Criado no início dos anos 80 em Itália por Stefano Cavagna e Sónia Cian, o método Valaverde é aplicada em Portugal no
Jardim Infantil Vela Verde, em Alfragide, uma cooperativa fundada há nove anos por um grupo de pais. A directora Margarida Zocoli, é uma bióloga especializada em educação ambiental que se interessou pelas pedagogias alternativas a partir da experiência com as suas próprias filhas. "Passei pela pedagogia Waldorf, que é muito interessante, mas a determinada altura achei que o método era muito rígido e comecei a pesquisar outras coisas".
Verdes anos
Na vivenda que abriga o jardim infantil, o ambiente é familiar, como uma segunda casa.
O mobiliário baseia-se nos princípios Montessori e é todo adequado ao tamanho dos ‘hóspedes’, 10 crianças com um e dois anos e 12 entre os três e os cinco anos.
Este método assenta também numa abordagem holística e integrada com forte ênfase ecológica e sustentável. A alimentação é vegetariana e biológica, há uma horta biológica cultivada com a ajuda de alguns pais e aprende-se a reciclar desde cedo. "Uma coisa garanto, estas crianças têm uma alimentação muito mais diversificada do que a maioria". Uma rápida visita à cozinha comprova a afirmação. Há dezenas de frascos com cereais tão diversos como quinoa, soja, tofu, seitan feijão azuki, lentilhas e algas. "A maior parte das crianças não é vegetariana, mas todas se habituam rapidamente aos novos sabores".
Em termos curriculares o mais determinante é o facto de toda a aprendizagem se fazer a partir da vontade das crianças que são estimuladas a pensar por si em vez de serem meros receptáculos das explicações dos adultos acerca do mundo. À educadora cabe dar forma e conteúdo didáctico aos projectos. "Pode ser uma coisa tão simples como uma delas perguntar porque o sino apaga a vela. Em vez de responder com uma explicação científica a educadora devolve a pergunta. Surgem respostas muito engraçadas e interessantes e nenhuma é dada como errada, antes considerada como uma hipótese válida porque a maior parte das questões tem múltiplas respostas. Também podemos explorar a questão de forma artística através de pinturas, e no fim, vamos ver o que dizem os cientistas e pedimos aos pais para trazerem um livro que explique o fenómeno.
Eles não sabem ler mas habituam-se desta forma a gostar deles e a manuseá-los".
Explorar os limites
Uma interrogação, como a mencionada anteriormente, pode ser o mote para um projecto que entusiasme as crianças durante um semestre. O limite será o seu interesse e capacidade de absorção. Este ano, quiseram aprender sobre os dinossauros. "Acabaram a estudar o início da vida, o big bang, a noção de célula… é claro que um método destes exige mais de uma educadora porque nunca sabemos o que vamos ter de preparar", explica Olga Teixeira.
A educadora, de 27 anos, chegou a trabalhar num infantário convencional, mas garante que a diferença é abissal. "Não tenho saudades do ritmo, do barulho, do ambiente… era tudo estereotipado, não havia espaço para as crianças serem criativas", conta enquanto vigia as crianças no jardim. Aqui, subir às árvores é incentivado. "É importante para o seu desenvolvimento que as crianças explorem os seus limites físicos e façam algumas coisas perigosas como lidar com o fogo desde que devidamente acompanhadas pelos adultos", defende Margarida Zocoli.
A comunicação com os pais é outro aspecto essencial, Todos os dias é feito um sumário das actividades realizadas que os meninos ajudam a escrever. Desta forma não só consolidam o que aprenderam como se estimula os pais a continuarem a trabalhar essas questões em casa.
Contacto
– Jardim-de-infância Velaverde, Alfragide. Tel.: 21 471 32 28.