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Nem todas as mães são tão liberais como Sarah Braverman, da série ‘Parenthood’, transmitida pela Fox Life.

*artigo publicado originalmente em março de 2015

Algum pai gosta de imaginar o que se passa no quarto dos filhos? Hmmm… “Há uma enorme diferença entre saber que os jovens andam a fazer sexo e saber que o fazem mesmo ao nosso lado”, lembra a psicóloga americana Suzanne Pearson, em www.sharingparenting.com. “16 anos é a idade em que a maioria dos pais começa a pensar no assunto.” Claro que há muitas questões a considerar além da idade: “Há quanto tempo é que eles namoram? É uma relação ou só um caso? O seu filho tem maturidade para iniciar uma relação sexual? Há outros locais seguros para onde possam ir?” Falámos com várias mães e um especialista para saber como lidam ou lidaram com o assunto: e a conclusão não foi consensual…

1| Deixa a sua filha (o) dormir com o namorado em casa? Quando (ou se) passa a noite, dormem juntos ou em quartos separados?

2 | Tomou essa decisão de forma consciente ou foi instintivo?

3 | Discutiu o tema com o seu marido? Tinham a mesma opinião ou divergiam?

4 | A sua decisão chocou alguém dentro da família?

5 | Como é que foi consigo? Podia trazer os namorados para casa?

Alberta Serra

professora, dois dilhos rapazes de 19 e 20 anos

Sim

1|Deixo. Mas o meu filho mais velho só começou a dormir com a namorada em casa quando eu já sabia que eles dormiam juntos. Ela estava cá a estudar, sozinha, e ele ia passar o fim de semana com ela. Nunca me disse que ia ‘com amigos’. Na família, tanto os pais como os filhos dizem onde andam, por questões de segurança. Eu não lhe disse nada. Ia dizer o quê? Não, não vais? Sabia perfeitamente que eles não iam dormir separados. Não fiquei preocupada. Sei que ele se protege. Aliás, eu mesma lhe compro os preservativos. Quando a namorada foi passar a primeira noite lá a casa, dormiram em quartos separados. Mas a partir do momento em que sabíamos que se passava qualquer coisa, passaram a dormir no mesmo quarto. O que me chateava mais? Que ela pusesse os pés no sofá. Muito mais do que dormirem no mesmo quarto.

2 | Aconteceu naturalmente. Sei que há muita gente que não se sente à vontade com um filho adulto dentro de casa. Eu mesma às vezes ainda reajo com os meus filhos como se fossem crianças. É normal. Foram muitos anos (risos). Acho que nisso os homens são mais racionais. Para nós, mães, eles continuam bebés. Se tivesse raparigas, não sei se seria diferente. Provavelmente não. Porque engravidar, engravida-se em qualquer lado. A minha mãe contou-me o caso de uma prima que namorava à janela, era vigiada 24 horas por dia, e mesmo assim conseguiu engravidar antes do casamento… (risos)

3 | Falei com o meu marido, claro. Ele é muito mais prático e mais pragmático, e às vezes ria-se da minha inocência.

4 | A minha mãe chocou-se muito. Dizia-me: “Então eles já dormem juntos? Então mas tu sabes lá se é para casar!” Eu fartei-me de rir. A minha sogra tem 6 filhos, já viu muito, e já não se choca tanto. Mas percebo que as mentalidades sejam diferentes. Só respondi, se os pais delas sabem e deixam, quem sou eu para proibir. Se eles tivessem 15 ou 16 anos, outro galo cantaria. Com essas idades, nunca o permitiria. Acho que são novos demais e não medem consequências. Agora com 20? São adultos!

5 |Comigo, nem pensar. Nem nunca me passou pela cabeça dizer ‘O Paulo vai de férias connosco’. Se insistisse, tenho a certeza que a minha prima vinha dormir no meu quarto…

Teresa Verde

Desempregada, 1 filho de 22 anos

Não

1|O meu filho pode dormir com a namorada em casa: isto se nós não estivermos. Quando falámos neste assunto à mesa, ele disse que havia pais para tudo: uma namorada de um amigo dele vive lá a tempo inteiro, mas outros pais também não permitem (só quando não estão e fingem que não sabem).

