A depressão e outros problemas de saúde mental têm vindo a ganhar visibilidade nos últimos anos, especialmente com o enorme impacto que a pandemia e as medidas de saúde pública tiveram na vida de todos nós. No entanto, persiste ainda muito estigma e tabu em torno da saúde mental e também da sexualidade.
A depressão pode ter sintomas característicos de humor deprimido ou pode apresentar-se apenas com sintomas menos claros, de perda de prazer nas atividades do quotidiano, incluindo a sexualidade, com diminuição do desejo, da excitação e da função sexual. Este estado de incapacidade de tirar prazer da vida, associa-se frequentemente a fortes sentimentos de autoculpabilização, que agravam ainda mais o sofrimento, solidão e riscos para o próprio, incluindo o risco de suicídio. Existe também uma relação bidirecional entre a depressão e as disfunções sexuais, visto que a depressão aumenta significativamente o risco de problemas ao nível sexual, ao mesmo tempo que os problemas sexuais aumentam a ocorrência de quadros depressivos.
Estudos realizados na população portuguesa, apontam que cerca de 16-18% das pessoas têm pelo menos um episódio significativo de depressão ao longo da vida. Quanto à disfunção sexual, está estimada em 24% nos homens e 56% nas mulheres. Um estudo publicado recentemente no grupo da revista Nature, em fevereiro de 2022, concluiu que a disfunção sexual nas mulheres com depressão ronda os 83% e nos homens 63%, afetando negativamente as várias dimensões da sexualidade, como o desejo, excitação, lubrificação/ereção, orgasmo e satisfação sexual.
É fundamental que os doentes partilhem estes sintomas com o seu médico, para que o diagnóstico atempado possibilite que se inicie tratamento adequado, evitando-se assim que a depressão se torne crónica e que a disfunção sexual passe a ser parte dominante da sua vida.
Os doentes com depressão demoram entre 4 a 5 anos a procurarem ajuda junto do seu médico, provavelmente devido ao estigma ainda associado à depressão. Estima-se que o atraso de diagnóstico das disfunções sexuais seja superior. Os tratamentos são aconselhados e necessários, quando os sintomas são mais intensos e interferem com o quotidiano da sua vida social. Além disso, o doente deve também fazer psicoterapia, para que possa compreender melhor a sua condição e poder libertar-se destes sentimentos negativos que lhe “pesam”…
A sexualidade, de cada um, depende de vivências prévias, de modelos de identificação, de experiências de vida e a depressão pode interferir nestes vários momentos. A pessoa deprimida está habitualmente menos disponível para se relacionar, com menos desejo, menos excitação e maior dificuldade em atingir o orgasmo. E sente-se também menos desejável, menos capaz de estar num relacionamento e defende-se evitando envolver-se, prejudicando-a em termos afetivos e relacionais. Daí a importância do tratamento!
Atualmente, existem projetos como o “Podcast Sem Rodeios: Vamos falar de depressão”., uma iniciativa no âmbito da campanha “Depressão Sem Rodeios”, que tem como principal objetivo sensibilizar e combater o estigma associado a esta doença, bem como informar e clarificar a população sobre um problema de saúde que afeta milhares de portugueses.
Este ciclo de conversas conta com a participação de profissionais de saúde, doentes, sociedades médicas e associações que lidam diretamente com esta patologia. Em cada episódio apresentam diferentes visões e domínios sobre a depressão, nomeadamente: o que é e como se vive com a doença, o papel do médico de família, tratamentos, estigma, a importância do apoio das famílias e quais os mitos que existem, como o a disfunção sexual. Para mais informações visite o site: https://depressaosemrodeios.pt/.