“A maior glória em viver não está em nunca cair, mas em subir cada vez que caímos.”
— Nelson Mandela
Estes são possivelmente os tempos de difíceis que já atravessámos, aqueles que nos têm conferido as maiores provações, e para os quais mais precisamos de ganhar capacidade para nos recompormos das diversas adversidades que vamos experienciando. Entramos aqui no campo da Resiliência, tão aclamada e citada de diferentes formas, nem todas corretas.
Convém começar por explicar previamente que a resiliência é uma habilidade infinitamente útil para sobrevivermos e para conseguirmos levantar-nos do chão em cada contrariedade da vida, mas que ela não nasce com cada um de nós da mesma forma… ela é moldada por um conjunto de circunstâncias que vão desde a personalidade, passando pelo meio ambiente, às conexões sociais e familiares.
Dito isto, devo começar por explicar do que realmente se trata. A maioria de nós pensa na resiliência como a capacidade de dobrar, mas não quebrar; de recuperar-se e até mesmo crescer diante de experiências adversas de vida. A Associação Americana de Psicologia define a resiliência como “o processo de adaptação bem diante de adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou até mesmo fontes significativas de stress”. Neste conceito, é importante especificar se estamos a falar de um traço, de um processo ou de um resultado. Devemos ainda ter em conta que a resiliência pode mudar ao longo do tempo em função do desenvolvimento e da interação com o meio ambiente.
Assim, é possível explicar a resiliência de forma muito simples: é trajetória estável de funcionamento saudável de um indivíduo após um evento altamente adverso. A caraterística mais importante do conceito da resiliência é, sem dúvida, seguir em frente! A resiliência envolve uma decisão ativa, que deve ser frequentemente reconfirmada. Essa decisão é a de seguir em frente, apesar das adversidades vividas.
Construir Resiliência
Na vida, a importância da resiliência afirma-se pela força necessária que cada um têm dentro de si para processar e superar as dificuldades. Aqueles que não têm resiliência ficam facilmente sobrecarregados e podem recorrer a mecanismos de resolução de problemas insalubres. Pessoas resilientes aproveitam os seus pontos fortes e sistemas de suporte para superar desafios e superar problemas. Devemos ainda destacar que a resiliência não é uma característica fixa. Assim a flexibilidade, adaptabilidade e perseverança podem ajudar as pessoas a explorar sua resiliência mudando certos pensamentos e comportamentos.
Desenvolver resiliência é também complexo e pessoal, e envolve uma combinação de forças interiores e recursos externos, e não há uma fórmula universal para se tornar mais resistente. Todas as pessoas são diferentes. É importante que tenhamos em conta que cada um desenvolverá resiliência à sua maneira e no seu tempo.
Contudo, é possível listar algumas dicas que permitem ajudar a melhorar a resiliência. Enquanto cada indivíduo processa traumas e adversidades de diferentes maneiras, existem certos fatores protetores que ajudam a construir resiliência, melhorando as habilidades de enfrentamento e a adaptabilidade. Esses fatores incluem:
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Apoio Social: uma pesquisa publicada em 2015, na revista E”cology and Society”, mostrou que sistemas sociais que fornecem apoio em tempos de crise ou trauma sustentam a resiliência no indivíduo. O apoio social pode incluir familiares, a própria comunidade, amigos e organizações.
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Planeamento Realista: a capacidade de fazer e realizar planos realistas ajuda a aumentar a concentração em objetivos alcançáveis.
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Autoestima: é fundamental ter um senso positivo de autoconfiança para afastar sentimentos de desamparo quando somos confrontados com adversidades.
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“Não ter medo de enfrentar o problema”: enfrentar as adversidades ajuda na resolução de problemas ajuda a capacitar uma pessoa que tem que lidar com um problema e superar dificuldades.
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Habilidades de Comunicação: ser capaz de se comunicar de forma clara e eficaz ajuda as pessoas a procurar apoio, mobilizar recursos e tomar medidas.
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Gestão Emocional: a capacidade de gerenciar emoções potencialmente avassaladoras (ou procurar ajuda para trabalhar através delas) ajuda as pessoas a manter o foco e a superar um desafio.
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Pesquisas sobre resiliência mostram também que é imperativo gerir o ambiente próximo em que o indivíduo se encontra, de forma a promover fatores protetores e que permitam gerir o stress em que a pessoa se pode encontrar.
Por outras palavras, a resiliência não é algo de que as pessoas se aproveitam apenas durante momentos avassaladores de adversidades. Ela constrói-se à medida que as os seres humanos encontram todos os tipos de desafios diários, e em contrabalanço para isso têm um conjunto de fatores que ajudam no sentido de darem um suporte para que superem cada um desses desafios.
Sobre os fatores de suporte que cada pessoa deve desenvolver para aumentar a sua resiliência poderíamos referenciar os seguintes: estabelecer conexões sociais; desenvolver o otimismo (sem perder o realismo), desenvolver o autoconhecimento para que isso lhe permita gerir as suas emoções para ter capacidade de enfrentar os problemas, e desenvolver as habilidades de foco, para conseguir centrar-se nas prioridades diante das adversidades da Vida.
Nestes tempos de crise, em que já caímos um sem número de vezes, em que levantar parece cada vez mais difícil, é normal estar cansado, mas também é fundamental continuar, aprender com a situação e fazer uma gestão das nossas emoções, sem medo de enfrentar os problemas, e não perdendo tempo em ruminações sobre circunstâncias futuras ou passadas, que não podemos alterar ou controlar.