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Voltar a viver em casal depois de anos a fio sozinha: há hábitos que se alteram, choques de personalidade, rituais a que já estávamos habituadas e que mudam. Mas a solidão pode ter sido um bom mestre (ou não).

A dois
OUTRA VEZ

Vivemos a sós durante anos. Quer depois de uma separação quer porque nunca encontrámos ninguém. De repente, há outra pessoa na nossa vida. Embora cada vez menos gente se queira casar pela primeira vez, os segundos e terceiros casamentos estão a aumentar. Mas não é uma coisa que se faça de ânimo leve. Temos mais experiência, mas também mais bagagem: de filhos, de sofrimento, de anos a sós, de liberdade.

“Nos anos em que estive sozinha aprendi a adorar os momentos de solidão”, conta Cláudia B. Divorciada e com 2 filhos, passou oito anos sozinha até conhecer o Rodrigo. Foi amor à primeira vista. Problema: só então se deu conta de que a solidão também tinha muitas coisas boas.

É preciso respirar fundo e pensar nas coisas boas. Segredos: em primeiro lugar, essa pessoa tem de ser a pessoa certa, para que todas as mudanças valham a pena. “Tive um namorado, com quem andei pouco tempo, que só tinha uma almofada!” (risos), recorda Cláudia. “E nunca comprou outra! Eu não lhe pedi que comprasse uma casa, só lhe pedi que comprasse uma almofada!”
Quando é a pessoa certa, temos de respeitar essa ligação, essa intimidade, essa ternura. “O principal é estar disponível, porque gerir diferenças de carácter é fácil. Por exemplo, eu avisei logo que gosto de dormir até tarde ao fim de semana. Então ele levanta-se e vai fazer as coisas dele. Se ficasse a bufar na cama muito impaciente à espera que eu acordasse, a relação não dava.” O segundo segredo é não estar dependente daquela pessoa. Podemos viver a dois sem ser obrigatório fazer tudo a dois. “Uma coisa é ir com ela fazer qualquer coisa de que ele gosta. Mas imagine uma coisa que eu não suporto mesmo, tipo uma tourada, não só não irei como não acho bem que ele vá, mas não vou impedi-lo disso.”
E sobretudo não repetir os erros do passado: “No meu primeiro casamento, o principal erro foi fazer tudo, mas mesmo tudo, juntos. Acho que só não íamos despejar o lixo todos juntos…” (risos)
E acima de tudo o grande segredo: “Ter bondade no coração. Parece kitsch, mas em casal não se pode viver à defesa nem estar sempre a atacar o outro. E temos sobretudo de nos respeitar a nós também.”

A importância de falar sobre dinheiro

Algo com que todos os casais têm de se confrontar: gerir finanças. “Tenho amigas que se queixam imenso da forretice dos homens”, conta Cláudia. “A mim, isso faz-me muita confusão, porque não sou gastadora mas sou generosa, e não suporto um homem cirúrgico com o dinheiro. Isso convém que seja conversado, para evitar grandes discrepâncias. Tenho uma amiga que o namorado se mudou para casa dela, deixou de pagar a sua renda, e é ela que paga tudo: água, renda, supermercado, e ela não diz nada!”
Claro que há pequenas coisas que a irritam. “Por exemplo, irrita-me que ele use o meu creme como se não houvesse amanhã (risos) mas nunca sonharia dizer-lhe isso. Conheci um casal em que até as quantias mais pequenas eram divididas, ele pagava um euro e ela outro euro, isso para mim também é ridículo.”

