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Katharina Wittfeld

*artigo publicado originalmente em fevereiro de 2016

Se calhar não serão todos na mesma noite. Se calhar vai haver algum que se transforma em príncipe mesmo antes das férias. Mas imagine que a convidaram assim de repente para uma festa. Um jantar. Um encontro. Quem é que nunca viu pela frente…

1 . O Estrangeiro

Chegou há pouco tempo de um sítio bastante a norte de que ninguém consegue pronunciar o nome e ainda não se entendeu com a cena do beijinho português na cara (vira sempre a bochecha para o lado errado e há um choque em cadeia de narizes) mas parece não ter nenhum problema com os beijinhos na boca. Acha todas as portuguesas lindas e ‘hot’, já foram chocalhá-lo nas tuc-tucs e encharcá-lo em pastéis de Belém e ele continuou a achar tudo lindo, e mesmo que ele volte daqui a dias para o sítio que ninguém consegue dizer, há-de ficar uma bela recordação para contar aos netos (esperemos que não fique também um dos pais dos netos. Já agora. Foi lindo mas não tanto).

2. O Desconhecido

Nem sabe quem ele é, francamente, não se pode conhecer toda a gente e o sítio estava à cunha, fazia lembrar aquela anedota do ‘como é que se chamam os habitantes de Santarém? O quê, todos?’. Mas ele era giro e simpático e estava ali à mão de beijar e assim como assim, vai ter o resto da vida para lhe perguntar como é que se chama. Claro que na maioria das vezes, assim que soa a 12ª badalada de algum relógio, ele desaparece. Sem deixar sequer um sapatinho. Mr. Disney tinha razão. Não vale mesmo a pena trocar a cauda de sereia pelas pernas de humana (isto não faz sentido nenhum mas estamos demasiado bêbedas e demasiado desapontadas).

3. O Chato

A sua amiga que a trouxe à festa prometeu-lhe uma data de amigos giros e charmosos que ficariam bem em qualquer selfie, mas o único que lhe deu atenção foi, como é que ele se chama, o Zé Manel?, que tem ar de quem não toma banho desde o cerco de Lisboa, e ainda não parou de lhe falar num qualquer jogo de computador (ou será de cartas? Ou será de iphone?) sobre a Guerra das Estrelas, de que você nunca ouviu falar. Ele pelos vistos ainda não aprendeu que se uma mulher repetir ‘Ai que interessante’ é porque está, pelo canto do olho, à procura de uma saída de emergência por onde escapar, mas ninguém a salva, está toda a gente demasiado entretida a rir e a conversar e a música está demasiado alta e você só consegue distinguir que o (Zé Manel?) ainda continua a falar dos drones, ou lá o que é, e quando o vê aproximar-se pensa ‘ó não, vou ter de beijar este! Meu Deus salva-me!, mas Deus deve estar mais ocupado noutro sítio porque. Pronto. A boca dele sabe a tiras de milho com caril. Rats.

4. O Feicebuquer

Passou a noite incansavelmente a postar variadas fotos, a relatar minuto a minuto as suas andanças, a publicar selfies, aqui sou eu com o Zé Paulo a vomitar na banheira, aqui estou eu e a Luísa Margarida à espera que as strippers apareçam, eu e as strippers, as strippers, o que aconteceu depois das strippers. Este vai ser o último homem na Terra e mesmo na Via Láctea a beijá-la, se é que vão chegar a tanto, porque ele não larga o telemóvel e está demasiado ocupado a espetar no Facebook uma selfie (“Ai espera lá, ó Maria Clara, aguenta aí um minutinho enquanto eu faço aqui… aqui… uma coisa… espera…”) mais a foto do copo do cocktail com o chapelinho espetado, para se perceber bem que ele não ficou em casa, enquanto cá em baixo na realidade você espera de braços cruzados (“deixa lá, não te apresses”) que ele decida baixar à Terra e festejar entre os humanos. Quando – se – o beijar, já o verão vai avançado.

