Anósmia é o termo médico que define a perda total de olfato, enquanto que Hipósmia se refere à perda parcial de olfato.

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Ambas as situações têm um enorme impacto negativo no dia a dia do doente, perturbando aspetos físicos, funcionais, emocionais e sociais da sua vida. Não sente os odores agradáveis nem os desagradáveis pelo que não consegue identificar situações de perigo como fumos de incêndios, fugas de gás ou alimentos estragados. Como o sentido do paladar depende e está relacionado com o olfato, o doente com Anósmia ou Hipósmia também sofre de alterações do paladar, não distinguindo o doce e o amargo, nem o salgado. Além deste desconforto relacionado com a perturbação do olfato ou do paladar, a Anósmia ou a Hipósmia, têm uma enorme importância clínica, pois estes sintomas estão relacionados com doenças nasais que podem ser graves.
Anósmia. Quais são as causas?
As perturbações do olfato ocorrem quando algumas doenças afetam a Mucosa Olfativa, que é a parte da mucosa nasal envolvida na perceção do olfato. As causas podem ser inflamatórias, obstrutivas ou neurológicas.
A Anósmia e a Hipósmia podem ser agudas, em contexto de uma vulgar constipação, sendo autolimitadas e com resolução total após estar resolvida a infeção virusal ou bacteriana.
No entanto, quando evoluem de forma mais prolongada, durante semanas a meses, ou mesmo anos, seja de forma parcial ou total, a Anósmia e a Hipósmia podem estar associadas a diferentes doenças que afetam a Mucosa Olfativa, as quais devem ser identificadas e tratadas.
As causas neurológicas são as menos frequentes. São doenças que lesam ou destroem uma parte da via olfativa, como por exemplo os recetores da mucosa olfativa que captam os odores ou os nervos que conduzem essa informação ao cérebro, ou a parte do cérebro que é responsável por perceber e identificar os odores.
As causas obstrutivas incluem alterações da normal anatomia da cavidade nasal (desvio do septo, por exemplo) ou a presença de massas que ocupam a cavidade naso-sinusal, como pólipos nasais ou tumores (benignos ou malignos).
As causas inflamatórias podem ser infeciosas (gripe, vulgar constipação, entre outras viroses) ou imunológicas, destacando-se as doenças alérgicas como a rinite alérgica ou a rinossinusite.
Anósmia e Rinossinusite – que relação?
A Rinossinusite, vulgarmente conhecida como Sinusite, afeta cerca de 10 a 15% da população e é a doença nasal que mais frequentemente se apresenta com Anósmia ou Hipósmia. Define-se como uma inflamação da mucosa naso-sinusal (cavidade nasal e seios perinasais) e manifesta-se com obstrução nasal (“nariz entupido”), rinorreia aquosa (“pingo ao nariz”), rinorreia mucopurulenta posterior com pigarreio (secreções espessas brancas, amareladas ou esverdeadas, a escorrerem atrás para a garganta), cefaleias frontais (dores de cabeça em cima dos olhos) ou perturbações do olfato e paladar. A Anósmia é frequentemente indicador da presença de Rinossinusite crónica com Polipose Nasal, vulgarmente conhecida como Polipose Nasal.
A Polipose Nasal atinge 15 a 30% dos doentes com Rinossinusite, sobretudo doentes do sexo masculino e com mais de 40 anos. Consiste no crescimento polipóide, mole e em forma de gotas (pólipos) da mucosa nasal e sinusal. Tem natureza benigna (ou seja, não se transforma em maligno), mas tem um comportamento invasivo de toda a cavidade nasal e sinusal, provocando obstrução nasal com insuficiência respiratória nasal (dificuldade respiratória) e peso facial (malar e frontal). Quando o crescimento dos pólipos envolve a Mucosa Olfativa, esta fica inflamada, provocando inicialmente Hipósmia, que vai evoluindo para Anósmia. Se a rinossinusite e a polipose não forem atempadamente diagnosticadas e tratadas, as alterações do olfato podem ser permanentes.
Anósmia. Como se trata?
O tratamento incide na resolução das causas. Inclui medidas de higiene nasal (lavagens nasais com soluções salinas) e evicção de fatores ambientais como fumos e outras substâncias irritativas. São também necessárias medidas médicas como o uso de medicamentos anti-inflamatórios tópicos (vulgares “sprays nasais”) ou os corticóides (“cortisona”) reservados para os casos mais graves. A intervenção cirúrgica é necessária para a remoção dos pólipos (polipectomia).
Frequentemente ocorrem recidivas da Polipose Nasal, após a cirurgia. Para evitar esta recidiva e múltiplas cirurgias, é fundamental identificar e tratar concomitantemente, todas as doenças que podem estar associadas a Polipose Nasal, como as causas alérgicas (rinite alérgica e rinossinusite), a hipersensibilidade a aspirina, a fibrose quística, entre outras doenças imunológicas com envolvimento da cavidade naso-sinusal.
Recentemente estão disponíveis fármacos que atuam especificamente no bloqueio de recetores ou mediadores envolvidos na inflamação da Polipose Nasal. Estas terapêuticas biológicas são de uso hospitalar e têm indicação para a prevenção de recidiva de polipose nasal. Têm demonstrado eficácia na redução dos sintomas e na redução da necessidade de uso de medicamentos. Desta forma, promovem a melhoria da qualidade de vida. Alguns doentes com Polipose Nasal apresentam também inflamação noutros órgãos, podendo manifestar Asma Brônquica e Eczema Atópico. Nestes casos, estas terapêuticas biológicas têm a vantagem adicional de intervir no tratamento concomitante de todas estas doenças alérgicas.
Anósmia – sintoma pouco conhecido, mas muito relevante
Apesar da sua elevada frequência e da sua enorme gravidade, a Anósmia e a sua principal causa (polipose nasal) são frequentemente subdiagnosticadas e subtratadas. Na maioria dos casos, os doentes com Anósmia apresentarem inflamação e obstrução em simultâneo. O doente necessita de uma abordagem multidisciplinar, quer diagnóstica quer terapêutica. É essencial que o doente seja observado pela Otorrinolaringologia (ORL) que vai atuar sobre as causas obstrutivas e, concomitantemente, pela Imunoalergologia que vai identificar e tratar as causas inflamatórias, sejam imunológicas (défices imunitários, por exemplo), sejam alérgicas.
É essencial que a população geral, e o doente em particular, reconheça a relevância de identificar e tratar de forma precoce sintomas como a Anósmia. Está associada a mais do que uma causa, sendo fundamental a abordagem diagnóstica precoce e a terapêutica médico-cirúrgica concomitante. A Medicina Geral e Familiar tem papel fundamental na referenciação precoce dos doentes a cuidados interdisciplinares do foro da ORL e da Imunoalergologia.
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