E se lhe dissessem que, de modo a conseguir estabelecer uma relação emocional forte com alguém, teria de evitar o contacto físico durante um mês? Pois bem, essa é, resumidamente, a premissa do reality show da Netflix Too Hot To Handle, no qual um grupo de homens e mulheres solteiros, que, por norma, preferem “casos de uma noite”, são postos à prova.

Pouco depois de chegarem a um destino paradisíaco, os concorrentes ficam a saber que, para conseguirem ganhar 100 mil dólares, não poderão ter qualquer tipo de contacto físico – beijos, sexo ou masturbação. Tudo, em nome de ligações emocionais mais fortes, profundas e duradouras, que beneficiarão do auxílio de alguns workshops de desenvolvimento pessoal.

Tendo em conta este conceito invulgar, falámos com dois especialistas para tentar perceber o que leva, em primeiro lugar, estas pessoas a evitar emoções fortes e relações não esporádicas, bem como entender se a falta de contacto físico pode, de facto, beneficiar as conexões emocionais.

Quem são os participantes?

Em primeiro lugar, importa ter algum contexto. Os concorrentes deste programa, cujas fotografias pode conferir na galeria de imagens acima, têm em comum o facto de evitarem ter de lidar com emoções fortes. “Normalmente, encontramos no passado destes indivíduos relações interpessoais que não foram vividas de forma plena e satisfatória ou que não ficaram bem resolvidas“, afirma o Dr. José de Melo, psicólogo clínico, terapeuta familiar e especialista na psicologia dos comportamentos aditivos.

Já o Dr. Nelson Lopes, também psicólogo e terapeuta familiar, acrescenta que, além de eventos traumáticos no passado, há outro motivo para o ser humano evitar procurar ligações profundas com os outros: “Transtornos como o da Personalidade Narcísica, da Personalidade antissocial, da Personalidade Borderline, são exemplos em que, por diversas razões, estas pessoas não conseguem estabelecer relações de verdadeira intimidade, sendo por vezes manipuladoras ou emocionalmente ambivalentes“.

O conceito do programa tem algum fundamento?

Afinal, é saudável desenvolver uma relação na base da ausência de contacto físico? De acordo com Lopes, sim, “desde que isso esteja de acordo com os códigos de ambos, e que ambos sintam que tem sentido na relação em que estão, e que reduzam a ansiedade e ou sofrimento com estratégias de compensação psicológicas adequadas. A sexualidade continuará a existir, ainda que não exista o contato físico como beijos ou relações sexuais“.

Ainda assim, o especialista acrescenta que é preciso ter cuidado “quando esta ausência de contacto físico é sentida como penalizante, factor de sofrimento e sem sentido ou mais valia para a relação, por um ou ambos os elementos. Aí sim deixa de ser saudável e não promove a felicidade relacional“.

É também importante ter em conta que, no caso do programa, todos os concorrentes procuram, habitualmente, relações fugazes. Como tal, a proibição do contacto físico pode ser benéfica. “Para pessoas habituadas a procurar satisfação mais física, mais sexual e mais imediata, a probabilidade de que a consumação do desejo sexual, em fases precoces, impeça a relação de ter tempo suficiente para criar bases de intimidade emocional, é muito alta“, remata.

A participação em workshops de desenvolvimento pessoal pode ter sido o segredo para o desenvolvimento de ligações emocionais?

O Dr. José de Melo acredita que “só com uma intervenção séria e organizada é possível alterar comportamentos“, além de que “pequenas vitórias ou conquistas permitem ao indivíduo o sentimento de estar a realizar progressos individuais, o que lhe reforça a motivação para continuar o seu esforço“.

O psicólogo refere ainda que, tendo em conta as condicionantes do programa, que implicam uma forte mudança comportamental, a ausência de qualquer tipo de acompanhamento poderia levar a um desfecho pouco desejável: “o individuo voltaria à sua forma habitual de se relacionar, assim que surgisse essa oportunidade, de forma a deixar de sentir desconforto“.

Já o Dr. Nelson refere que “é crucial que, através de leituras, conversas, cursos ou mesmo consulta psicológica, nos atualizemos, sendo este processo ainda mais importante e relevante se sentimos sofrimento nas relações“. O especialista diz ainda acreditar ser crucial sabermos quais as nossas forças e fragilidades, de modo a podermos usá-las de forma saudável.

Quando é que o sexo pode ser um impedimento para a evolução emocional?

Quando se cria “uma adição e dependência da satisfação sexual para resolver temporariamente uma disfunção não sexual“, afirma Lopes. Para o psicólogo, o sexo pode tornar-se um obstáculo quando é criado um ciclo vicioso através do qual a pessoa evita, consciente ou inconscientemente, “lidar com dores ou dificuldades emocionais de uma forma consistente“. Desta forma, este torna-se “um impedimento ao desenvolvimento, cura ou maturidade emocional, devido ao profundo mas temporário alívio que provoca“.

Ainda assim, importa notar que “muito além do prazer, o sexo cumpre uma função importante na manutenção da nossa saúde. Como é uma atividade que melhora a autoestima, a ausência dele implica uma sensação maior de insegurança em relação às atitudes e comportamentos. Quando essa insegurança atinge patamares elevados, poderão desenvolver-se patologias do foro psicológico mais graves, como a depressão“, refere Melo.

Numa relação, a ligação física pode ser trabalhada da mesma forma que a emocional?

Para o Dr. José de Melo, “A ligação física, embora sempre relacionada com o envolvimento emocional, é sempre trabalhada ao longo do tempo, através do conhecimento das capacidades e o aperfeiçoamento de um conhecimento mais íntimo do outro“.

Já o Dr. Nelson Lopes afirma que “a qualidade da relação que estabelecemos com os outros não está  somente dependente de um factor como o factor físico, o emocional, ou mesmo social. Este sentimento de ligação é uma súmula, uma dança entre os diversos factores“.

Para este último especialista, “a incompatibilidade sexual é quase sempre um indício de necessidades de comunicação e conhecimento do casal sobre si próprio, que podem ser exclusivamente sexuais, ou ter raízes noutras áreas de vida“. Nesse sentido, importa trabalhar fatores como a “partilha emocional, as expectativas, o conhecimento mútuo, o interesse e curiosidade pelo outro, a comunicação, o tempo investido, a articulação de valores, e, claro, a erotização do outro e os comportamentos sexuais“.

Tendo em conta a importância da conexão emocional, Lopes acredita que é “possível que um casal construa uma intimidade emocional sem recurso à relação sexual“. Como? Através de “fatores como a história e o passado juntos, projetos em comum, sentimento de família, ideias e valores, questões culturais, compatibilidade psicológica, boa complementarização de papéis, satisfação percepcionada, conforto, confiança, segurança”, entre outros.

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