5. O Desconsolado

Já são dois. Desconsolados. Chegaram os dois sozinhos. Começaram a conversar mas continuam os dois sozinhos. Ele é o Paulinho. É magrinho, curvadinho e infeliz. Tem uma camisola cheia de borbotos. Qualquer ser humano seria infeliz dentro daquela camisola. Têm uma dificuldade enorme em fazer conversa porque nitidamente nenhum dos dois se interessa pelos borbotos do outro, mas são os únicos ali que estão sozinhos. Ai, antes o dos drones. Pelo menos tinha conversa. Enfim, tinha monólogo. Mesmo que não interessasse a ninguém.

6. O Ex

Quando o vemos no outro lado da sala até pensamos que estamos a ver mal. Ó não. O Vasco. Separou-se do Vasco há dois anos. Foi feio. Nem se quer lembrar disso. Ele chamou-lhe tudo. Você não chamou nada porque é uma senhora mas mais valia ter chamado porque depois ele foi dizer a toda a gente que você era a pior totó que já conhecera e que até um abacate tinha mais interesse (com quantos abacates teria ele privado?). Foi-se embora e levou-lhe tudo, incluindo o Gato (que por acaso era um cão) e a auto-estima. Agora estão aqui frente a frente. E não perguntem porquê, mas de repente já nada parece tão mau como foi. Você pergunta como está o Gato. Está bom. Ladra a noite toda e acorda os vizinhos. De repente lembra-se como ele podia ser divertido e boa pessoa. Não há mesmo mais ninguém interessante num raio de dez quilómetros. E não está ninguém a ver. E é só um beijinho. (Acabam enrolados como dantes, mas de manhã ele volta para a namorada e vocês nunca mais se falam. Enfim. Vai ter o verão inteiro para recuperar).

7. O Chefe

Não é o seu (felizmente) mas é o de alguém (pobre alguém). Passou o jantar a gabar-se do seu rico emprego e a botar discurso sobre coisas que não interessam nem ao careca. Não lhe faz uma única pergunta sobre o seu trabalho ou os seus interesses, quando faz é só para ficar bem na fotografia mas não sustenta a conversa porque os outros não lhe interessam nada, nem as mulheres, que não lhe interessam como outros, só lhe interessam para acrescentar glamour à sua glória. Adenda: só a beijará se você for muito muito gira. E usar saltos agulha. E tiver pelo menos uma década a menos que ele.

8. O Amor da Sua Vida

Este não é um sapo mas o seu príncipe. Quer dizer: costumava ser… Partilham a vida. Partilham a cama. Partilham a casa de banho. Partilham tudo, mas arriscam-se a não partilhar um simples jantar de amigos porque o amor da sua vida está sempre demasiado stressado a fazer o caldo verde, ou foi lá abaixo à cave buscar mais vinho, ou dedicou-se a consertar o cano que pinga na casa de banho, ou então não consegue arrancá-lo ao ‘combóio’ de ‘party people’ que pula pela sala gritando ‘Milaaaaa, Mil e uma noites de amor com vocêêêê’, e não lhe liga nenhuma, ó céus, quando se apaixonou por ele só ouviam Caetano Veloso, as coisas que o verdadeiro amor aguenta, lá se mete também no ‘comboio’, sabendo que, assim como assim, não vale a pena stressar.

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PARA QUE SERVE BEIJAR?

Segundo vários estudos, beijamos por várias razões: ajuda a iniciar relações, sendo ao que parece uma forma de testar a compatibilidade genética com um parceiro, através da saliva. Também ajuda a cimentar essa relação, porque cria oxitocina, a ‘hormona do amor. E porque, segundo um investigador de Oxford (www.eurekalert.org), põe em perspectiva a questão Jane Austen: quanto tempo mais devo esperar pelo Mr. Darcy? Ou seja, beijar alguns ‘sapos’ ajuda a perceber qual é a nossa posição no ‘mercado matrimonial’ e quais as nossas hipóteses de encontrar um parceiro.

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