A conversa aqueceu num episódio recente do Passadeira Vermelha. No dia 16 de abril, os comentadores analisaram um vídeo, no qual Liliana Aguiar e Francisco Nunes discutem um tema que consideram “polémico”: o orgasmo feminino.
De recordar que o casal produz conteúdos para o canal de YouTube Liliana Sem Salto. Num dos seus vlogues, a empresária fala apaixonadamente do assunto e afirma que muitas mulheres “fingem ter orgasmos para satisfazer o companheiro.” O ex-manequim, por sua vez, dá a entender que os homens não conseguem perceber quando as companheiras estão a simular atingir o clímax.
O diálogo a dois deu o mote para uma troca de ideias no talk show nacional, e Maria Botelho Moniz acabou por surpreender os colegas no painel moderado por Liliana Campos com uma simples palavra.
“Que atire a primeira pedra a mulher que nunca fingiu um orgasmo,” diz Joana Latino. “Eu,” responde a apresentadora de 35 anos. “Oh, mulher! Tens que o fazer às vezes, se não isto nunca mais acaba,” responde a jornalista. “E assim termino este tema. Eu,” acrescenta Maria, em tom de brincadeira.
Quem viu o episódio, com certeza reparou que a revelação causou um silêncio – que embora tenha sido breve, pareceu durar uma eternidade – em estúdio. Isto porque, por algum motivo, tornou-se expectável ouvir que uma mulher já fingiu um orgasmo pelo menos uma vez na vida. E os dados corroboram-no. Por exemplo, de acordo com um estudo de 2017, metade das mulheres estadunidenses admitem que já o fizeram.
Os cientistas ainda não têm a certeza de quais são os músculos que estão envolvidos no orgasmo feminino, e não conseguem chegar a um consenso em relação à existência do Ponto G. Além do mais, muitos de nós aprendemos uma boa parte daquilo que sabemos acerca de normas sociais e sexo através de Hollywood ou de pornografia, o que… bom, digamos que não é muito prático no dia-a-dia. E tudo isto ainda é demasiado tabu, principalmente fora dos grandes centros urbanos.
Estamos em 2019. Porque é que o orgasmo feminino ainda é tão complicado?
Fomos falar com a sexóloga Vânia Beliz para descobrir a resposta.
Como se explica que, atualmente, as mulheres continuem a fingir orgasmos?
Muitas mulheres ainda não conseguem ter prazer. Alguns estudos referem que 10% não o conseguem – acredito que sejam mais – e isso faz com que acabem por fingi-lo.
Na sua opinião, quais são os principais motivos que as levam a fazê-lo?
As mulheres não querem decepcionar os parceiros, por isso acabam por mentir em relação ao seu prazer. Também existe uma pressão para o orgasmo, como se a satisfação sexual dependesse disso. Por conseguinte, não atingir o orgasmo faz com que se tinham “diminuídas” no seu potencial.
Fingir orgasmos é, de facto, um problema ou simplesmente temos uma visão limitada daquilo que é o prazer sexual feminino?
Se queremos conquistar o prazer, fingir nunca é uma boa estratégia. Isso faz com que não nos empenhemos em consegui-lo e com que os nossos parceiros não experimentem outras formas de nos estimular. Se fingirmos, não vamos conseguir ultrapassar as dificuldades para alcançar mais prazer.
Um estudo americano de 2017 comparou a frequência de orgasmos entre homens e mulheres, consoante o género do parceiro sexual. As conclusões foram as seguintes: 95% dos homens heterossexuais diziam ter orgasmos regularmente durante o sexo, enquanto 65% das mulheres heterossexuais admitiam o mesmo. Contudo, no caso das mulheres lésbicas, o número subia para 86%. Por que motivo(s) o orgasmo feminino parece ser mais difícil quando um homem está envolvido?
Os resultados são muito importantes porque mostram que a penetração não é de todo o mais importante para o prazer feminino. Numa relação lésbica o toque e a estimulação externa privilegia o clitoris, que é a principal estrutura para o prazer feminino. A penetração não é o principal caminho para o prazer feminino.
O que é que os parceiros sexuais podem fazer para ajudar?
Num inquérito de 2010, concluiu-se que as raparigas tinham quase duas vezes mais probabilidade do que os rapazes de dizer que nunca se masturbaram. Qual é a importância da exploração individual não só para sabermos o que nos faz sentir bem, como para comunicarmos isso a um parceiro
É muito importante! Muitas mulheres não conhecem a sua genitália, têm sentimentos negativos em relação a ela e não conhecem as suas sensações. A masturbação ainda é vista como algo errado e é um comportamento que continua associado aos homens e à prática solitária.
Diria que orgasmo feminino é um tema mal explorado na educação sexual?
Sim. Não educamos para o prazer; ainda nos educam para riscos e consequências.
Que impacto isso tem?
Se não falarmos de satisfação e prazer não desmistificamos obstáculos e não abrimos a possibilidade de se ter mais prazer.
Afinal, quantos tipos de orgasmos femininos existem?
Prefiro falar de um orgasmo e de inúmeras formas para chegar a ele: sexo oral, toque, penetração, estimulação genital, etc. Os orgasmos também são diferentes na sua intensidade… mais suaves ou mais explosivos. O que importa é termos prazer, mesmo que não acordemos o condomínio com gemidos.