infeliz relaçõ57447778.jpg

Os tempos actuais são difíceis para as relações.” Isabel Narciso, especializada em terapia de casal, não tem ilusões sobre a matéria. O stress, a falta de tempo e a predominância dos valores centrados no indivíduo são alguns dos responsáveis pelo desgaste célere das relações. Por outro lado, vivemos numa sociedade de máquinas e, tal como um telemóvel é rapidamente deitado fora e substituído por outro quando deixa de funcionar, há tendência a que suceda o mesmo com as relações: “mas não se pode andar por aí a saltitar – acabamos por ‘romper’ com a própria felicidade porque sentimos constantemente que falhamos.”

Continuar ou desistir?

Surge então a questão: até quando vale a pena lutar por uma relação? “Quando se fala em relação conjugal é preciso existir afecto: um casal pode ter problemas, mas enquanto ainda diz ‘eu gosto de ti’ há solução. Quando passam a dizer ‘eu já não amo’, acabou. Não quer dizer que seja impossível reatar os laços, mas é muito, muito difícil.”

É, por isso, no amor que tudo começa e acaba. Mas este sentimento, por si só não é suficiente: “os casais emocionalmente inteligentes são aqueles que têm capacidade para cuidar da revelação, afinal, gostar é fácil, o que é necessário é mostrarmos que gostamos.” Isabel Narciso fala da intimidade emocional e física como o eixo principal de qualquer relação: “É como se fosse um tecido feito por vários fios (que são a confiança, a partilha, o apoio emocional, a empatia…); o fio contorno é o amor e a sexualidade, que são indissociáveis. Se houver buraquinhos no fio de dentro, é possível arranjá-los, mas se arrancarmos o fio contorno, o tecido desfaz-se.”

Os elementos chave para uma relação feliz

O amor é uma configuração dinâmica de sentimentos – “no início, temos a paixão, dominada pelos sentimentos primários, explosivos.” À medida que a intimidade avança essa configuração vai sendo intermitente: era impossível manter sempre o estado de paixão, em que cada um quer estar com outro, o que impediria o desenvolvimento individual e da intimidade.” A paixão, porém, deve surgir episodicamente, mas isso só pode acontecer se o ‘tecido’ da relação for preservado ao máximo. Como manter essa teia intacta? Os passos seguintes são essenciais.

– Compreendam as diferenças

“Enquanto nós achamos que intimidade é falar da relação, os homens consideram que é fazer coisas em conjunto, como ver televisão”, lembra Isabel Narciso. Isto acontece porque se encontram mais ligados à acção, são mais pragmáticos, o que pode levar a alguns desentendimentos que nós bem conhecemos: “a mulher chega a casa, cansada dos problemas de trabalho, e quer ‘colo’, mas o marido dá-lhe soluções práticas para esses problemas e isso é a sua forma de ser íntimo.” Como alerta a especialista, “eles são muito penalizados a esse nível”. Por isso, é necessário um esforço por aceitar essa disparidade, que justifica também porque os conflitos são vividos de forma diferente: enquanto nós gostamos muito de falar sobre o assunto, os homens tendem a evitar mais as discussões (‘não quero falar mais sobre isso’ é uma frase corrente). “Eles são educados para conterem o pólo da dor, mas há muita mais permissividade quando ao pólo da expressão da agressividade. Não falarem é uma forma de conterem essa permissividade que os pode levar, por exemplo, a dar um murro na mesa. Mas há também uma explicação fisiológica: a reacção do organismo masculino é desencadeada muito mais facilmente, com suores e palpitações. Por isso eles evitam discutir.”

– Aprendam a fazer cedências

A cedência é muito difícil, mas sem ela não é possível ter uma relação feliz. Ambas as partes têm de saber ceder: “isso prende-se com a questão do sacrifício, que significa ‘tornar sagrado'”, realça Isabel Narciso. “Quando a pessoa cede e se sacrifica porque deixa fazer algo de que gosta, se isto for no sentido de tornar sagrado, de reforçar o amor, se for feito pelos dois, é vivido com uma certa leveza.”

– Conversem muito

Para os homens é mais difícil, mas há muitas maneiras de o fazer. Porque não se trata só de conversar sobre os sentimentos. “É preciso valorizar outras formas de conversa, verbal e não verbal: para ele, falar de trabalho é um momento de intimidade, ou ver um jogo de futebol com a parceira. Então, porque é que não nos sentamos a seu lado e aprendemos um pouco mais sobre futebol?”