2 | A decisão não foi minha, foi do pai dele. Por mim, ele podia dormir com a namorada cá em casa, desde que avisasse. Não me faz confusão nenhuma, nunca tive qualquer problema em lidar com o crescimento dele e prefiro mil vezes sabê-lo em segurança. Mas a casa não é só minha e temos de tomar as decisões em conjunto.

3 | A minha decisão, ou melhor, a do meu marido, teve a concordância quase total de toda a família. Mesmo a daqueles que vão passar férias com filhos e namorados. Acho que os pais deixam porque têm medo de perder os filhos.

4 | Claro que tudo isto foi discutido com o meu marido. Certa vez o meu filho telefonou a perguntar se podia trazer a namorada para dormir e eu disse que sim. Mas depois resolvi falar com o pai, para saber se ele concordava: afinal a casa é de ambos. E ele não concordou, explicou que não se ia sentir nada à vontade. Assim, telefonou ao filho e eles não vieram – foram para casa de um amigo.

Mas a mim preocupa-me que ele durma fora de casa. Enquanto vai para casa de amigos é como o outro, mas tenho algum receio que frequente pensões manhosas ou locais onde se podem meter em problemas. Lembro-me de um colega de liceu cujo irmão mais velho foi assassinado enquanto ‘namorava’ em Monsanto, o que nos deixou um bocado traumatizados.

5 | O meu namorado ia a minha casa como os restantes amigos, porque naquele tempo o sexo era tabu. E as meninas eram supostas casar virgens, de modo que a questão estava longe de se pôr.

Mas de qualquer forma o meu marido nunca se atreveria a fazer semelhante pergunta, começando logo porque ele próprio não tinha quarto, dormia num sofá-cama da sala, depois de todos se deitarem. Enfim, eram outros tempos!

Paula Monteiro

jornalista, três filhas entre os 17 e os 30 anos

Sim

1 | Claro que deixo. Sempre disse às minhas filhas que tinham liberdade para fazer o que quisessem, mas julgo que elas próprias não se sentem muito à vontade. Um dia, o namorado da Rita, que dormia num beliche, veio passar a noite e ficou no beliche de baixo, mas eu perguntei-lhe: “Ouve lá, de noite há procissão de pé descalço?” – Ela respondeu – “Sim, mas nunca quando estás em casa.” A Sofia partilhava o quarto com a Marta. E um dia perguntou-me – “Importas-te que o Gonçalo durma cá em casa comigo? – eu respondi – “Essa pergunta tens de fazer à Marta e não a mim, porque ela é que partilha o quarto contigo.” – Lá se entenderam, e o Gonçalo dormiu cá várias vezes. Mas foi sempre tudo muito sossegado… Não gosto é que façam as coisas nas minhas costas. Quando tive em casa o meu sobrinho, percebi que eu saía e a namorada dele entrava. Aí é que me zanguei. Portanto um belo dia fiz marcha atrás e voltei a casa. Apanhei-os em direto e confrontei-os. – Se a Joana queria dormir cá em casa, tinham-me dito. Mas não estão à espera que eu saia para o fazerem, porque cá em casa não se faz nada às escondidas.

2 | Isto não foi nada que eu tivesse discutido com elas, foi natural. Sempre lhes disse que podiam fazer o que quisessem onde quisessem, desde que não me mentissem. Criei–as no respeito pelos outros, e começo por respeitá-las. Eu mesma, quando comecei a namorar, disse-lhes – “Comecei a namorar o Pedro, e ele vem cá passar o fim de semana e vai dormir no quarto da mãe.”

3 | Os pais delas não fazem ideia de metade do que se passa. Um dia, a Rita, com 20 anos, chamou-me e ao pai, e disse-nos – “Quero pedir-vos permissão para ir morar com o João.” O pai mudou de cor 50 vezes e só gaguejou – “Não sei…” E eu disse – “A vida é tua, e portanto farás o que entenderes. – E foi o que ela fez.”

