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No regresso às aulas, voltámos ao secundário e pedimos a algumas cobaias de várias idades que enumerassem os ‘tipos’ principais que encontram ou encontravam nos seus dias de alunos. Aqui ficam os mais recordados.

1 – A Marrona – É sempre o primeiro ‘tipo’ de que toda a gente se lembra quando se fala nisto. Ser esperto é o pior que pode acontecer a uma pessoa na escola, principalmente se se for esperto e se se tiver óculos, ou se se for esperto e não se souber dar pontapés de volta, ou se se for esperto e sossegadinho. Mas na maioria das vezes, os espertos não se dão mal por inveja alheia (a inteligência não é assim tão bem cotada, 90% das adolescentes preferia ser loira a ser esperta) mas porque eles próprios preferem investir os seus esforços mentais em serem espertos e não em serem populares, que dá imenso trabalho. A Marrona geralmente já está um passo à frente dos outros: em vez de perder tempo com patetices, ela já percebeu o que é importante (geralmente é a que se dá melhor na ‘vida real’, depois da escola), embora haja as que estudem só para agradar ao pai. Infelizmente, os outros ainda não perceberam. E quem não é da matilha em vez de ser simplesmente escorraçado tende a ser perseguido, porque nada cria mais coesão de grupo do que um inimigo comum.

2 – O Cola  – Tem sempre uma alcunha que o Cola desconhece (a não ser que alguém se descaia com aquela cena típica do: “Olá Pintão”, “Mas eu não me chamo Pintão…”), e vai, sem o saber, acumulando alcunhas consoante os anos em que vai chumbando. Nunca se apercebe de que está a mais, e é capaz de esperar horrores só por uma boleia. Geralmente são boas pessoas. Também são cautelosos e calculistas, como todos os que pretendem atingir objectivos por caminhos subterrâneos. Têm muitas vezes duplas vidas, passatempos misteriosos, jogam na Bolsa ou tocam violoncelo desde os 3 anos.

3 – O Palhaço – Há sempre um palhaço em todas as turmas: é o que está continuamente a falar, diz à professora de inglês que a saia dela lhe fica muito bem e ao professor de História que tem um carro parecido com o carro do avô dele, depois atira bolinhas ao caixote do lixo mais próximo, canta o reportório todo do Quim Barreiros a meio do teste, dá pontapés à Rita por baixo da mesa, manda mensagens de SMS (antigamente mandava papelinhos) e não pára quieto. Quando é posto na rua, passa o tempo a fazer caretas pela janela.

4 – O Fedorento – Estranhamente, foi o quarto tipo mais votado na nossa sondagem. Há vários sub-grupos dentro da categoria ‘cheirar mal’, mas o mais recordado é o que cheira mal da boca, antes mesmo do que cheira mal dos pés, talvez porque a boca está mais próxima de nós do que os ténis.

5 – O Chefe – Decide a que café a que se vai e a que aula é que se falta. O instinto de sobrevivência diz-lhe que, ou subjuga aquela gente toda, ou irá ao fundo. A maioria dos colegas tem medo dele. A maioria dos professores também. É o desestabilizador de serviço: quando dá o segundo toque e o prof já se avista, ele incentiva a manada a fugir pelas traseiras. Porta-se o pior possível e é sempre eleito chefe de turma, segundo a lógica da campanha que manda votar no mais visível, ou segundo a lógica da sobrevivência que manda dar-lhe aquilo que ele quer para não nos bater.

6 – A Popular – Geralmente é muito segura de si, mas também pode não ser e usar a ‘popularidade’ para se compensar. Geralmente é simpática, mas também há populares antipáticos, os ‘falsos’ populares com quem uma pessoa é simpática para se proteger mas que odiamos pelas costas. Não parece haver regras definidas para se ser popular. Geralmente, a popular gasta imenso tempo a pensar na roupa, símbolo exterior de segurança e poder, mas a popularidade não depende da roupa. O tipo de popularidade depende do meio: pode ser o que tem os ténis de marca e pratica pólo aquático, mas também, noutra escola, o que fuma ganzas e bate nos professores. Nas raparigas, é sempre a que é gira (que implica geralmente ser loura) seja na Musgueira Sul seja num colégio privado. Geralmente, não se sabe bem porquê (talvez Freud saiba) é a que tem piores relações com o pai.

7 – A Gótica  – Embora um tipo já caído em desuso, ainda existe. Anda acompanhada por duas ou três Góticas todas iguais, todas vestidas de preto, com botas da tropa, cabelo preto e liso muito comprido e pele dramaticamente branca, para tornar o resto ainda mais dramaticamente preto. Acha-se dramaticamente diferente dos outros, sem reparar que querer ser dramaticamente diferente dos outros é ser dramaticamente igual a todos os adolescentes, góticos ou não góticos. No seu estado mais leve, são cultos e passam a vida citar poetas ultra-românticos e livros sobre assuntos metafísicos. Satânicos a sério não há muitos, graças a Deus, mas há os simpatizantes que acham graça à farda. 

8 – O Metaleiro – Vai aos bares do Bairro Alto beber cerveja, abanar o toutiço e fazer concursos de ‘air-guitar’ em que finge que toca baixo. Tem cabelo comprido porque acha que toda a gente deve ter a liberdade de ter o cabelo do tamanho que quiser, mas não nota que tem um ar sebento e acha que as raparigas não lhe pegam porque são todas umas betas. As raparigas sonham em ir lá quando ele está a dormir para lhe cortarem a trunfa, e obrigarem-no a ficar com um ar mais normal, e ainda bem que ele não faz ideia que elas sonham com isso, porque o apavora a possibilidade de ficar com um ar normal. Gostava de ser Gótico quando fosse crescido mas não tem paciência para ler os livros dos góticos até ao fim e para passar tanto tempo concentrado no guarda-roupa. Geralmente, 10 anos depois dá em beto.

