Todas as crianças têm direito a um palhaço. Se a criança está no hospital, o palhaço tem de estar no hospital com ela."
Esta é a base do grupo Operação Nariz Vermelho, palhaços especialmente preparados para acompanharem as crianças hospitalizadas. A fundadora foi Beatriz Quintella, "actriz de formação e palhaço por vocação", que começou como voluntária no Hospital de D. Estefânia e acabou com um grupo de treze artistas espalhado por oito hospitais de Lisboa, Coimbra e Porto. Mas este é um humor diferente do palhaço típico: o palhaço do hospital é mais subtil, mais teatral.
O palhaço não ri da criança, ri com a criança. "Mas a gente pode e deve brincar com situações difíceis", defende Beatriz. "Por exemplo, nas crianças com cancro brincamos com a careca delas, achamos piolho, puxamos o lustro. Dizemos: ‘Olha, tive um amigo meu em que o cabelo dele cresceu verde…’ Eles ficam espantadíssimos. Mas aos poucos, as crianças entendem o que a gente está a tentar dizer-lhes: não faz mal o teu cabelo ter caído, não faz mal estar ligado a essa máquina, porque quem você é está intacto. Quem você é está sempre íntegro.
O ser humano, por mais que sofra, tem uma parte humana que está lá sempre, e é essa parte que o humor – o amor – vai buscar." Os Narizes Vermelhos entram em quase todos os serviços hospitalares. Para entrar no serviço de queimados, por exemplo, têm de levar bata, touca, máscara. O que é que usam quando não podem usar nada?
"O improviso, a música, o olhar. Se tem de usar máscara, o palhaço aprende a sorrir com os olhos."