4| Não tive nenhuns problemas com as minhas filhas, mas tive imensos problemas com a minha mãe. O mínimo que me chamou foi galdéria quando comecei a andar com o Pedro, e eu tinha 54 anos e não 14. A sorte é que há 300km de distância entre as minhas filhas e a minha mãe. Mas no ano passado, quando fomos a casa dela com as miúdas para um casamento, disse-lhe – “Então a Sofia e o Gonçalo podem ficar em sua casa” – e ela disse – “Podem, tenho dois quartos” – e eu disse – “Só é preciso um, eles vivem juntos” – e foi o fim do mundo. De tal maneira que ficaram em casa de uma amiga minha. Esta obsessão com as aparências é ridícula.

5 | Claro que os meus namorados não dormiam comigo em casa dos meus pais. Até hoje a minha mãe me faz cenas sempre que tenho um namorado, e já tive 3 casamentos…

Carlota Conde
advogada, 3 filhos entre os 18 e os 25 anos
Não

1 | Não deixo enquanto não tiverem uma relação estável. Para mim, a autonomia conquista-se. Quando os filhos crescem há um atrito entre querermos que sintam que é a casa deles, mas sentirmos que não somos criados deles. A mim faz-me confusão isto da liberdade total, lembra-me sempre a América a dar liberdade ao Iraque, ‘tomem lá a liberdade’, e depois aquilo rebenta tudo. O sexo tem de ser uma conquista: o ser às escondidas, o irem lá a casa à socapa quando os pais não estão, tudo isso faz parte. Agora terem a papinha toda feita, tomem lá o quartinho e Deus vos abençoe, que graça tem? Estar a oficializar tudo muito cedo, para mim é uma imposição.

2 | Foi consciente. Claro que, se as pessoas andam há muito tempo, pô-las em quartos separados é uma hipocrisia. Mas criar dificuldades ao princípio é a missão dos pais. O Freud dizia que só se cresce quando se é capaz de guardar segredos aos pais. E dizer que se foi passar o fim de semana com amigos em vez de ‘com a Marta’ é uma hipocrisia saudável. Enquanto os filhos precisarem de vir a correr partilhar tudo com os pais e ter a sua bênção, não crescem. Isto não quer dizer que as pessoas não comuniquem, mas não têm de partilhar a sua vida íntima. Pais e filhos agradecem não imaginar a sexualidade uns dos outros. Porque a sexualidade dos pais também fica inibida com a sexualidade dos adolescentes. Nós andamos muito em cima da sexualidade dos filhos, e isto é muito voyeurista.

3| A família pensa como eu. Mas mesmo que eu deixasse fazer tudo, esconderia cuidadosamente à minha mãe.

4 | O pai é da mesma opinião. Mas quando decide falar destas coisas às raparigas, elas ficam incomodadas. Comigo não há tanto constrangimento, embora eu nunca tenha perguntado às minhas filhas se dormiam com os namorados. A Maria nunca pediu para trazer o namorado, embora eu soubesse que dormiam juntos. O Bernardo pediu, mas eu fiz braço de ferro, as irmãs eram pequenas e achei mal partilharem o espaço delas. A Constança, sempre que o namorado vinha, queria que dormissem em quartos separados. Não sei o que é que se passava de noite, sei que de manhã continuavam separados. E para mim isso foi importante.

5 | O último namorado que dormiu comigo em casa dos meus pais foi aos 5 anos. Hoje, os pais trabalham e os miúdos têm o dia todo para irem lá a casa ver televisão e engravidarem! Para mim não é uma questão de moral, mas de espaço, intimidade, autonomia. As mães têm pavor de perder os filhos, adoram trazer a nora para dentro de casa, domesticá-la, o ideal era serem todos, mantidos em cativeiro e infantilidade, mas isso não é deixá-los crescer.

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