ELES VÃO SEMPRE FAZER O QUE OS AMIGOS FAZEM?
“É possível resistir à pressão de grupo, mas essa pressão pode tornar-se bastante pesada. Se o jovem estiver num grupo saudável, terá menos problemas porque as opções de cada um serão respeitadas. Mas grupos mais problemáticos acabam por exercer mais pressão. Os pais podem falar disto com os filhos, e é importante que os ajudem a não ter vergonha de ser quem são. Um jovem com autoestima facilmente ultrapassa estas questões, mas se for mais inseguro pode ter mais dificuldades.” 

CADA VEZ MAIS SE ESQUIVAM A UM CONTACTO FÍSICO, UM ABRAÇO, UM BEIJO, MESMO O MAIS BÁSICO. DEVEMOS INSISTIR OU ESQUECER?
“Devemos respeitar e dar-lhes espaço. Há um período em que eles precisam de mostrar que já não são bebés e querem demarcar-se dos comportamentos infantis. Durante esse período, não devemos insistir no contacto físico. Quando eles forem – ou se sentirem – mais adultos, voltarão àquilo que são naturalmente: afetuosos ou menos afetuosos…” 

DEVO LEVÁ-LA AO GINECOLOGISTA?
“A mãe deve marcar uma consulta e perguntar à filha: queres que a mãe vá contigo ou preferes ir sozinha? É importante explicar-lhe que tal não servirá necessariamente para iniciar a sua vida sexual mas para ver se está tudo bem. Além dos ginecologistas também há consultas de apoio nos centros de saúde com técnicos que falam com eles mais à vontade. Portanto, não precisam de ser os pais a ter estas conversas com os filhos, mas podem encaminhá-los. Se bem que hoje em dia os jovens têm muito mais acesso à informação.”

 

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