Lígia Casanova reside
na mesma casa, num edifício pré-pombalino de um bairro antigo de Lisboa, há
quase 12 anos. Depois de uma primeira fase, com a decoração assente na cor,
deu-se uma transição, que passou pela introdução de tons neutros e pela
valorização das madeiras existentes na casa, criando ambientes próximos de uma
estética rústica. Na terceira e mais
recente metamorfose, houve uma autêntica subversão de estilo, agora mais
contemporâneo, assente numa base cromática branca. Lígia Casanova chama-lhe
“minimal vivido”.
“Costumo dizer que sou a minha pior cliente. Por estar habituada a ver tantas
coisas diferentes, por vezes torna-se difícil optar, mas fiz o que faço em
qualquer projeto: quando começo a perceber que não está a fluir, paro e espero
por um momento de inspiração”, refere a designer, quando questionada acerca das
possíveis dificuldades para decidir a decoração da sua própria habitação.
Originalmente, esta era uma casa de quinta, com rés-do-chão, primeiro andar e
águas furtadas. Nos primeiros nove anos foi sendo adaptada ao crescimento dos
três filhos de Lígia, daí a profusão de cor. “Cinco anos mais tarde
modifiquei-a novamente, tornando-a mais neutra, dando primazia à madeira”,
recorda, enquanto sintetiza os principais estádios de transformação pelos quais
a sua casa já passou. O último deu-se há cerca de dois anos. Já com a
participação dos filhos adolescentes, resolveu mudar tudo novamente. Chão e
paredes foram pintados de branco; uma das paredes de cada divisão, à exceção
dos quartos dos filhos e respetivas casas de banho, ou recebeu uma cor neutra
ou foi revestida a papel de parede. No quarto do piso superior, de dimensões
generosas, retirou-se espaço à zona de dormir para criar uma casa de banho,
aproveitando a prumada da casa de banho do piso inferior.
Cozinha e duas das três casas de banho existentes também foram
intervencionadas. Resultado: 180m² (quatro quartos, sala de estar, sala de
jantar, escritório, cozinha e quatro casas de banho) num estilo “tranquilo,
harmonioso, confortável, acolhedor, luminoso e feliz”. A casa desenvolve-se ao
longo de dois pisos. No térreo, a entrada conduz diretamente para a sala de
estar (onde se situa a escada de acesso ao piso superior), contígua à sala de
jantar, e que dá acesso à cozinha. Da sala de estar acede-se ainda a um
corredor, que por sua vez conduz a três quartos, duas casas de banho e a um
lavabo social. O piso superior desenvolve-se num mezanino, que alberga um
escritório e uma suíte.
De uma forma geral, todo o espaço é preenchido com objetos muito pessoais
(livros, telas, coleção de cerâmicas, peças decorativas em papier mâché,
recordações de viagem…) e texturas sensoriais (feltro, viscose de seda,
linhos). Perpassa uma atmosfera envolvente e delicada, mesmo com três
adolescentes e um cão em casa. Alfredo, o Chow Chow de dez anos, é
suficientemente educado para não riscar o pavimento (afagado, pintado de branco
com três demãos e rematado com três camadas de verniz cera para soalho) com as
suas patinhas atrevidas. “Gosto imenso dos objetos que me rodeiam. Alguns
acompanham-me ao longo dos anos e são detalhes que adoro. Há um material de que
gosto imenso para usar como revestimento: o vinil. Com ele, posso forrar
paredes, frigoríficos e até móveis. Comecei por usá-lo na Casa Decor, em 2005,
e tenho-o utilizado bastante desde então. O feltro é outro dos meus materiais
preferidos”, confidencia. Assim, fica explicada a razão pela qual, na sua casa,
até os suportes das bicicletas estão forrados a vinil!
A profusão de livros e telas levantou algumas questões de espaço. “Sou um bocadinho acumuladora e a família é toda viciada em livros [risos]. Por isso mesmo, tive de criar estantes onde fosse possível arrumar todos eles, seja na sala de estar, no escritório, nos quartos e até casas de banho. Com os quadros é igual. Distribuem-se por todas as divisões, inclusive nas casas de banho.” Ainda no que diz respeito à arrumação, todos os quartos têm closets ou roupeiros. Para as bijutarias e acessórios, Lígia desenhou uma cómoda com gavetas onde tudo está devidamente guardado. Aliás, arrumar tudo em gavetas é um dos seus hábitos, que aplica da cozinha à sala de jantar. A exceção, claro está, são os livros. Na cozinha dedica-lhes um ‘altar’. Trata-se de uma estante na qual os prumos laterais estão pintados à cor da parede de fundo, pelo que as prateleiras, forradas a papel de jornal, parecem suspensas.
Para a sua casa e demais projetos de interiores, Lígia colhe inspiração em viagens, filmes, livros e até na praia, o seu “carregador de baterias”. A Escandinávia e China são as principais fontes de influência, a primeira, pela essência, cor e forma; a segunda, pela cultura e religião.