12 anos de solidão

“Paulo Autran dizia que um casamento ideal era os dois elementos do casal viverem cada um em sua casa. Isto é o sonho da minha vida. (risos) Encontrávamo-nos para jantar e ao fim do dia cada um ia para seu lado. A convivência é muito cruel.” Apesar das gargalhadas, Olívia, 44 anos, admite que lhe custou mudar novamente de estado. Passou 12 anos sozinha depois de um divórcio muito sofrido e traumático. Aos 40, encontrou o homem da sua vida, foi viver com ele e foi mãe pela primeira vez: tudo em menos de um ano. “Nem tivemos tempo para nos chatearmos com picuinhices. Confesso que muitas vezes ainda me custa partilhar o meu espaço. E o que me custou mais nem foi o João, que é um marido fantástico, foi quando nasceu o Tiago. Num dia não tinha ninguém, e no outro tinha dois homens à perna! (risos).”
Admite que a solidão marca muito. “Eu ainda hoje digo ‘vai ao meu quarto’ ou ‘está em cima da minha cama’. Sai-me. Ainda hoje digo ao meu filho ‘Vem à tia’ (risos). Não foi uma adaptação fácil, porque adorei viver sozinha. Se tive medo de perder a liberdade? Claro que tive. É o grande drama quando se tem marido ou filhos. Isso e estar refém do Canal Panda.” (risos) Estar sozinha também lhe ensinou a não ter medo de um novo divórcio: “Agora sei que, se alguma coisa acontecer, vou aguentar-me e ao meu filho. Mas não me parece que vá acontecer.”
Quer queiramos quer não, sobra sempre mais trabalho numa casa para as mulheres. “E o João faz tudo o que eu faço, é mesmo participativo. Mas a culpa é minha, que estou cada vez mais obcecada pela limpeza, vou dar uma velha insuportável. (risos) A minha mãe está sempre a dizer ‘Quando eu morrer, primeiro arrumem a casa e depois chorem’. (risos) Mas claro que não exijo ao João que limpe tudo como eu quero, embora me enerve que as coisas não estejam impecáveis.”
Aliás, foi uma das coisas mais importantes que aprendeu no primeiro casamento. “Achava que o meu ex-marido devia fazer as coisas à minha maneira. Com o João já aprendi que isso não leva a lado nenhum. Posso sugerir, mas não critico a forma como ele o faz, nem vou por trás fazer o que ele não fez.”

A minha casa ou a tua?

“Cada vez mais há relacionamentos que aparecem mais tarde, com todas as dificuldades que isso implica”, confirma a terapeuta de casal Celina Coelho de Almeida. Mas o maior problema nem são os pequenos hábitos do dia a dia. O maior problema é prático: “Na maioria das vezes, o novo casal vai morar para casa de um deles. E isto dá uma imensidão de problemas, porque o território já está minado à partida. Um deles sente o seu espaço invadido e o outro não sente que aquele espaço é dele.” Não se vai logo comprar uma casa a dois, mas pode-se investir em algumas alterações, de modo a que a casa seja sentida como um projeto comum.
A forma como se entra numa nova relação tem muito a ver com a forma como se lidou com a solidão. Que pode ter sido feita de duas maneiras: “Se a pessoa se sentiu muito infeliz sozinha, terá tendência para entrar em relações tóxicas, porque tem muitas expectativas e as expectativas cegam-nos. Mas estar dependente de outra pessoa para nos fazer feliz vai desequilibrar o relacionamento à partida”, explica Celina. Ou, então, as pessoas viveram bem a solo. “Como a sua felicidade não depende de outra pessoa, são muito mais exigentes e fazem escolhas mais acertadas. Isso é uma ótima base para um relacionamento: duas pessoas que querem desfrutar de uma boa vida um com o outro mas que antes de mais se respeitam a elas próprias. Tanto viver sozinho como viver acompanhado tem prós e tem contras.” Pode-se não voltar a cometer os erros da primeira relação. Mas tendencialmente acontece o contrário: sentimo-nos atraídas pelo mesmo tipo de pessoas, que nos vão fazer cometer os mesmos erros.” Por isso é importante perceber o que correu mal, depois de terminar uma relação e antes de começar outra.

À SEGUNDA, CORRE MELHOR?

“Nem sempre”, explica Celina Coelho de Almeida. “Uma das coisas que atrapalha muito são os filhos dos dois. Fazer esta gestão das famílias que trazem pode ser muito complexo e criar tensão. Por outro lado, as pessoas que vêm de outros relacionamentos muitas vezes não fizeram o ‘trabalho de casa’ de perceber o que correu mal na primeira relação, e a tendência para as coisas voltarem a correr mal é idêntica. Só semuda de parceiro, os erros tóxicos continuam lá.”

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