Ana Teles, 39 anos, namorou dois anos e está casada há seis, tem uma relação feliz mas a sua falta de desejo sexual impede-a de viver o casamento na sua plenitude. Não está sozinha, 35% das mulheres portuguesas sofrem de desejo sexual hipoativo, segundo o primeiro estudo nacional sobre a prevalência de disfunções sexuais femininas, realizado pela Sociedade Portuguesa de Andrologia. E a incidência pode mesmo ser maior. Pedro Nobre, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia, aponta para os 47%.

Fomos saber, afinal, o que está por detrás deste problema, que se manifesta tanto na dificuldade de iniciar um relacionamento íntimo como na incapacidade de reagir aos avanços do parceiro. É a disfunção sexual feminina que mais leva os casais a pedirem ajuda médica.

Um conflito interno

“Nunca tive uma vida sexual muito satisfatória e o problema agravou-se depois me casar. Estou agora a passar por aquilo que antes criticava naquelas mulheres que assumiam a sua falta de desejo sexual e as desculpas que davam aos parceiros”, conta Ana. “A verdade é que nos últimos tempos senti uma quebra no entusiasmo, acentuada pelas dificuldades e tarefas quotidianas, o cuidar dos filhos, o trabalho, entre outros…Quando chego à cama, quero é dormir! Não há desejo que resista a tanto cansaço, por muito que eu tente combater o problema.”

A reação do marido não tem sido a melhor. “Fica zangado, diz-me que é um homem novo, que precisa de atenção, e até já discutimos. Durante uns tempos tentei mostrar-me mais motivada, mas rapidamente voltámos ao mesmo, é uma luta diária.”

Sinais de alerta

A mulher começa a perceber que não está disponível para o sexo e vai arranjando justificações que o parceiro entende. Mas quando estas se prolongam por tempo indeterminado o problema passa a ser mais evidente. Marta Crawford explica-nos que são mulheres que acreditam tratar-se apenas de uma fase, que quando chegarem as férias a situação melhorará e vão arrastando o problema. Mais tarde, começam a ter vergonha de falar no assunto e a sentirem-se pressionadas pelo parceiro. “É geralmente assim, que começa por manifestar-se o desejo sexual hipoactivo feminino. A sexualidade passa a ser vivida como algo negativo, provocando ansiedade, angústia e irritação, o que afeta a relação. É um erro pensar que o casal consegue resolver o problema sozinho, pois a verdade é que entra num ciclo vicioso e não sai dali”, continua a especialista em sexologia.

Inês Madureira, psicóloga clínica no British Hospital Lisbon XXI, explica-
-nos ainda que esta falta de desejo pode provocar sentimentos de angústia e receio. A mulher tem medo de perder o companheiro por não lhe conseguir explicar as razões desta inibição sexual, uma vez que os seus sentimentos por ele não estão em causa.

As causas mais comuns

“As causas podem ser diversas, mas é importante referir a distinção entre inibição sexual primária (quando a pessoa nunca sentiu muito desejo ou interesse sexual) e secundária (quando a pessoa costumava ter desejo sexual, mas perdeu o interesse)”, alerta Inês Madureira. O primeiro caso pode estar associado a atitudes negativas em relação ao sexo ou a experiências sexuais traumáticas, como abuso sexual, doenças físicas, efeitos secundários de alguns medicamentos, deficiências hormonais ou depressão. “Quem está deprimido pode não ter desejo sexual, ou estar tão fragilizado emocionalmente que não consegue ter prazer nas relações”, explica a psicóloga.

Já as causas do segundo tipo de falta de desejo sexual são habitualmente, problemas relacionais: um dos parceiros não se sente emocionalmente próximo do outro; existem dificuldades de comunicação, conflitos mal resolvidos que levam à perda de confiança no parceiro, ou falta de tempo para momentos de íntimos. O stresse excessivo e a rotina podem também agravar a falta de desejo sexual.

Marta Crawford vai mais além: “A verdade é que nós, mulheres, somos muito mais vulneráveis ao que nos rodeia. O homem consegue olhar para o sexo de forma mais descontraída e é mais recetivo aos estímulos, ao contrário da mulher, que precisa de estar disponível, calma e perceber que o parceiro está realmente interessado nela.”

A queda de um mito

Mas este não é só um problema que afeta as mulheres. O termo frigidez está em desuso e a ideia que a falta de desejo sexual ocorre sobretudo em mulheres e que o homem está sempre ‘disponível’ está também a morrer. Na última década assistimos a um aumento de disfunções sexuais nos homens. “Isso tem graves consequências e leva a uma série de desconfianças: Será que ele está envolvido com outra pessoa? Tem alguma doença grave? As mulheres chegam mesmo a pôr em causa a orientação sexual do parceiro. Há aqui uma diferença na forma como homens e mulheres encaram o problema: eles acreditam mais facilmente que ela está deprimida ou a passar por outro problema psicológico”, afirma Marta Crawford.

Apoio especializado

São cada vez mais os casais que procuram ‘atacar’ o problema antes de entrarem em crise conjugal. Uma vez na consulta, o médico (clínica geral) vai tentar perceber a origem do problema.Se for uma questão orgânica, é necessário o re-encaminhamento para um ginecologista ou endocrinologista. Começa-se sempre por uma análise endocrinológica, para verificar se existe algum desequilíbrio hormonal, nomeadamente de estrogéneo. “São casos relativamente fáceis de tratar, com medicação por via oral. Noutras vezes, verifica-se que a pílula está a gerar uma diminuição da libido ou que a paciente está a tomar antidepressivos com efeitos secundários sobre o desejo.”

Ana Teles consultou um médico, que não descobriu qualquer desequilíbrio hormonal. “O médico receitou-me apenas uns patch de gel transgénico (carteirinhas), para aplicar no braço 30 minutos antes de ter relações com o meu marido, para aumentar a libido.” A situação melhorou, mas Ana queixa-se que a solução requer um planeamento que retira qualquer espontaneidade à relação sexual.

Se o resultado da análise endocrinológica apresentar valores equilibrados, o problema passa a ter de ser tratado em terapia sexual: “Entramos no campo psicológico.” Marta Crawford dá o exemplo do vaginismo, que reside no medo intenso de dor durante a penetração. Uma terapia pode variar entre 6 a 7 sessões em cada 15 dias durante 3 meses. “Tento que os casais funcionem sensorialmente (com carícias, por exemplo) para se aproximarem. O objetivo é uma reaproximação antes da relação sexual propriamente dita. É importante que saiam mais vezes os dois sozinhos, que façam surpresas um ao outro ou comprem brinquedos eróticos, que não se pressionem e que deixem de ter um sexo tão genital, passando a mais sensorial. Outro método terapêutico consiste em recorrer à utilização de dilatadores – um kit com objetos em forma de pénis com vários tamanhos para o casal ir treinando. É um reforço positivo para preparar a mulher para a penetração”, conclui a especialista em sexologia.


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