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A paixão tem prazo de validade, dizem os cientistas. Ano e meio a dois anos, na melhor das hipóteses, e a culpa é da nossa própria química cerebral. Então e o que resta depois disso? Companheirismo, intimidade, amizade, cumplicidade, amor maduro, dirá a maior parte. O facto é que não se encontram muitos casais que, ao fim de dez ou 20 anos de vida em comum, se beijem nos transportes como adolescentes ou mal consigam esperar para fazer amor, arrancando selvaticamente a roupa um ao outro, ainda no patamar das escadas. Será que o preço a pagar pela intimidade, por partilhar alegrias e tristezas, é uma vida sexual mais morna?

Esther Perel é psicoterapeuta especializada em casais. É belga, está radicada nos EUA, é docente na Universidade de Colúmbia e já foi convidada de programas como o ‘Oprah Winfrey Show’ ou ‘CBS News’. Ao longo de anos, trabalhou com centenas de homens e mulheres que se amavam profundamente, comunicavam de forma espantosa, se admiravam e respeitavam mutua-

mente, que criaram belas famílias e que, no entanto, perderam o fio à meada do erotismo. A culpa, diz, é de mitos que criámos à volta da figura do casamento. Foi por isso que escreveu ‘Amor e Desejo na Relação Conjugal’, [Editorial Presença] onde explora o tema da perda de desejo sexual no matrimónio e aponta soluções para fugir às suas armadilhas.

O mito da intimidade

Temos de conhecer tudo sobre o nosso companheiro de cama? E se não soubermos tudo, isso significa que ele não nos ama verdadeiramente? “Acho que nunca chegamos a conhecer, na totalidade, a pessoa que partilha a cama connosco. É um mito da psicologia moderna achar que temos de saber de tudo, tudo contar e tudo partilhar com o parceiro, porque uma boa intimidade garante uma boa sexualidade. Faz-nos sentir mais seguros darmos o parceiro por garantido e achar que não seremos surpreendidos por ele amanhã. E depois queixamo-nos de tédio na relação…”, ironiza a terapeuta. “Mas nem sempre uma maior proximidade cria mais desejo. Se o amor floresce num ambiente de mutualidade e proximidade, o desejo necessita de espaço e diferença. Quando as pessoas se fundem – quando de dois fazem só um –, a ligação deixa de ser possível porque deixa de haver com quem a estabelecer. Se nos mantivermos abertas a esse mistério que há na outra pessoa, temos mais possibilidade de manter o desejo.”

Mas isso significa que temos de agir como se o marido fosse um estranho que tentamos seduzir? “Não! Mas a verdade é que tratamos os nossos companheiros como um velho sofá, que nos é confortável e que está sempre no mesmo lugar. Devemos manter-nos disponíveis para os momentos em que ele nos vai surpreender, em que não age de acordo com um ‘guião’.”

No seu livro, Esther Perel alerta ainda para um erro feminino, o constante apelo que fazemos aos nossos companheiros para que desabafem connosco, exponham os seus sentimentos. Mas se as mulheres são socializadas nesse sentido, os homens não. “Neste cenário, aquele que não fala é sempre pressionado a mudar, em vez de ser aquele que fala a tornar-se mais versátil.” Assim se desvaloriza a importância da comunicação não verbal na relação: os pequenos gestos de gentileza, os olhares cúmplices, os sorrisos, os silêncios partilhados sem constrangimento.

Cultive o seu jardim secreto

“Em vez de trabalharem constantemente na construção da proximidade, defendo que os casais só terão a ganhar com uma certa individualidade. Nem tudo precisa de ser revelado. O amor quer saber tudo a teu respeito; o desejo precisa de mistério”, diz Perel.

A psicoterapeuta chama a esta tarefa ‘cultivar o nosso jardim secreto’, um espaço privado para se redescobrir como pessoa e onde possa ter tempo para si e para o que gosta de fazer, sem ter, necessariamente, de o partilhar com o seu marido ou ele consigo. Esse trabalho requer tolerância, de ambas as partes. Relembre-se de quem era antes de o conhecer, quais eram os seus passatempos e sonhos, quem eram seus amigos, que não eram necessariamente os dele.

O mito da espontaneidade

 Relações duradouras com sexo apaixonado são uma ideia relativamente nova, lembra Esther Perel, uma invenção dos casamentos por amor do século XX. “Antes, as pessoas tinham sexo porque queriam ter filhos ou porque tinham de cumprir uma obrigação matrimonial. Ainda ninguém sabe muito bem como cultivar o desejo dentro de casa – em alguns sentidos, isso ainda é tabu. As imagens de sexo a que somos expostos são irrealistas. Nos filmes, o sexo é sempre instantâneo, assim que se aproximam, os dois já estão excitados. A essência do erotismo é a imaginação, a sedução e a antecipação. Mas assim que se casam ou vão viver juntos, as pessoas acham que não precisam de fazer esforços porque o parceiro tem de os desejar sempre. Porquê? Só porque estão lá?!…”

Deixar que o desejo apareça só quando uma mística conjunção astral der tempo ao casal para estar junto é um engano e uma forma de negligência. Quando ansiamos pelo espontâneo, não temos de nos dar ao trabalho de preparar uma surpresa, um jantar especial a dois, dizer ‘amo-te’. “É uma maneira de evitarmos a ideia de que somos donos do nosso desejo”, observa Esther Perel. “Quando desejamos alguém, temos de aceitar o risco de dizer ‘quero-te’ e de sermos rejeitados e aceitar as consequências.”

