Estudou medicina, mas foi sempre apaixonada por decoração. Elizabeth Perraud, proprietária deste espaço surpreendente – no topo de um edifício banhado pelo sol, na Rue de Monceau, com um enorme terraço – rapidamente multiplica o seu amor pelo objeto belo nos apartamentos em que habita, possuída pelo desejo constante de investir num novo lugar, modelá-lo à sua imagem e dos que com ela partilham o espaço.
Elizabeth é terrivelmente imaginativa e incorrigivelmente criativa: a cada minuto faz nascer uma nova ideia, um novo apetite. Tanto, que acabou por lançar-se na edição de objetos que ela própria cria e cuja execução é confiada a uma equipa sob a etiqueta ChateauShop. A marca reflete o seu estilo, que associa história à modernidade. Edredões recebem impressões de poemas de Alfred de Vigny ou Alfred de Musset (poetas do século XIX) espelhos e mesas reproduzem traços de Gioconda, de Henrique IV ou de Napoleão. Velhas peças em couro coabitam com a televisão de ecrã plano, com caixilharias em decapé, com versos e aforismos transcritos na cerâmica dos pavimentos.
As misturas de género prevalecem no espaço, de um chique que não se leva demasiado a sério, um chique espirituoso, descalço. Serve de exemplo a sala de banho, com um painel Bisazza, com uma representação de Apolo onde ele parece escarnecer de todos os que se aventuram banheira adentro. “A empresa mandou dois artistas de Milão para executarem o trabalho. Pareciam os antigos pintores venezianos, de cabelos longos, cantavam ópera o dia inteiro. Durante os três meses em que cá andaram, os vizinhos abriam as janelas só para os ouvirem”, recorda.
Na sala de refeições, diversas mesas reforçam a convivialidade. Com uma grande família de 11 filhos, quatro ainda crianças, Elizabeth está sempre rodeada. Intencionalmente, separa as mesas de forma a ter uma desculpa para poder circular de mesa em mesa. Pequenas mesas independentes obrigam a que se levante para tagarelar com toda a gente, algo preferível a estar numa grande e única mesa de banquete, demasiado formal, demasiado cerimoniosa. Quanto à cozinha, está inteiramente equipada como todos os elementos necessários à confeção de um constante festim. Um pouco por todo o lado predomina o preto e branco, cuja frieza imperial é atenuada por cores mais quentes. Também abundam reproduções de pinturas antigas e ilustrações de livros de arte, tudo sob a deslumbrante luz que se infiltra no apartamento, debruçado sobre Paris.