Fotografia: Constança Coelho (@cgpc_ | @conc.ph)

O dia 6 de junho de 2020 teve um significado especial para todos os aliados na luta antirracista, independentemente do tom de pele. 

Quando eu soube que iam decorrer manifestações #BlackLivesMatter em várias cidades de Portugal, admito que, por segundos, o meu lado cético entrou em ação. Afinal de contas, num país conhecido pelos ‘brandos costumes’, a sociedade sempre me pareceu estar dessensibilizada às notícias (nacionais e internacionais) que dão conta de injustiças racialmente motivadas e, acima de tudo, à certeza subentendida de que há muitos mais casos que, infelizmente, não chegam aos meios de comunicação mainstream. 

Por isso mesmo, é difícil expressar por palavras o quão tocante foi assistir à união de tantas pessoas de todas as idades, etnias, credos e estratos sociais para gritarem, em uníssono, que as vidas negras importam, ecoando as palavras que sustentam o movimento americano que se tornou global. E mais: pela primeira vez, em 29 anos de existência, senti que o racismo sistémico está a ser encarado como um problema de todos e que, desta vez, as coisas podem mesmo mudar para melhor.

Fotografia: Constança Coelho (@cgpc_ | @conc.ph)

Mas não há bela sem senão. Depois da manifestação pacífica, caí no erro de ler os comentários dos leitores dos principais órgãos de comunicação social portugueses sobre o assunto – e, ao contrário do momento histórico, não foi bonito.

“Se fosse para irem trabalhar, já se preocupavam com a COVID”; “Estupidez também é pandemia”; “Com os coletes amarelos apareceram 20. Morre um gajo que passou a vida a roubar, aparecem logo cinco mil” e “Os portugueses importam-se mais com o que acontece do outro lado do Atlântico do que com o que se passa cá” são apenas alguns exemplos das reações online.

Dito isto, mais do que expressar a minha opinião e agradecer profundamente aos manifestantes, sinto que é importante dar voz a quem lá esteve; aos jovens que pertencem a uma geração que se recusa a ver a igualdade como uma utopia e que decidiram prioritizar pôr fim a uma ‘pandemia’ bem mais antiga e perpetuada ao longo dos séculos, cujos tentáculos também são letais.

Os dados falam por si. Na América, o número de vítimas mortais às mãos da polícia afeta a comunidade negra de uma forma desproporcional, diz um estudo levado a cabo entre 2013 e 2019. Apesar de comporem apenas 13% da população, os americanos negros têm uma probabilidade quase três vezes maior de serem mortos pelas autoridades do que os americanos brancos. Além disso, regista o maior número de vítimas desarmadas (17%) entre todas as origens étnicas analisadas no âmbito deste trabalho.

Em Portugal, destaco uma notícia do jornal “Público” sobre um projeto recente da Universidade de Coimbra, que analisou casos de queixas por racismo praticados por membros das forças de segurança. As conclusões apontam para negligência na investigação e desproteção dos queixosos, sendo que 75% das queixas de racismo praticado por polícias nos últimos dez anos acabaram arquivadas. Apenas 30% das queixas seguiram para o Ministério Público, mas destas nenhuma resultou em condenação. Uma realidade incómoda para alguns, mas que não pode continuar a ser ignorada.

Percorra a galeria, abaixo, e saiba o que 11 jovens têm a dizer a quem critica as manifestações #BlackLivesMatter portuguesas.

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