Sexo com hora marcada

Por mais estranho que pareça, a terapeuta defende que, em muitos casos, a solução passa por planear o tempo para estar junto e o que fazer com ele: o jantar, a música, o sexo. Tirar aquela sexta-feira e deixar os miúdos na avó ou sair mais cedo do emprego. Pode ser apenas uma noite por semana, ou de 15 em 15 dias. Mas se a tivermos marcada na agenda, esperamos por ela, e desejamos que venha depressa, tal como umas esperadas férias. Mas a palavra ‘planear’ ainda é olhada com maus olhos, quando falamos de amor e erotismo, porque nos convencemos de que os gestos verdadeiramente românticos são os que caem do céu, como nos filmes. “Planear resulta com algumas pessoas, que adoram a ideia de que estão a criar um espaço sagrado. Para outras, é uma palavra associada a trabalho e, por isso, não gostam da ideia de a ligar ao sexo. Mas nunca conheci ninguém que tivesse problemas em planear uma viagem ou jantar de três pratos – e também não conheço ninguém que prefira fast food a um jantar destes. As pessoas dão valor ao ritual, à antecipação, à gentileza, ao esforço. Planear tem uma conotação de criatividade, confere valor acrescentado à relação, diz ‘és importante para mim e estou a criar uma altura e espaço especial para nós’.”

O mito ‘os filhos unem o casal’

Outra ideia errada, sustenta a psicoterapeuta. Poucas ‘coisas’ surtem um efeito de desgaste tão grande entre o casal como ter em casa um bebé, que requer cuidados e atenção constante, geralmente da mãe. “A maioria dos casais com filhos separa-se nos primeiros três anos de vida da criança. Se conseguirem manter-se juntos durante esse tempo, têm mais probabilidade de se aguentar nos próximos 15”, afirma Esther. “No passado, o facto das mulheres serem mães não era razão de frustração para o homem, que podia sempre recorrer ao bordel. Mas, agora, os homens ficam em casa e dizem ‘eu quero a minha mulher de volta’. Então, ela responde: ‘Já tenho dois filhos, não preciso de um terceiro.’”

Os filhos crescem e tornam-se, gradualmente, mais independentes. Mas, entretanto, os pais constituíram uma espécie de sociedade, a ‘Paternidade Lda.’, onde a comunicação entre marido e mulher se faz exclusivamente para resolver problemas, organizar tarefas, definir estratégias educativas, pagar contas, transmitir recados como ‘passa pelo supermercado’ ou ‘vai buscar o Joãozinho à escola’. “É como se o casamento fosse uma pequena empresa, que é preciso gerir com eficácia”, observa Perel.

Nos tempos livres, toda a energia criativa do casal é direccionada para os filhos. As crianças, diz Perel, nunca foram tão reis da casa e da família como hoje. “Vejo jovens mães e pais que, todas as semanas, procuram coisas novas para fazer com os filhos. As crianças têm direito a imaginação, brincadeira, novidade, mistério. Mas com o parceiro é sempre a mesma coisa. Quando chegamos a casa, o filho tem direito aos abraços prolongados e a toda a atenção. Mas os adultos sobrevivem a uma dieta de beijos rápidos entre si. A energia erótica está viva e de boa saúde… mas foi canalizada para a criança! Se queremos que o casamento sobreviva, temos de direccionar alguma dessa energia para a nossa relação. Caso contrário, estaremos a recrutar os nossos filhos para nos darem aquilo que deveriam ser os adultos a dar.”

Crie um espaço erótico

“Não falamos de um espaço para ter sexo, mas de um espaço de prazer, em que nós e os nossos parceiros possamos estar, sem ser como Pai e Mãe, Marido e Mulher, ou Cidadãos Cumpridores e Pagadores de Impostos. Apenas como indivíduos que gostam de estar um com o outro, e em que o sexo pode acontecer”, explica Esther Perel. “Há um conselho que dou a casais com filhos pequenos que revela ser bastante útil. Um deles vai ser cuidador da criança, a tempo inteiro, nos primeiros tempos de vida: o seu sentido de tempo e de identidade pessoal funde-se com o da criança. Mas o outro parceiro tem de ser o salvador, trazê-lo de volta à relação e dizer-lhe ‘agora é tempo de estarmos juntos’. Se o casal não conseguir fazer isto, acaba-se a família. E isso  não vai ser bom para a criança.”

Aqui entra a parte do planeamento: marque na sua agenda uma noite que seja só sua e dele, inviolável e inadiável. Feche a porta do quarto e torne claro aos seus filhos, com o tempo, que os pais têm direito a privacidade e que não querem ser interrompidos quando estiverem a namorar. Há apenas uma regra a observar para esta terapeuta: evitar qualquer assunto relacionado com os afazeres da Paternidade Lda. “O que interessa saírem uma vez por semana se vão falar nos filhos o tempo todo?!”

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