A anestesia na cirurgia plástica assume elevada importância tanto para garantir a saúde da paciente quanto a tranquilidade do cirurgião, ao permitir garantir a realização dos procedimentos cirúrgicos com precisão e agilidade.

O reconhecimento da anestesia, para a realização dos procedimentos cirúrgicos com segurança, concorre com inúmeras crenças que originam muitos medos e inclusive, o adiamento da realização do sonho de fazer uma intervenção cirúrgica estética. Existe um profundo medo difundido na população relativo à anestesia e seus procedimentos. É bastante comum que a paciente não tema a cirurgia em si, mesmo as de grande porte, mas tenha verdadeiro pânico da anestesia.

Segundo dados do relatório Vital Health Report realizado pela Sociedade Americana de Anestesiologia, mais de 75% dos pacientes expressam algum tipo de receio em relação a anestesia durante uma cirurgia. Nas consultas pré-anestésicas, o anestesista ouve com frequência: “Um conhecido morreu na anestesia” ou “O paciente não aguentou a anestesia e morreu” e, até mesmo “Deu tanta anestesia, que ele não aguentou”. Mais comum ainda é “Tenho alergia à anestesia”, “Essa anestesia é perigosa?” perante estas questões urge a necessidade de desmistificar.

Desde já, a anestesia teve um progresso substancial nas últimas três décadas e esta evolução conduziu-nos ao patamar das mais seguras áreas da medicina. O anestesista, para além de fazer a anestesia propriamente dita, está na sala operatória, justamente para garantir a segurança da paciente, com a função de não só anestesiar, mas também diagnosticar e tratar qualquer intercorrência de forma imediata e eficaz.

Igualmente, o progresso farmacológico das últimas décadas foi notável. Os medicamentos antigos, inseguros e cheios de efeitos secundários, não são mais utilizados na prática clínica. Em seu lugar, dispomos de seguras e confiáveis terapêuticas, com rápida metabolização, que proporcionam despertar precoce, capazes de tratar a dor e com reduzido risco de desencadear efeitos secundários e alergias.

Por outro lado, ainda na área da anestesia, a evolução tecnológica é nossa aliada. Hoje, muito diferente do passado, possuímos os mais diversos monitores em função do ato anestésico e da paciente. Eles são capazes de monitorizar e trazer ao anestesista e ao cirurgião inúmeras informações, que proporcionam plena segurança e otimização do ato anestésico-cirúrgico.

Além da tecnologia e melhoria do perfil farmacológico, os processos hospitalares/clínicos e treino das equipas multidisciplinares também evoluíram exponencialmente. De destacar também a atual formação do médico anestesista. Em Portugal, são necessários em média 12 anos para completar a sua formação – são seis anos do curso de medicina e, pelo menos, cinco anos de especialização, além de um ano de formação geral, seguindo-se muitas vezes uma subespecialização, como é o caso da anestesia para cirurgia plástica e reconstrutiva.

Qual a anestesia indicada na cirurgia plástica/estética?

Paralelamente, é preciso reforçar que a mortalidade perioperatória e intercorrências clínicas anestésicas estão relacionadas com a gravidade do estado clínico do paciente, emergência da situação, doenças prévias e especificidade do procedimento cirúrgico. A anestesia, em si, não se caracteriza como fator de risco.

Os fatores de risco identificados não se verificam na área de intervenção da anestesia para a cirurgia plástica, desde logo por estarmos perante pacientes saudáveis com poucas ou nenhumas comorbilidades, e submissão a cirurgias eletivas relativamente rápidas. Pelo que, na anestesia para cirurgia plástica/estética, as intercorrências são estatisticamente insignificantes.

Embora complexa a resposta à questão, poderemos simplificá-la, tendo em conta a necessidade de avaliar o estado geral de saúde da paciente e a especificidade da intervenção cirúrgica. A cirurgia plástica não mexe com grandes órgãos, vasos ou estruturas profundas, somente pele e gordura. Assim, a melhor anestesia para cirurgia plástica é aquela que é menos invasiva para o procedimento proposto. Sempre considerando o estado clínico da paciente, o tipo de cirurgia plástica e a experiência do médico anestesista.

Para além da anestesia local para procedimentos superficiais e de curta duração (habitualmente aplicada pelo cirurgião), existem três tipos de anestesias utilizadas em cirurgias plásticas: anestesia geral, regional e com sedação profunda.

  1. Anestesia Geral: são administrados diversos fármacos por via endovenosa (veia) e/ou inalatória (gases) que induz a paciente à inconsciência, à paralisia muscular e perda de perceção e de resposta aos estímulos externos, sendo necessária manter a respiração com conexão ao ventilador.

  2. Anestesia regional: esta técnica permite que a sensibilidade de determinada região do corpo seja bloqueada. O exemplo mais conhecido, é a epidural, na qual é realizada uma “picada” na região lombar da utente e deste modo é anestesiada a parte inferior do corpo.

  3. Sedação profunda: consiste na administração de fármacos por via endovenosa, em doses baixas, permitindo que a paciente esteja inconsciente durante a cirurgia, mas com manutenção dos reflexos fisiológicos naturais, nomeadamente capaz de manter respiração espontaneamente. A sedação é frequentemente utilizada em associação com a anestesia local, na qual o cirurgião administra um fármaco (anestésico) no local do corpo que vai ser operado, tornando este “dormente” ou “adormecido”, aumentando assim a segurança e conforto da paciente.

De forma comparativa e resumida, podemos verificar que na sedação profunda a paciente já se encontra a “dormir” quando o cirurgião começa a efetuar a anestesia local e, por isso, não sente dor. Por oposição, na anestesia regional, a paciente terá de estar acordada para a sua realização, pois terá de colaborar e fornecer informações como dor, formigueiro, entre outros.

Mantendo os seus reflexos fisiológicos, na sedação, as utentes são capazes de manter a respiração espontaneamente, não sendo necessário suporte ventilatório (entubação e ligação ao ventilador), ao contrário da anestesia geral, evitando-se assim os efeitos deletérios que daí podem advir.

A função cardiovascular é geralmente mantida durante todas as fases de sedação, ao contrário da generalidade dos casos em que se opte por anestesia geral ou regional, em que ocorrem mais frequentemente alterações a este nível.

Os fenómenos de memória explícita de eventos intra-operatóros durante a anestesia, denominado de awareness, pelo facto de não existir relaxamento muscular nas sedações torna a sua ocorrência menos provável do que nas anestesias gerais, pois se por algum motivo ocorrer uma superficialização da utente, esta irá dar sinal (por exemplo movimentar um braço).

Outro fator a ter em conta, nesta análise comparativa, diz respeito aos efeitos adversos mais frequentes na anestesia geral e regional, quando comparada com a sedação profunda. Ainda, constitui um fator importante para uma mais rápida e melhor recuperação por parte da paciente, com altas mais precoces e melhores resultados a curto e médio prazo.

Tendo em conta os fatores já referidos e sendo as cirurgias realizadas por um cirurgião experiente, rápido e associado a uma boa anestesia local, sou da opinião que na maioria das cirurgias plásticas, excetuando as poucas que necessitarão de um bom relaxamento muscular (como nas abdominoplastias), se justifique a realização de sedações profundas.

Contudo importa reforçar que na cirurgia plástica, não está contraindicada nenhum tipo de anestesia, devendo o anestesista baseado nos conhecimentos científicos, optar pela anestesia que considere mais adequada, se sinta mais seguro e tenha mais experiência em efetuar, de acordo com o estado clínico da paciente e especificidade do procedimento cirúrgico.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.

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