Se há coisa que a quarentena me ensinou é que nós não controlamos nada. Então, por que raio é que eu sinto a necessidade de fazê-lo constantemente com as minhas emoções? Esta foi a dúvida que me levou a considerar fazer uma terapia alternativa.
“Vou fazer Reiki esta semana”, disse eu, entusiasmada, à minha melhor amiga. “Se há pessoa que não imagino numa marquesa de Reiki, és tu”, respondeu ela, fazendo referência ao meu nível de ceticismo. Mas a vida dá voltas e, de há uns tempos para cá, tenho sentido a necessidade de ‘afinar’ o que existe entre a minha cabeça e o coração — eles parecem estar sempre em desacordo — e, acima de tudo, de trabalhar a famosa inteligência emocional.
Dois dias depois, tive a minha primeira sessão. Ao chegar ao centro, fui recebida por Carla Collinson, a proprietária, com um grande sorriso. Como manda a ‘nova tradição’, os beijinhos e abraços deram lugar à oferta de álcool gel e de proteções para sapatos em plástico descartável. Depois, a profissional certificada em Reiki I e Reiki II apresentou-me o espaço e fez um resumo daquilo em que consistiriam as duas horas seguintes.
“O teu muro caiu”
A premissa do Reiki é bastante simples: seguindo a técnica centenária japonesa, o terapeuta estende as mãos em posições específicas sobre pontos-chave do corpo do paciente ligados aos chacras principais e canaliza energia vital universal, de modo a restaurar o equilíbrio físico, regular as funções vitais e equilibrar o campo mental e emocional.
“Não vou tocar-te. É muito raro eu ter de tocar em alguém”, explicou-me a especialista. Basicamente, deitei-me numa marquesa, completamente vestida, e segui as instruções para respirar profundamente e descontrair ao som da música relaxante que tocava, tentando abstrair-me ao máximo da vida ‘lá fora’. Uma coisa importante que retive é que não existe uma forma padrão ou correta de experienciar a terapia.
“O Reiki funciona, mesmo à distância. Portanto, se não conseguires abstrair-te ou se tiveres pensamentos, agradece e foca-te na música… ou num lugar que te traga paz”. Este conselho tornou tudo muito mais fácil, porque não senti a pressão de ter atingir o nirvana naquele curto espaço de tempo.
Passados uns bons minutos, consegui relaxar completamente. É curioso porque, para minha surpresa, tive sensações localizadas de calor – repito: sem qualquer toque – e, a determinada altura, vieram-me lágrimas aos olhos. Mal terminámos, perguntei à Carla do que se tratava.
“O calor é a energia a atuar”, afirmou. “E choraste porque o teu muro caiu. Se sentires a necessidade de chorar, chora. Eu vou dar-te uns minutos e já volto. Não temos restrições de tempo”.
Emoções à flor da pele
Para alguém que detesta chorar em público, especialmente na presença de desconhecidos, dei o espetáculo de uma vida. Primeiro, chorei sozinha, enquanto estive sentada na marquesa a recompor-me. Não satisfeita com isso, quando a Carla voltou com chás para acompanharem a conversa que se segue ao tratamento, ainda tive umas quantas ‘recaídas’. Em circunstâncias normais, no meu pensamento ‘à ocidental’, teria ficado constrangida. Porém, aqui mandam as regras do Oriente e, na verdade, foi uma experiência libertadora.
De seguida, falámos sobre as conclusões a que a terapeuta profissional chegou durante a sessão, com base no estado atual dos meus chacras, ou seja, de cada um dos centros de energia distribuídos pelo corpo. Resumindo: a maioria deles estava bloqueada, exatamente devido à tal luta interna entre a razão e o coração. Foi estranho ter alguém que tinha acabado de me conhecer a ‘ler-me’ de uma forma tão detalhada, mas tudo fez sentido.
É difícil descrever este tipo de experiência. Tudo o que sei é que saí do centro a compreender-me melhor e com uma grande sensação de calma e leveza, como há muito não sentia. E isso, por si só, já é uma vitória. Este foi o meu primeiro contacto com o Reiki, mas certamente não será o último.