– Saibam lidar com o conflito

“Se tivéssemos noção que a maior parte dos problemas que temos são normais e comuns a outras pessoas, lidávamos melhor com eles. Em vez disso, fazemos um drama. Se temos a crença que um casal que se ama não tem conflitos, é obvio que nos vamos dar mal – à primeira altercação, pensamos que está tudo estragado”, frisa Isabel Narciso. O conflito é, por isso, saudável. “Não é a intensidade do mesmo que pode ser nociva – é evidente que, a partir de certo ponto, o é (quando há gritos, ameaças ou violência) – nem sequer o facto de se resolver, ou não: há estudos que indicam que, nos casais casados há muito tempo, a mesmo fonte de conflito do início da relação, mantém-se.” Isto significa que nem todos os problemas se solucionam. O busílis da questão reside sim na resolução da situação do conflito: “quando, após a altercação, um dos elementos do casal faz uma tentativa de reconciliação, mais ou menos subtil (pedir desculpa ou perguntar ‘o que queres para o jantar’), se essa tentativa é aceite, então está tudo bem. Se tal não acontece, é sinal de um problema mais profundo.”

– Não ceda ao mito da normalidade

Há muitos mitos sobre o que é normal: “é claro que há balizas, como a violência, mas há um indicador crucial que é satisfação de cada um.” Isso é um elemento subjectivo. “Por que é que tem de existir necessariamente igualdade em termos de tarefas domésticas? Se ele ou ela gostam de se dedicar à casa, por que é que isso não é considerado normal? O mesmo se aplica quando a mulher opta por ficar em casa. Acima de tudo, interessa que deixem de avaliar a vossa relação pelos parâmetros dos outros.”

– Namorem muito

Pode ser meia hora por semana, mas tem de ser vossa. “Os rituais a dois são os primeiros a perderem-se quando a relação começa a correr mal. O que acontece é que, quando os casais se tornam pais, a própria comunicação começa a ser centrada nos filhos, mas é muito importante que não esqueçam de ser casal, se não um dia os filhos vão se embora e não resta nada.” Estejam os sós. Mandem uma mensagem de telemóvel a mandar um beijinho – fazemos isso com os filhos, porque não com os maridos? Mostrar que estamos presentes é absolutamente fundamental. Por outro lado, tenham rituais: “estes dão coesão à relação: falarem um pouco antes de dormir, tomarem o pequeno-almoço juntos são pequenos hábitos que devem ser alimentados e mantidos.

– Sejam criativos

Não é estar sempre a fazer coisas novas. É estar atento ao outro, gostar de descobrir coisas novas e gostar daquilo que já se sabe. “As pessoas tem medo da rotina, mas a rotina é uma coisa boa porque é sinal de que há uma história no casal, é gostar do que já se descobriu. A rotina perigosa é pensar ‘amanhã ele está cá, por isso tenho tempo para dizer que o amo ou lhe dar um beijo’. E assim vamos adiando. No amor, nunca deixe para amanhã o que pode fazer hoje.”

Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

More News

Mickael Mezdari: Adoçar a boca na nova pastelaria francesa de Lisboa

Mickael Mezdari: Adoçar a boca na nova pastelaria francesa de Lisboa

O Frade: Cozinha alentejana, com alma portuguesa

O Frade: Cozinha alentejana, com alma portuguesa

Ucrânia usa drones de cartão para combater russos

Ucrânia usa drones de cartão para combater russos

VOLT Live: novas regras europeias e o campeonato de ralis para elétricos

VOLT Live: novas regras europeias e o campeonato de ralis para elétricos

Análise a sete máquinas de café: Fazem expressos (quase) perfeitos, cappuccino e até cold brew

Análise a sete máquinas de café: Fazem expressos (quase) perfeitos, cappuccino e até cold brew

Filha de Astrid Werdnig e Paulo Pires mostra-se atenta ao mundo da moda

Filha de Astrid Werdnig e Paulo Pires mostra-se atenta ao mundo da moda

Onde ir com os seus filhos nas férias da Páscoa, se ficar no Porto

Onde ir com os seus filhos nas férias da Páscoa, se ficar no Porto

Marisa Liz revela reação da filha a rumores de namoro com Aurea

Marisa Liz revela reação da filha a rumores de namoro com Aurea

Urgências de obstetrícia e blocos de parto mantêm plano de funcionamento até final de maio

Urgências de obstetrícia e blocos de parto mantêm plano de funcionamento até final de maio

Mercedes reserva milhares de milhões para fábricas de carros elétricos

Mercedes reserva milhares de milhões para fábricas de carros elétricos

As sapatilhas que se fazem em Portugal e que já conquistaram a Europa

As sapatilhas que se fazem em Portugal e que já conquistaram a Europa

Quem matou Amílcar Cabral?

