@fannyb

Quando se pergunta a qualquer grupo de pessoas, independentemente da idade, sexo ou condição social, qual o sintoma, problema de saúde ou complicação de uma qualquer doença que mais teme e possa vir a ter, a resposta é quase sempre: a dor! Mesmo quando confrontados com uma doença fatal, desde a altura do diagnóstico até ao desenlace final, a pergunta é quase universal: “Iirei sofrer?”; “Não quero ter dor!”

Ironia do destino, a dor pode ser simultaneamente um dos mecanismos mais importantes na preservação do nosso organismo e, quando no contexto de uma doença crónica, um dos maiores fatores de sofrimento e consequente perda de qualidade de vida. De facto, frequentemente, a dor ultrapassa a condição de sintoma e torna-se ela própria a doença, autónoma e dominadora.

Mas a dor, enquanto conceito genérico, encerra em si tudo o que a vida representa: pode ser felicidade no contexto do trabalho de parto; pode ser física num trauma isolado ou numa doença crónica; pode ser desespero e solidão quando enquadrada na doença mental ou num momento de luto. A dor pode ser sentida, sofrida, limitante ou libertadora, mas nunca consegue ser adequadamente medida. E, por isso, é talvez um dos sintomas ou condição mais frequentes que ainda assim se caracteriza por um carácter pessoal, único, não quantificável.

A dor é vivida por cada um de forma diferente e ninguém, em nenhuma circunstância, pode alegar que conhece ou mesmo compreende completamente a dor do outro. A dor é universal, mas privada, frequente, mas individual! É por tudo isto que se torna impossível abordar a dor como um fenómeno específico, suscetível de se definir de forma simples, de se enquadrar numa classificação linear.

Cada clínico procura compreender a dor dos seus doentes em função da especialidade que tem, da ortopedia à neurologia, da oncologia à psiquiatria ,e cada investigador tenta categorizá-la numa perspetiva bioquímica ou anatómica. Como internista, sou testemunha de quase todas as suas formas e, mesmo assim, não existe dia em que não seja confrontado com as minhas insuficiências. Não sei qual o número atual de pessoas no mundo que sofrem de dor, mas esse número acaba por ser irrelevante porque, qualquer que seja, pecará sempre por defeito.

Existem, atualmente, várias classes farmacológicas disponíveis para o controlo da dor. São dezenas de fármacos, cada um com a sua indicação ou peculiaridade, e ainda assim a dor enquanto sintoma é frequentemente mal compreendida e até mal aceite pelos próprios clínicos. Talvez porque seja um sintoma pelo qual, mais tarde ou mais cedo, todos passamos ou do qual temos memória em alguém próximo. Ou ainda porque, não o podendo confirmar ou quantificar, preferimos desvalorizar.

E os exemplos repetem-se todos os dias. Confesso que em quase 30 anos de atividade médica ainda me surpreende a leviandade com que frequentemente dizemos “esse tipo de lesão não pode doer tanto!” ou “essa dor é porque está deprimido!”, como se a intensidade da dor dependesse daquilo que nós achamos adequado; como se na ausência de uma evidência anatómica a dor sentida fosse menos importante. E o que me parece ainda mais grave é que, tendo consciência de tudo isto, também eu ouço-me a repetir este tipo de sentenças.

É verdade que temos agora consultas de dor com a capacidade de atuar a um nível muito mais elaborado, mas a consciencialização de que a dor tem um carácter social que vai muito além do sintoma ou doença médica ainda está longe de acontecer e mais distante ainda está a capacidade de promover mudanças significativas na prática clínica e na compreensão destes doentes.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.

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