Acredito que seja difícil – se não impossível – algum amante de Jane Austen não ficar rendido a esta adaptação de uma das mais famosas obras da escritora inglesa. É verdade que já existe uma versão mais antiga, protagonizada por Gwyneth Paltrow, de 1996, mas atrevo-me a dizer que a Emma de Anya Taylor-Joy tem uma vivacidade e uma petulância transportadas das páginas do livro diretamente para o ecrã e que tornam o filme simplesmente encantador, como se quer de uma adaptação de qualquer obra de Austen.
A protagonista desta comédia romântica já se tornou famosa como estrela da série de Netflix de que muito se fala – Gambito de Dama – no papel da brilhante e atormentada xadrezista, Elizabeth Harmon. Neste filme, vemos a atriz num registo completamente diferente, que vai além de ter passado de loira para ruiva, em que prova novamente o seu talento, apesar de ter apenas 24 anos.
A história de ‘Emma’ mostra-nos as desventuras e aventuras de uma jovem aristocrata, Emma Woodhouse, “bonita, esperta e rica”, rainha incontestada da casa, onde reside apenas com um pai hipocondríaco e meio aluada, consciente dessa independência atípica na época e por isso determinada a casar o mais tarde possível. Na pacatez de uma vida passada entre passeios no jardim e serões a bordar ou a tocar piano e a cantar para a pequena comunidade que vive nas imediações da sua propriedade, Emma envereda por um projeto. Segura de si – demasiado segura – e das suas capacidades, acaba por tentar agir como a mais sagaz casamenteira. Uma ideia que acaba por metê-la em confusões e a conduz a uma aprendizagem de humildade e empatia, que culmina no encontrar do verdadeiro amor – como em qualquer romance de Austen – por um homem íntegro e de caráter impoluto. O mesmo é dizer que por um homem que está à altura da verdadeira essência de Emma, uma ‘igualdade’ comum a todos os casais românticos dos livros de Austen, que revela assim a costela feminista, ou pelos menos a possível na época.
Porém, a obra da escritora britânica não se limitava às histórias de amor, antes era sempre pautada por um perspicaz e bem-humorado olhar sobre a sociedade aristocrata da época – aquela onde a autora se movia – e ‘Emma’, o seu último romance, está recheado de personagens deliciosas, do pároco que quer assegurar um casamento que lhe seja financeiramente benéfico, à senhora idosa e um pouco aborrecida nas suas conversas, mas de coração de ouro. Num retrato de costumes que não faz necessariamente dos nobres melhores, mas sim a nobreza uma questão de coração.
Um filme para ver como um bombom que se derrete na boca e aproveitar para revistar a obra de uma das mais amadas e apaixonantes romancistas do século XIX.
O filme pode ser visto no TVCine Top.