Era um desejo antigo que agora foi concretizado. Desde sempre que quis saber qual seria a sensação de estar lá em cima, no céu, e sabia que a experiência mais próxima de voar livremente seria fazer um salto de paraquedas. Então era mesmo isso que tinha de fazer!
Falei com amigos, descobri quem também tinha esta curiosidade e juntos procurámos locais em Portugal onde colocar a vontade em prática. Escolhemos a Escola e Centro de Paraquedismo do Aeródromo de Évora devido à maior proximidade com Lisboa, onde moramos (existem mais escolas em Portugal com este tipo de ofertas e serviços).
Encarreguei-me de entrar em contacto com a empresa, que muito rapidamente tratou da reserva. Pouco tempo após ter desligado a chamada já estava a receber mail com confirmação da data escolhida, informações do salto escolhido (5 mil metros, o mais alto da lista. Porque se é para ser, que seja o maior!), recomendações e ainda uma lista de segurança.
Antes do salto
Acordar cedo e fazer a viagem até Évora. Apesar de há muito desejar viver esta experiência, não posso negar: estava nervosa! Saber que em poucas horas iria estar em queda livre fazia-me pensar se realmente estava a fazer boas escolhas para a minha integridade física.
Truques para afastar o nervosismo: ter confiança na empresa (Afinal, fazem isto todos os dias há anos), recordar as pessoas que conheço que já saltaram de paraquedas (Se eles sobreviveram sãos e salvos o mesmo vai acontecer comigo), conversar com quem me acompanhava nesta aventura (O que achaste daquela nova série? Quando vamos experimentar aquele restaurante?) e começar a pensar na cor do fato que iríamos escolher no aeródramo quando chegasse o momento (O amarelo é meu! Mais ninguém escolhe).
Quando nos aproximamos do aeródromo uma surpresa: no céu começamos a ver paraquedas brancos. Um grupo tinha acabado de saltar e estava agora a planar no céu de Évora. O plano torna-se real e ali está a prova de que vai mesmo a acontecer! Risos de nervosismo surgem no carro.
Chegamos à Escola e Centro de Paraquedismo, estacionamos o carro e vamos ao hangar, bem identificado com o logo da empresa. Na recepção, a nossa reserva é confirmada e são entregues formulários para preenchermos (Que entusiasmo ver um secção para contacto de emergência! Mentira). Papéis preenchidos, entregues, valor em falta pago. “Ok. Podem ir agora ter com o instrutor”. Como assim? Sem tempo para respirar fundo? Isso mesmo.
O primeiro instrutor a que somos apresentados recebe o grupo com boa disposição. Aliás, sente-se um ótimo ambiente em toda a equipa. Indica-nos que temos de guardar os pertences em cacifos, pede para escolhermos o fato que vamos usar na experiência (Já tinha dito: amarelo para mim, por favor) e uns óculos (Azul vai combinar com o fato, não vai?). De seguida, coloca em cada elemento de principiantes (Nós!) o equipamente de segurança que nos vai deixar agarrados aos intrutores que nos vão acompanhar no salto (Nem vou tocar para não estragar!).
É hora do briefing. Outro instrutor chega e explica o que vai acontecer dali para a frente. Passo a passo, fala-nos de cada momento e das (poucas) preocupações que precisamos de ter. Como vamos sair do avião, em que situação abrimos os braços ou como vai ser a aterragem. Alguém tem dúvidas? É hora de ir para o avião!
Já no ar!
Conheço o instrutor que me vai acompanhar. Conversamos sobre expetativas, sobre a experiência que ele tem. Reocrda-me alguns pontos falados no briefing e começa a encaminhar-me para dentro do avião.
Quando dou por mim, estou sentada num banco comprido onde todas as pessoas que vão saltar se juntam. Além dos meus amigos, vai ainda um casal e um grupo de alunos que se prepara para realizar saltos a solo. O avião descola e começa a subir. Pela janela, observo a paisagem. Ver a altitude a aumentar poderia aumentar o nervosismo, mas a verdade é que me distrai. A vista é linda.