9 – O Xoninhas – Geralmente é mais pequenino do que os outros rapazes. O Pequenino costuma subdividir-se em dois grupos, o que é muito bom em ciências e está sempre pronto a comprar uma briga, e o Xoninhas, que anda por ali muito sossegadinho sem se meter em trabalhos. Nunca faz parte de nada, nunca assina papel nenhum, nunca falta às aulas, nunca fala muito alto, nunca diz mal de ninguém, também nunca diz bem, aliás raramente fala, e aproveita sempre para tirar fotocópias dos apontamentos da melhor aluna, a quem secretamente admira porque partilha com ela a noção do que é verdadeiramente importante, embora daqui a 10 anos case com uma loira descomunal, que ele sacou ninguém sabe como. 20 anos depois, dá em assessor.

10 – O Patinho Feio – É mais alta e desengonçada do que as outras. Geralmente também tem aparelho nos dentes e chamam-lhe ‘Girafa’ ou ‘Torre Eiffel’. Cinco anos depois, damos com elas na ‘Moda Lisboa’ e não é na plateia, é lá em cima nas ‘passerelles’, com saltos de 30 cms, dentro de t-shirts a dizer ‘sex-goddess’ e mini-saias de pregas, a passear um olhar de desprezo e a bambolear as ancas que ninguém sabia que ela tinha.

11 – O Mau – É o que rouba sapatos nas escadas, dá calduços quando se passa no corredor, atira apalpões nos rabos das meninas, usa ‘Os Maias’ para bater nos outros, ameaça com ‘lá fora vais ver’, e faz esperas na casa de banho. Sozinho é mau, mas em grupo é ainda pior. Geralmente perseguem o mais frágil, não por terem alguma coisa contra ele mas porque quem está inseguro da sua posição social costuma perseguir os que estão ainda mais abaixo. Isso vê-se em qualquer grupo, e vê-se ainda no facto de os miúdos populares, que estão no topo da corte escolar, não precisarem de perseguir ninguém.  Dez anos depois, percebemos que aquela era a sua única maneira de comunicar, mas naquela altura só sabemos que há gente neste mundo cuja única missão é transformar a vida dos outros num inferno.

 12 – A Faca-na-liga – Geralmente é muito maior do que as outras mas esta vê-se logo que não há-de estar nos desfiles da Versace daqui a dez anos. Come uma vaca ao pequeno-almoço, uma vaca ao almoço e uma vaca ao jantar, e se a meio da noite acordar com um buraquinho no estômago, ainda lá cabe outra vaca. Usa bóina e sonha entrar na Legião Estrangeira, e passa a vida a vingar as desfeitas que lhe fazem, ou que ela sonha que lhe fazem. Namora o Zé Manel desde os 10 anos, o Zé Manel que é vizinho dela e que tem menos três meses e trinta quilos do que ela, e se o vê a falar com outra, espera por ela e dá-lhe tanta porrada que a outra não aparece na escola durante uma semana.

13 – O Medroso – É o grau zero da corte escolar. O Medroso não é inteligente como a Marrona nem sobrevivente como o Xoninhas, é o que se encolhe sempre que a professora olha na direcção dele, cai nas armadilhas todas e acha que estão sempre todos a gozar com ele. É o alvo preferido do Mau, aliás é um alvo que até chateia de tão óbvio, mas enfim, não dá trabalho nenhum a sovar.

14 – A ‘Sex-bomb’ – Usa sombra de olhos e maquilhagem que se vê do outro lado da ponte de Vila Franca, e fica a parecer-se um bocado com a máscara do Tutankamon, coisa de que ela nunca ouviu falar, mas não interessa, o que interessa é que tem namorado antes de toda a gente porque acha que isso é que é ser adulta. É sempre encontrada nos becos escuros a tentar sugar-lhe as amígdalas, faz-se aos pais das outras nas festas de anos e nem é bom falar no que é que pode acontecer se tiver azar.  Se tiver sorte, a mãe não a põe fora de casa e o Jorginho até casa com ela.

15 – O Surfista – Existe mais nas telenovelas do que na vida real, mas também os há, com um bronze que só os betos surfistas têm. Também tem uma franja loira que atira para trás com um ar de desprezo. As raparigas estão todas secretamente apaixonadas por ele, sem saberem que ele vai casar com a prima Carlota, beta como ele, que ele encontra todos os verões na Praia das Maçãs e no Guincho.

Como sobreviver na selva

– A primeira regra é tão simples que até chateia: atitude. Tudo depende da atitude. Se alguém diz: “És parvo” atirar-se imediatamente sem pestanejar: “E tu és um grande ***********, meu cara de **.” Não se pode dizer isto com cara de medo. Tem de se dizer de alto, com ar de desprezo. Se for preciso, deve-se treinar em casa ao espelho.

– Se não se for do estilo de comprar uma briga, o truque é concordar com o inimigo: calam-se mais depressa.

– Tentar juntar-se às pessoas que tenham mais a ver connosco.

– Fazer o possível por nunca andar sozinho e em locais isolados.

– Ser simpático mas não subserviente e tentar dar um ar seguro de si. ‘Seguro de si’ não é empinado.

– Encontrar rapidamente qualquer coisa que se faça muito bem e praticá-la o mais frequentemente possível, com outros amigos fora da escola. Convém que seja qualquer coisa legal.

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