Por vezes, devido a questões orçamentais ou emocionais, é penoso fazer obras em casa nova. Demolir paredes acabadas de erigir, danificar revestimentos acabados de assentar. Mas foi o que acabou por acontecer nesta moradia, de localização e infraestruturas invejáveis – jardim e piscina –, mas com acabamentos sofríveis, na qual Cristina Santos Silva, arquiteta, foi chamada a intervir, numa solução de compromisso entre a potencialidade do espaço e a sensatez orçamental. A construção data dos anos 60. Recentemente, foram executadas obras totais de reformulação para efeitos de revenda. Casas de banho e cozinha estavam novas, pinturas e acabamentos também. No entanto, as opções do construtor não eram compatíveis com o gosto dos compradores, um casal com um filho. As potencialidades do espaço, de áreas generosas, num total de 300 metros quadrados, eram também limitadoras: a casa corria o risco de ficar impessoal e despida. Era preciso personalizar, sobretudo a sala e casa de banho da suíte, conseguindo, em paralelo, mais área para arrumação. “Os clientes já tinham mobiliário da casa anterior, de que não se queriam desfazer, nomeadamente sofás, quadros, tapetes. No fundo, tratou-se de reposicionar, numa outra escala, o mobiliário existente, fazendo pequenas alterações”, sintetiza a arquiteta. É o caso do hall de entrada, onde agora está em evidência a antiga mesa de refeições. Retirou-se-lhe o tampo original e desenhou-se um novo, em espelho.
Na sala, a alteração principal consistiu no revestimento a vidro temperado de toda a parede da lareira e respetiva inserção de nichos de arrumação, lacados a preto, com uma forte componente estética. O ar antigo da lareira foi abolido, agora com novo revestimento em chapa de zinco. Mas o grande impacto da decoração surge logo à entrada da sala, na parede forrada a capitoné dourado junto à zona de refeições. Esta parede culmina numa confortável zona de assento e imprime um cunho teatral à casa. Por cima da mesa, introduziu-se um rebatimento no teto com o propósito de ‘definir’ a área de refeições no espaço-sala. Entre sala e cozinha, uma passagem semiexterior assemelha-se, devido à cobertura transparente de duas águas, a uma estufa. Um móvel em laca preta e inox, desenhado e produzido pela Ártica enaltece este recanto.
O piso superior alberga a zona íntima, onde se deu outras das principais mudanças neste projecto: a reformulação, na íntegra, da suíte do casal. Na casa de banho, o jogo cromático patente nas cores do revestimento (pastilha da Bizantina) define também as cores predominantes no quarto, entre o branco e o castanho-chocolate. Uma nova cabina – transparente – renovou a aura do espaço, tal como a louça sanitária Flaminia. A caminho do quarto de casal, uma sucessão de roupeiros e armários revestem as paredes de alto a baixo, torneando todo o quarto até à cabeceira de cama, forrada num papel texturado, da Elitis, semelhante a palhinha. A própria cabeceira tem um nicho de arrumação.
Na divisão seguinte, o quarto infantil tem uma estante assimétrica, já pensada para o futuro do seu ocupante, pelo que inclui, além de nichos para os actuais brinquedos, tampo de secretária, espaço e ligações para computador. Um das paredes é forrada com uma foto do bebé, dividida em fragmentos, numa aproximação estética à desconstrução da estante. “Foi um excelente trabalho de equipa entre mim e a cliente, tendo em conta que numa casa acabada de recuperar fazia um bocadinho de pena alterar algumas situações estruturantes, mas também era frustrante viver num espaço com o qual os proprietários não se sentiam identificados”, recorda a arquitecta