Quem matou Amílcar Cabral?

Não contem comigo!

Não contem comigo!

O arroz preferido de Georgina que pode fazer para jantar

O arroz preferido de Georgina que pode fazer para jantar

Onde ir com os seus filhos nas férias Páscoa, se ficar em Lisboa

Onde ir com os seus filhos nas férias Páscoa, se ficar em Lisboa

55 Mulheres Portuguesas na VISÃO História

55 Mulheres Portuguesas na VISÃO História

Festim de peixe e marisco na porta ao lado do Sea Me

Festim de peixe e marisco na porta ao lado do Sea Me

Bairro Alto: universo de fusão

Bairro Alto: universo de fusão

Caras conhecidas

Caras conhecidas "desfilaram" propostas de marca italiana no Porto

Crise/Inflação: Empresas têm

Crise/Inflação: Empresas têm "responsabilidade social" na resposta à subida dos preços - Centeno

Afinal, o que se passa com o Credit Suisse?

Afinal, o que se passa com o Credit Suisse?

Olá, férias! Decorar a casa com papéis de parede inspiradores

Olá, férias! Decorar a casa com papéis de parede inspiradores

Brain snack: a história da camisola às riscas

Brain snack: a história da camisola às riscas

Shakespeare musical no Trindade

Shakespeare musical no Trindade

Aos 68 anos, Ana Obregón é mãe de uma menina

Aos 68 anos, Ana Obregón é mãe de uma menina

Mente a mental coach? Crónica de Joana Marques

Mente a mental coach? Crónica de Joana Marques

No Porto, interiores sob medida

No Porto, interiores sob medida

Italiano e vegetal, assim é o restaurante Giulietta, uma boa surpresa na Avenida de Roma

Italiano e vegetal, assim é o restaurante Giulietta, uma boa surpresa na Avenida de Roma

Ford apresenta Explorer 100 elétrico

Ford apresenta Explorer 100 elétrico

Lockheed Martin está a desenvolver rede de comunicações para ligar a Lua à Terra

Lockheed Martin está a desenvolver rede de comunicações para ligar a Lua à Terra

Princesa Kate continua à procura da assistente certa

Princesa Kate continua à procura da assistente certa

Truques para comprar os jeans perfeitos que vai usar durante anos

Truques para comprar os jeans perfeitos que vai usar durante anos

Jéssica Silva: “Como mulher, jogar futebol é difícil”

Jéssica Silva: “Como mulher, jogar futebol é difícil”

Novo texto só permite eutanásia se suicídio assistido for impossível

Novo texto só permite eutanásia se suicídio assistido for impossível

Teresa Guilherme sobre Cristina Ferreira:

Teresa Guilherme sobre Cristina Ferreira: "Não sei quem é"

Governo assume todas as despesas com descontaminação de solos na margem sul do Tejo

Governo assume todas as despesas com descontaminação de solos na margem sul do Tejo

Isabel Figueira luta contra um tumor

Isabel Figueira luta contra um tumor

Transformar 150 empresas médias em grandes faria aumentar 3% as exportações

Transformar 150 empresas médias em grandes faria aumentar 3% as exportações

Tensão na banca não trava BCE na subida de juros. Mas Lagarde diz estar pronta para agir em caso de necessidade

Tensão na banca não trava BCE na subida de juros. Mas Lagarde diz estar pronta para agir em caso de necessidade

Rota Lisboa-Tires em jato privado é a segunda da Europa em intensidade carbónica

Rota Lisboa-Tires em jato privado é a segunda da Europa em intensidade carbónica

Costa salienta

Costa salienta "novo espírito" que anima Ministério das Finanças

Cientistas criam almôndega gigante com carne de mamute, animal extinto há quatro mil anos

Cientistas criam almôndega gigante com carne de mamute, animal extinto há quatro mil anos

O Antigo Egito na VISÃO História

O Antigo Egito na VISÃO História

Depois de mais um “brilharete” nas contas, finalmente as famílias

Depois de mais um “brilharete” nas contas, finalmente as famílias

Em “Sangue Oculto”: Vasyl e Elsa casam-se segundo a tradição ucraniana

Em “Sangue Oculto”: Vasyl e Elsa casam-se segundo a tradição ucraniana

ATLS para a Páscoa em Lisboa

ATLS para a Páscoa em Lisboa

Quando a arte desaparece

Quando a arte desaparece

Festa do Cinema Italiano, em Lisboa: Uma viagem cinematográfica

Festa do Cinema Italiano, em Lisboa: Uma viagem cinematográfica