O instrutor que me acompanha vai falando comigo e pergunta várias vezes como me estou a sentir. “Estou bem”. O avião sobe mais e chega à altitude em que as primeiras pessoas vão saltar. Vou admitir: aqui tive o meu pico de nervosismo e de dúvida. Ver as primeiras pessoas a saírem do avião fez-me sentir o meu próprio estômago a dar uma volta. Eram pessoas que estavam a cair de uma grande altitude, que, de um momento para o outro ficavam sem chão. E eu ia a seguir.
Digo ao meu instrutor. “Agora sim estou nervosa”. Ela explica-me que é normal, quer ver as primeiras pessoas a saírem nos faz perceber que o salto vai mesmo a acontecer. Depois, fala-me dos anos de experiência que tem, dos muitos saltos que faz diariamente. “Este é o meu sexto de hoje”. Acalmei. Fiquei com a certeza de que as emoções podiam ser fortes, mas que iria ficar tudo bem.
O Salto
É agora. Como me foi indicado. Começo a deslizar pelo banco, em direção à porta. Faço respirações profundas, olho a direito e procuro os muitos pensamentos que me passam na cabeça. Coloco os joelhos no chão e deixo o instrutor comandar os movimentos. Decido que não vou olhar para baixo, sempre em frente. Mantenho a respiração controlada.
Tal como me tinha sido pedido, assim que estou prestes a sair do avião coloco a cabeça para cima. É então que acontece. De repente já não tenho chão. Estou fora do avião. No ar.
Uma batida mais forte no coração. A sensação de queda. A velocidade a aumentar. Um grito a formar-se cá dentro mas que não sai. Pressão na zona das mãos, que seguram o arnês (o único ponto que me dá uma sensação de controlo). Atenção à respiração pois de repente surgem dúvidas sobre como se inspira. Um misto de sensações de alerta que duram apenas poucos segundo. Quatro ou cinco segundos. Pois é então que surge algo inesperado: serenidade.
A sensação de que se está a cair desaparece. Se não fosse o vento forte a bater em todo o corpo nem perceberia que o corpo está em movimento numa velocidade aproximadamente de 200 km/h. “É porque atingimos uma velocidade estável”, explica-me o intrutor já no chão, quando o interrogo sobre essa sensação. É-me permitido abrir os braços. Altura de desfrutar.
Deixo-me encantar pela sensação de estar no ar, delicio-me com a velocidade, deslumbro-me com a paisagem. Este é sem dúvida um dos momentos altos. O medo já desapareceu, dando lugar a um sentimento de liberdade único. A uma tranquilidade que não imaginava encontrar tão lá em cima e durante uma queda. Foco-me em absorver cada segundo, pois já me tinha sido avisado que termina mais depressa do que se imagina.
Passado sensivelmente um minuto, recebo indicação de que é a altura de abrir o paraquedas. Mãos no arnês e sinto um leve puxão para cima. A queda livre terminou. Estou agora a planar.
Quando marquei o salto antecipava muito a queda livre, mas não imaginava muito como seria estar com o paraquedas aberto. Deixo o aviso: é muito divertido! O instrutor controla as direções, faz manobras e proporciona momentos mais radicais com voltas e rodopios. Não consigo parar de rir. Vejo o chão a aproximar-se devagarinho, mas parece que tudo está a passar rápido. Quero estar mais tempo no ar.
Recebo indicações de que se vai dar a aterragem. Coloco as pernas e pés como me foi indicado e antecipo o choque com o chão. Mas sabem que mais? Revelou-se muito suave, sem grande impacto. Estou novamente no chão e a vontade é de voltar a entrar no avião e repetir tudo. Não aconteceu nesse dia, mas fica a certeza de que voltará a acontecer. Mas poderá ser ainda mais alto?
Podem ver um resumo (muito resumido) de tudo o que vos contei no vídeo em baixo.